Capítulo 16

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Capítulo 16

Verdades ocultas

Heitor chega ansioso para ver Madre Lúcia. Ele entra em silêncio no quarto onde ela está descansando, e com bastante cautela, se senta na borda da cama.

— Você daria um bom espião. —  Madre Lúcia comenta, abrindo os olhos. — Mal percebi sua presença no quarto.

— Misty disse que você estava dormindo e eu não queria atrapalhar seu descanso.

— Eu não estava dormindo de verdade. Foi o único jeito que encontrei de convencê-la a me deixar para se cuidar um pouco.

— Ela ama muito você. Sabe disso, não sabe? — Heitor continua falando, mas a freira não está mais ouvindo ...

Madre Lúcia sempre foi muito boa em ler pessoas, do tipo que não erra em suas suposições. Mas desta vez, ela espera de verdade, estar errada.

Ela se lembra bem quando padre Orlando ia no convento para as freiras se confessarem, e junto com ele sempre estava Heitor. Por ser tio do rapaz, padre Orlando estava o ajudando na vocação. Entretanto, houve um dia em que o padre chegou bastante chateado ao convento. Madre Lúcia estava cuidando de alguns assuntos no escritório e percebeu a tensão clara nas feições dele.

— Parece preocupado padre Orlando.

— Ela comentou.

— Não tenho filho, madre, mas considerava Heitor como se fosse e agora, sinto um vazio enorme no peito. — disse o padre, se sentando em uma cadeira, de frente para a mesa onde a madre estava trabalhando.

— Mas por que está falando assim? O Heitor está bem? — Madre Lúcia perguntou, preocupada.

— Ele se afastou de mim. Somos de uma família extremamente devota, e por isso, meu sobrinho optou pelo sacerdócio. É quase uma tradição. Mas o pai de Heitor é... digamos, extremista no quesito devoção. Eu tentei evitar que meu irmão fizesse lavagem cerebral em meu sobrinho, mas não tive êxito. Me sinto péssimo.

— Seu irmao é padre e pai do Heitor? — Madre Lúcia pergunta espantada e ao mesmo tempo,  querendo entender melhor as coisa para poder ajudar o padre Orlando.

— A mãe do meu sobrinho morreu quando ele era pequeno. Meu irmão mudou, desde então. Ele sumiu por meses, e quando voltou, não parecia mais o mesmo. — O padre respirou fundo, com o olhar perdido em algum ponto do passado,  buscando pelas palavras certas.

— Se não se sentir bem em falar sobre isso, não fale. Mas se abrir pode ser libertador.

— O mais estranho, é que ele se tornou padre, alguns anos depois. Um padre Jesuíta. Não demorou e ele começou a colocar coisas estranhas na cabeça do meu sobrinho, e por isso, tentei guiá-lo de forma leve para o caminho do sacerdócio que ele havia escolhido.

— Eu sou testemunha do quanto ajudou Heitor, por isso, ainda não compreendo aonde quer chegar.

— Digamos que meu irmão conseguiu enfiar sua própria doutrina na cabeça do filho, e eu tentei de verdade evitar que meu sobrinho fosse pelo mesmo caminho do pai,  mas acho que não consegui. Espero estar enganado. —
Padre Orlando não voltou a falar nesse assunto e Madre Lúcia, apesar de já saber sobre os lobos e a Sociedade da Lua Sangrenta,  não associou a história do padre a nada. Até agora...

— Madre, está me ouvindo? — Heitor chama, tirando a freira de suas lembranças.

— Estou sim, apenas tive alguns flashs de memórias perdidas.

— Bem, agora que vi que a senhora está bem, fico mais tranquilo. Vou deixá-la descansar e volto depois.

— Espere. Quero conversar algo importante. — puxando o ar com força, Madr Lúcia cria coragem para falar.
— Você nunca comentou sobre sua formação. Sei que está prestes a se tornar padre, me fale um pouco sobre isso. Como se sente? —Madre Lúcia começa a sondar.

LUA DE SANGUEWhere stories live. Discover now