public forgiveness

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Eu saio de casa atrasada com o Billy Joel gritando nos fones do meu ouvido que "Nós não começamos o fogo, ele esteve sempre queimando desde que o mundo vem girando" mas nem isso me anima.

Meus vans pretos estavam sujos então calcei os tênis brancos, esperando que o irmão Baxter não me visse naquele dia.

Mas claro que ele me viu.

Eu chego na escola e o primeiro olhar que encontro é o dele. Baxter apenas balança a cabeça e aponta na direção da sala dele, no andar superior. Eu tento fingir que estou bem e calma mas não sei se consigo.

Baxter senta atrás da mesa dele assim que chegamos no escritório. Há muito pouco espaço ali, e não tem muita coisa no lugar, quase nada além de uma estátua da virgem maria.

Eu permaneço em silêncio e continuo de pé, em frente a mesa.

— O que aconteceu? — ele pergunta.

— Com meus sapatos? — Baxter balança a cabeça, indicando que sim, ele estava falando dos sapatos — Bem, eu saí de casa atrasada e eu não queria perder a primeira aula e aí o par de tênis pretos estavam sujos e, e... Foi isso.

— Você deveria ter mais cuidado, prestar mais atenção e manter o par de sapatos pretos limpos.

— É, eu sei, mas não é como se um dia fosse fazer diferença, né? — tento manter um tom calmo e pacífico, não quero problemas.

— Um dia faz diferença — Baxter diz — Tire os tênis.

— O que? — eu o encaro sem acreditar.

— Você precisa entender que temos regras. Tire os sapatos e venha os buscar no fim do dia — é tudo que ele diz e eu continuo olhando sem acreditar que isso está acontecendo, mas não tem muito o que fazer, então tiro os tênis e saio da sala apenas de meias.

Claro que todos reparam, e no caminho até a sala a falta de sapatos nos meus pés é tudo que os outros alunos falam.

Minha primeira aula é artes, então eu me sento na sala, bem na primeira fileira e tento não chamar atenção. Já estou cheia do dia e ele nem começou.

Uma mulher com seus quarenta anos de idade entra na sala minutos depois do sinal tocar. Ela tem um sotaque comum de Dublin, os cabelos claros e um estilo meio hippie. A vela aromática na mesa e as flores mortas no jarro acrescentam a imagem Hippie dela. Ela se apresenta como Miss Paulson e se coloca na frente da sala.

— Certo, a maioria de vocês escolheu essa classe porque aparentemente é muito mais fácil que desenho mecânico, né? — ela pergunta e eu vejo que quase todo mundo acena positivamente — E vocês acham que aqui vai ser só vocês desenhando e escrevendo enquanto tem um tempo longe do mundo? — novamente as pessoas acenam positivamente — Bem, vocês não estão errados — ela diz e eu a encaro um pouco confusa, não esperando aquilo — Arte tem que ser sim essa pausa do resto do mundo, algo que te tire de tudo. Não tem que ser trabalhoso e chato e entediante, tem que ser tipo uma... Terapia. Mas não pensem que vocês não vão aprender algo aqui comigo. Eu vou mostrar coisas importantes, ok?  Então quando vocês estiverem em um encontro com alguém no museu nacional vocês vão poder olhar para as pinturas e dizer coisas interessantes sobre, ok? — algumas pessoas acenam em concordância.

— Eu te levaria em um encontro no Museu Nacional a qualquer hora — Mick, um dos garotos do fundo, comenta.

— Oh, obrigado, Michael, mas eu já tenho uma esposa — ela sorri de leve, e eu sei que é apenas por educação porque o sorriso mal chega aos olhos dela.

Miss Paulson se aproxima da mesa, e quando ela se inclina para pegar os óculos de grau que estão ali, o olhar dela cai nos meus pés.

— O que aconteceu?

— Ah — encaro meus pés cobertos por apenas uma meia e então volto a atenção para a professora — Meu sapatos pretos estavam sujos, então eu vim com os brancos mas o Baxter não me deixou entrar com eles, então agora eu estou só de meia e preciso buscar meus tênis na sala dele no fim do dia.

Miss Paulson não diz nada, parecendo nem um pouco surpresa com aquilo, e volta a atenção ao que estava fazendo inicialmente.

O dia passa rápido e quando vejo já estou voltando para casa sem ter colocado em prática minha conversa com Jesse a respeito de James.

Mas não me importo tanto.

No dia seguinte eu acordo irritada, apenas por pensar em encontrar Baxter, e admito que num impulso de raiva, quando encaro meus dois Vans - o amarelo e o completamente preto - é o amarelo que eu puxo, o calçando. Ele já está velho mas a cor amarela ainda é chamativa, e eu pouco me importo com isso.

Baxter me para assim que me vê e mais uma vez eu estou apenas de meia andando pela escola.

Mas são meias com vários Patrick's Estrela desenhados, então pelo menos hoje estou um pouco mais contente do que ontem.

Na hora do primeiro intervalo eu procuro James, querendo falar sobre o que Jesse tinha me dito na terça-feira e a encontro na cantina.

Eu estou em um momento em que me importo já com pouquíssimas coisas - alguns dias na escola e já me sinto outra pessoa - então me aproximo e digo, para que todos ouçam: — Hey! Eu sei que você está sofrendo. Tem todo um conflito dentro de você, seu consigo mesma, e tudo bem. Não é fácil lidar com essas coisas, ainda mais nessa escola. Você me humilhou publicamente, e agora eu te perdoo publicamente, James Folk.

New Estate • Bella HadidWhere stories live. Discover now