Capítulo 32 - Um homem raro

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ANNE E GILBERT

Anne dormia com a cabeça apoiada no peito de Gilbert, e o perfume dos cabelos dela era o aroma preferido dele. Quantas noites, no tempo que ficara sem ela, e principalmente nos últimos dias em sua viagem de negócios, ele sonhara com isso? Ele ainda não acreditava que tivera coragem de confessar a ela que a amava. Seu orgulho sempre fora seu maior empecilho para admitir qualquer tipo de emoção ou sentimento, mas de repente, ele percebera que tudo o que desejava era que ela soubesse, mesmo que o rejeitasse, e lhe jogasse na cara que o tipo de amor que ele sentia não lhe interessava.

Ela era tudo o que lhe importava. Seu título, seu trabalho, seu sucesso nos negócios, nada disso era importante. Desde que ela fora embora, Gilbert percebera como fora um tolo por acreditar que o amor nunca mais faria parte de sua vida, que ele estava imune a ele, pois depois que seu relacionamento com Winnie dera errado, ele prometera nunca mais deixar que seu coração fosse arrasado por tal sentimento novamente, mas Anne o derrubara com um só golpe, e o fizera entender que Winnie nunca fora a mulher de sua vida.

Na verdade, o que ele tivera foi seu orgulho ferido por ter sido trocado por outro homem, quando todos diziam que ele era o melhor partido da região. Sua soberba fora enorme, e sua arrogância maior ainda. Nenhuma mulher nunca lhe dissera não, ou sequer cogitara a ideia de lhe negar qualquer coisa, e quando Winnie o traíra, o Conde odiara a sensação de ser passado para trás, como se ninguém tivesse o direito de enganá-lo e devesse venerá-lo por ser quem era.

Entretanto, quando finalmente admtira que amava Anne, Gilbert descobriu que nunca se apaixonara de verdade antes. As outras mulheres foram apenas um passatempo, um alívio temporário para o tédio da vida boêmia que levava, e assim quando Anne aparecera, ele estava mais que pronto para se apaixonar de novo, mesmo que não tivesse percebido isso logo de cara. E era óbvio que não seria por qualquer mulher, e sim por uma especial, alguém cuja beleza e inocência se equivaliam no mesmo patamar, alguém que o colocara devidamente em seu lugar, alguém que lhe mostrara que não importava quem ele era, quantos séculos de tradição tinha seu título, quanto dinheiro ou poder ele tinha, porque nada disso corromperia uma alma tão nobre e tão acima da dele em todos os sentidos.

Anne se mexeu em meio ao seu sono, e Gilbert sorriu. Ele não dormira a noite inteira, pois não queria perder um minuto dela em seus braços e em sua cama. Quase não acreditava que ela aceitara passar a noite ali, e esperava tornar esse ato um hábito constante. O Conde a ajeitou melhor em seus braços, enquanto deixava um beijo suave em sua testa. Eles não tinham se tocado além do necessário, mas isso não era importante. Gilbert só a queria com ele do jeito que fosse e como ela quisesse.

Seus olhos castanhos se afastaram por um instante do rosto delicado, e se fixaram na janela que quase ficava ao lado da cama. O avermelhado no céu indicava que mais um dia estava nascendo, e logo o sol estaria brilhando com toda a sua força naquela manhã primavera. Era engraçado como nunca reparara nesses detalhes antes. Ele sempre acordava super focado nos inúmeros compromissos que tinha todos os dias, reuniões de negócios, telefonemas importantes, a alta da bolsa de valores, o índice de venda dos seus vinhos no mercado internacional, e nunca tivera tempo ou interesse para observar as belezas ao seu redor.

Talvez estar apaixonado fosse isso. Aprender a prestar atenção a detalhes que antes lhe passavam despercebidos, entender que a vida era feita de momentos como esse em que tinha a mulher que amava nos braços, e que todo resto era apenas um complemento de tudo o que realmente era essencial para ser feliz.

De repente, ele se sentia um adolescente de novo, cheio de sonhos, vitalidade e entusiasmo, e o peso das responsabilidades que tornavam seus dias monótonos e exaustivos diminuíram incrivelmente, somente porque conhecera uma garota que tinha o poder de transformar o cinza de sua vida em um colorido sem igual. Anne era tão jovem, dezoito anos apenas e já seria mãe de um filho dele, mas ele não desejava que nada fosse diferente porque era com ela que queria viver tudo aquilo. A diferença de idade entre eles não fazia diferença, pois dentro de seu coração ambos eram iguais, e seu amor por ela era atemporal.

Passion and Desire- Anne with an eWhere stories live. Discover now