Undici

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Encarava meu reflexo através do espelho.
Nada tão diferente do que costumava ser, assim que voltei pra casa, cerca de uma semana atrás, fui até a barbearia ajeitar a barba e também meus cabelos. Finalizava os últimos botões do blazer do terno que vestia e respirei profundamente.

Don Fontana estava de volta... mas diferente de quando tinha partido.

Olhei para a caixa com o anzol que a família de Olívia havia me dado e abri um sorriso, caminhando até a cômoda e pegando a embalagem. Fiquei encarando aquela peça pequena por alguns segundos e mal notei quando bateram na porta:

- Buongiorno, Filippo. Podemos conversar? - Catarina reluzia uma energia incrível como sempre e seu sorriso manteve o meu.

- Claro, bambina. Entre, por favor.

Os olhos dela encontraram curiosos o que eu tinha em mãos e conforme me aproximava, Catarina virou a cabeça meio de lado, dando um sorriso travesso:

- Presente dos pescadores?

- Sim. - Minha mente me levou de volta para aquele dia - É o anzol da minha primeira pesca. Tenho certeza que iria adorá-los, Cat. São seres humanos maravilhosos.

Ela ergueu ambas as mãos para ajeitar o nó de minha gravata:

- São maravilhosos e salvaram meu irmão que é igualmente maravilhoso. - Quando semicerrou os olhos, sabia que me jogaria alguma bomba - Mas você não parece tão feliz. O que aconteceu lá?

- Não aconteceu nada.

- Filippo, você está quieto. Eu te conheço e você é a pessoa que mais gosta de falar no mundo todo. - Cataria revirou os olhos e notei que aquilo foi uma reclamação - Marcou sua primeira grande reunião em casa, sendo que você geralmente as marca em suas boates... Tá pensativo desde que chegou e agora estava parado aí encarando essa caixinha, como se estivesse mergulhado dentro dela.

- Dio, não fale sobre mergulho depois de eu quase ter morrido afogado. - Soltei uma risada a provocando e me afastei, colocando a lembrança de volta no lugar. - Você tem razão, amore mio. Fiquei muito tempo parado aqui e tenho uma reunião para cuidar. Nos falamos depois.

- É uma mulher, não é?

Catarina pareceu animada e não eu soube descrever muito bem minha expressão, mas pela forma com que ela arregalou os olhos, provavelmente eu tinha me denunciado. Dei de ombros, continuando a caminhar rumo à porta de meu quarto, que parecia até longe demais hoje e ela continuou:

- Ela é bonita? É da família que te salvou?!

- Ciao, Catarina.

Desci as escadarias rumo a sala de reuniões e respirei fundo, cumprimentando alguns de meus homens já parados próximos a porta de entrada do local. Sempre me sentia nervoso antes de adentrar ali, e por mais que já comandasse a família há mais de dois anos, sempre me lembraria do fatídico dia no qual causei um princípio de infarto em meu pai.

A sala já estava cheia, com meu conselheiro ao lado de Alberto, que continuava sendo o melhor sub-chefe que a minha família poderia ter. Salvatore era quem estava atuando como capo e Mauro era seu subordinado, cuidando dele como seu segurança. Meu pai também estava na reunião, faria questão de participar naquele dia e no restante das cadeiras, todos os nossos associados e políticos locais faziam presença para meu retorno.

Eles se levantaram quando entrei e abri um sorriso, agradecendo aquele carinho. Caminhei pela local, sempre admirando o quadro de minha mãe que mandei pintar assim que assumi meu primeiro cargo na família. Ele costumava ficar na sala ao lado da que agora me pertencia, mas depois que me tornei Don, além daquela pintura, acabei reformando o cômodo inteiro para que ficasse de acordo com meu gosto, a tornando mais arejada.

Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora