Capítulo 22- Um novo ciclo

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Olá, pessoal. O capítulo para variar ficou enorme. Espero que a leitura seja agradável e que vocês se animem em deixar seus comentários e votos. Beijos. Ps: Eu sei que já coloquei essa música em outros capítulos, mas achei que ela era perfeita para esse, e por isso a coloquei novamente.

ANNE E GILBERT

Ainda chovia. Depois de dois dias que Anne havia descoberto a verdade sobre sua origem, o céu parecia compartilhar de sua tristeza, e a brindava com suas lágrimas divinas, vindo diretamente do paraíso para beijar o vidro de sua janela como um consolo para sua solidão. Ela sequer conseguia se olhar no espelho, porque de repente sentia que aqueles olhos azuis que a fitavam em seu reflexo lhe eram completamente estranhos. Como encarar um rosto sem nome que mal sabia de que maneira fora gerada? Era uma agonia pensar que seu pai poderia ser qualquer um, e que seu DNA não tinha uma fonte segura, ou que poderia pertencer a qualquer grupo sanguíneo do mundo lá fora. Quem fora até ali parecia que não importava, uma vez que ela era uma fraude, uma mentira criada por pessoas que a fizeram se sentir a vida toda inapropriada indigna de amor, e agora ela entendia porque. Eles se ressentiam em ter entre eles uma filha bastarda, uma garota cuja mãe vivera sua vida livremente em todos os sentidos, uma mulher que pouco se importara em qual cama se deitava e com quem.

Infelizmente, as consequências dos atos impensados de sua mãe pesaram em Anne, pois a mulher que a concebera não vivera tempo suficiente para ver como sua filha fora tratada, jogada em um convento onde fora criada com todas as regras de conduta perfeita, mas com muito pouco amor. E fora desse sentimento do qual sentira mais falta, não ter um abraço ou um beijo carinhoso antes de dormir, ou um colo materno ou paterno para deitar sua cabeça quando o mundo parecia difícil demais para se lidar. Só ela sabia como fora solitária sua vida naquele tempo, e como desejara que alguém se importasse o suficiente com ela para lhe fazer uma visita, ou lhe enviar uma carta lhe dizendo o quanto era especial, porém isso não acontecera.

E se pensasse bem, as coisas não eram tão diferentes agora, pois continuava sozinha, talvez até mais do que antes, porque naquela época ainda acreditava que tinha uma família, e agora descobrira que não tinha ninguém,estava sozinha para enfrentar o que viesse e esse pensamento de alguma forma era terrivelmente assustador.

De repente, o rosto de Gilbert surgiu em sua mente, e seu coração falhou uma batida ao pensar que seu tempo com ele tinha acabado. Eles ainda não tinham voltado para casa, porque o Conde fora sensível o bastante para dar-lhe alguns dias para se recuperar do baque que fora encontrar seu suposto irmão, e ouvir dele verdades que a magoaram profundamente, e que a fizeram compreender o porque de tanto desprezo e descaso de sua família em relação a ela.

Anne não tivera culpa de nada, mas, pagara por tudo. Fora condenada pelos pecados da mãe, e depois pelos de seu irmão postiço, e eram coisas demais para que ela as suportasse em seus braços tão frágeis, pois ninguém tivera piedade dela, nem seu suposto pai que despejara sua ira sobre uma criança inocente, e nem o Conde que a usara como um trunfo para dar cabo de sua vingança. Ela estava exausta das pessoas olharem para ela como se não tivesse sentimentos, pois ninguém se preocupara em saber em como tudo aquilo a afetaria, e ali dentro dela havia um buraco enorme que não conseguia preencher.

Um sorriso amargurado surgiu em seus lábios enquanto Anne observava a chuva caindo de sua janela. Ela se apaixonara tão totalmente pelo homem que a colocara naquela situação, e ao invés de odiá-lo, estava ali sofrendo de amor. Ao mesmo tempo tinha que admitir que se não fosse por ele teria sido jogada em um casamento sem amor contra sua vontade, e nem saberia que toda a sua vida fora uma montagem e longe da realidade que ela imaginara.

Pelo menos agora estava livre daquele sentimento decepcionante de não ser o que seu pai desejava que ela fosse, daquela necessidade de fazer tudo certo para que ele a aceitasse em sua família quando deixasse o convento. Não tinha mais nenhum compromisso filial com ele, assim como não tinha compromisso nenhum nem mesmo com o Conde. Ela lhe dera o que ele quisera, sua virgindade, e a oportunidade única de destruir os Andrews como ele tanto almejara. O jogo tinha acabado para os dois, e agora não sobrara nada nem mesmo pelo que se lamentar.

Passion and Desire- Anne with an eWhere stories live. Discover now