for sale

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— Quem é você? — pergunto quando chego da escola e vejo um homem, que nunca vi na vida, medindo a porta de entrada da minha casa.

— Eu sou o agrimensor — ele responde sem desviar a atenção do que está fazendo.

— Oh — é tudo que digo e então entro em casa. Penso mesmo em seguir para o meu quarto sem parar e falar com meus pais, que estão na sala, mas eles me veem - e eu não consigo não revirar os olhos com isso - e me chamam até onde eles estão.

Eu me aproximo realmente cansada, não quero conversar, não quero saber nada.

Só quero subir e terminar de escrever as coisas que tenho pra escrever.

— Você viu o homem ali na frente? — minha mãe pergunta.

— Sim — respondo. 

— Ele trabalha para a companhia imobiliária — meu pai diz — Nós estamos avaliando a casa.

— Nós vamos vender a casa? — pergunto.

— Não, não é vender — minha mãe diz, e nesse ponto eu sei que ela só está tentando passar o que vai acontecer de uma maneira menos pior.

Só que não tem como.

— Nós estamos avaliando a casa — meu pai explica — Talvez seja bom vender ela, diminuir o tamanho da moradia, ir pra um lugar menor, diminuir os gastos.

— Você e ela vão se separar? — eu pergunto e foco o olhar em meu pai.

Mas não é ele que responde, e sim minha mãe, e nem é uma resposta mesmo.

— O que é isso de "você e ela"?  O que aconteceu com "mãe e pai'?. "Como foi o seu dia mãe?" ou "Você parece estressada, mãe?" ou "Eu te amo, mãe" — ela diz e eu vejo que minha mãe está há alguns poucos passos de chorar. E realmente me surpreendo com isso — O que tem de errado com vocês, crianças, que não chamam mais a mãe de mãe? O Jesse é a mesma coisa.

— O que tem de errado? — eu pergunto de maneira retórica e deixo uma risada sem ânimo escapar — Tem muita coisa errada. Nós somos lunáticos que mal saem do quarto, e eu uma idiota que mal consigo me defender na escola. Com pais que não conseguem parar de brigar por vinte minutos. Nós estamos longe da normalidade — eu digo, e sei que aumentei um pouco o tom na última frase.

— Não aumente o tom, S/n! — meu pai diz — Temos pessoas na casa.

Ele diz, e antes que eu possa falar qualquer coisa, vejo dois caras ajeitando um sinal de "vende-se" bem em frente a casa, através da janela. Suspiro irritada e aponto para o sinal.

— Olha! Que estranho. Um sinal de "vende-se" — digo totalmente irônica.

— Nós estamos testando o mercado — minha mãe fala, e eu sei que não é isso, mas já estou irritada demais pra dizer qualquer coisa a mais. Por isso apenas reviro os olhos e faço meu caminho para o andar de cima, sem esperar que meus pais digam mais nada.

Ainda sim consigo ouvir meu pai gritar "Nós não terminamos essa conversa".

No dia seguinte eu estou na sala de artes.

Na classe da Mrs. Paulson. 

Talvez a única pessoa que preste nessa escola - além de mim e da minha banda, claro.

— Como está a sua banda? — ela pergunta quando se senta atrás da mesa.

Eu desvio meu olhar para ela e respondo: — Bem — dou de ombros.

— E quando vocês vão tocar?

— Nós vamos tocar no end of term disco — eu digo — Mas precisamos ensaiar e a mãe do Dominic não quer que nós façamos isso mais na casa dela.

Isso aconteceu dias atrás.

Aparentemente o vizinho de Dominic quase morreu por complicações no coração e a família inteira dele estava ali agora. Um dos filhos começou a reclamar do barulho da banda e o resto é história - Mas sendo sincera, e resumindo tudo, a mãe de Dominic nos chutou da casa dela. Então sem mais ensaios.

— Vocês podem usar minha sala — Mrs. Paulson diz — Mas eu preciso ver se vocês são realmente bons — ela brinca e eu sorrio de leve.

— Isso seria ótimo — digo — Muito obrigada!

— Não é nada demais — ela diz —Vocês parecem fazer algo legal e a gente tem que incentivar isso. 

Algumas horas depois eu estou em uma sala maior, muito maior. E o restante da banda está aqui também. 

Mas não estamos sentados juntos.

Muito porque é hora dos testes, os mesmos que eu não estudei pois estava muito ocupada.

Quando recebo as folhas com as perguntas, eu não preciso olhar pra saber que não sei nada. Por isso, lá pela metade do tempo, eu já desisti. Estou com as folhas viradas para a parte em branco e anoto algumas letras aleatórias, que talvez sirvam de alguma coisa.

"My future looking bleak. My head filled with sound"

New Estate • Bella HadidWhere stories live. Discover now