— Normani, já falei pra não dizer isso. Eu estou indo trabalhar, apenas.

— Vocês são melhores amigas, eu só tô brincando. Ou não. — Comprimiu os lábios em uma expressão sapeca. — Eu não posso mentir, sempre achei essa amizade meio estranha.

— Eu desisto de você. — Rolou os olhos e passou a toalha, antes enrolada no pescoço, sobre a testa molhada de suor. — Não tem que trabalhar, vagabunda? — provocou, com cara de poucos amigos e apertou a garrafinha de squeeze contra a boca parando de pedalar.

— Sabe que estou no meu horário, nem vem, ainda posso te perturbar mais um pouco. — Piscou sorrindo, provocando de volta. Se amavam, eram muito amigas e o tempo só deixava aquela relação ainda mais estreita. Desde que ficaram presas juntas no elevador da faculdade sentiram uma conexão que nunca mais as deixou se separarem.

Uma hora depois, Lauren estava diante daquele portão de madeira bem feito com seu estado mental abalado. Desceu da bicicleta de uma só vez, queria acabar com aquilo, quanto mais cedo começasse, mais cedo acabaria. Tocou a campainha esperando que Camila atendesse e aquilo a trouxe uma lembrança.

Alguns anos antes.

Lauren quase prendia a respiração diante do grande portão de ferro da casa da família Cabello, era a primeira vez que visitaria a amiga pela qual, não sabia o porquê, mas seus pensamentos se voltavam para ela por mais vezes e mais tempo do que gostaria de admitir. Mexia no relógio que levava no pulso esquerdo e verificava constantemente de forma desnecessária que estava dentro do horário estipulado. O tempo se tornava seu maior inimigo quando estava com ela, sempre tão rápido, tão injusto, tão fugaz. E, mesmo que tivesse ido até lá para fazer um trabalho de inglês, desconfiava que o tempo seguiria as mesmas regras de sempre.

Foi quando ela abriu o portão, seus cabelos soltos raivosos como se tivesse acabado de acordar e seus olhos castanhos formavam a composição dos céus, o conjunto de coral dos anjos cantando "noite feliz" no natal. Para Lauren e seu adolescente coração, aquilo era peso demais para uma pessoa só carregar. Então Camila sorriu, clareando o ambiente, enchendo tudo de cor e bombeando o sangue que parecia ter sumido do corpo da morena.

Quão sufocante pode ser uma simples presença?

Lauren engoliu em seco devagar e sorriu de volta, cumprimentando-a como conseguiu, apenas um aceno, de longe, recatado, tímido. E Camila se limitou a imitar seu gesto, suas bochechas corando despercebidamente.

Dias atuais.

Agora Lauren era puro nervosismo naquela espera e parte de si torcia para que Camila tivesse, por algum milagre, esquecido aquele compromisso, saído de casa, ido para longe.

Foi quando o portão de madeira rangeu e por trás dele surgiu aquela forma feminina maravilhosa. Ela ainda era a visão celestial de anjos cantando no paraíso, com o cabelo amarrado em um coque mal feito e aquele sorriso capaz de deixar os raios solares parecerem uma simples vela solitária no escuro. O sorrir era tão contagiante que não pôde deixar de mostrar seus dentes também, um segundo antes de ser pega de surpresa por aqueles braços magros porém decididos em um abraço gostoso de bom dia.

O cumprimento havia mudado com o passar dos anos.

— Bom dia, Lolo!! Estou tão feliz que você está aqui! — expressou-se, ainda sem soltar-se um centímetro dos braços dela, certa de que não se importava com Lauren estar transpirando por ter ido até lá pedalando.

Aquela era uma das sensações mais etéreas que poderia sentir. Os braços latinos eram como seu lar, um ninho onde poderia repousar e crescer. Era como sentia, por isso aproveitou cada instante do abraço até o fim chegar e levar aquele encanto diretamente de volta ao rosto dela.

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