24. Como pode o amor ser feio?

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• Hanna •

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• Hanna •

Espirrei pelo menos umas dez vezes no carro a caminho de casa. O tempo estava mudando de novo e eu estava prestes a adoecer. Estava fazendo bem mais frio em Bristol do que em Brighton, e fiquei feliz por ter trazido um casaco a mais. Na verdade, feliz é uma palavra muito forte, pois ainda estou presa no poço em que Elizabeth cavou para mim essa semana, então aliviada seria a palavra mais correta agora.

É escuro aqui, amedrontador. Nunca me senti dessa forma, nem nos meus piores momentos. Nem no dia da minha briga descomunal com Olívia, ou quando Aster terminou comigo, ou quando tive meu primeiro ataque de pânico. Desta vez, não estou nervosa, ou tremendo, ou com ansiedade. Estou definhando no escuro, sem noção dos dias passando, sem receber visitas. Restamos apenas eu e o meu ferido e confuso coração.

É quase impossível pensar o que cinco meses conseguiram fazer comigo. Como uma maldita gangorra. Pensar que no começo eu só queria distância dela e agora eu só queria que ela voltasse e me explicasse que porra tinha acontecido. Ou que ao menos ligasse, ou no mínimo, atendesse as minhas ligações.

– Todo mundo está de volta à cidade nesse feriado – Benji está dizendo – E Harry Davies vai dar uma festa.

– O atacante da St Mary?

– O bom filho à casa torna – Ele dá de ombros.

– Não sei se estou a fim – Volto minha atenção para a paisagem na janela.

– Nós vamos – Bruna responde por mim depois de me dar uma boa olhada, preocupada que eu posso me enfiar na cama durante o feriado inteiro. Ela não está totalmente errada. Quero me esconder até esse pesadelo acabar.

Já são três dias de silêncio absoluto. Me acostumei tanto a falar com ela o tempo todo que é como se algo essencial faltasse no meu dia, como acordar.

Meu pai me disse uma vez que a forma como uma pessoa responde ao silêncio revela muito sobre ela. Sempre achei que ele estivesse viajando, porque meu pai tem o hábito de inventar frases bonitas e insistir que elas carregam muita sabedoria, quando metade do tempo sei que está só de palhaçada. Mas, agora, acho que consigo ver a verdade das suas palavras. Quando penso em Elizabeth, e sua total falta de empatia comigo, percebi que são mesmo incrivelmente reveladores.

O encontro na cozinha quando chegamos, sentado no balcão com um livro nas mãos, esperando o que quer que tenha no forno, apitar. Ele abre um grande sorriso e corre para me abraçar, e encher meu rosto de beijos.

– Cadê a sua namorada?

– Ela não... – Pigarreio – Ela não pode vir. Mas como sei que você faria bastante comida extra eu trouxe a minha melhor amiga.

– Deixa só a Olívia ouvir que... oi! – Ele nota Bruna entrando na cozinha – Você deve ser a melhor amiga.

Eu solto uma risada quando ele arqueia as sobrancelhas pra mim ao abraçá-la.

Até que te encontrei (Romance Sáfico)Where stories live. Discover now