Nove

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Olívia Valente

A sexta-feira estava fluindo bem e contava os minutos para sábado. O luau aconteceria de novo e o ferimento de Filippo estava praticamente fechado. Isso significava que poderíamos dançar a noite toda e aproveitarmos a companhia um do outro. Não existia coisa melhor do que vê-lo feliz e se movimentando sem gemer de dor. Claro que meu pai abusava um pouco disso e vez ou outra, o convidava para ajudá-lo na pesca. Mas ele não reclamava, na verdade, acordava antes das cinco sem precisar que eu o chamasse.

Minha bolsa de entregas estava praticamente vazia e mantinha um sorriso no rosto, por ter um dia tão agradável. O sol brilhava forte no céu azul e a temperatura não parecia nem perto de abaixar. Eram quase quatro da tarde e pelo calor que formigava em minha pele, parecia que ainda era meio dia.

- Olívia! - Um menino de cerca de doze anos de idade correu em minha direção e deu um sorriso leve. - Tudo bem? Me chamo Paolo, sou filho de Ricardo.

Ricardo era o homem que estava no hospital por ter ferido uma das mãos nas hélices do motor do barco que levaria Filippo para casa. Franzi a testa, ansiosa e confusa por ele ter me parado, mas dei de ombros e retribuí seu sorriso:

- Ciao, aconteceu alguma coisa?

- Papa já saiu do hospital e está repousando em casa. Mas pediu para avisar que o irmão dele assumirá o barco até que ele fique bem. - O menino passou a mão nos próprios cabelos - Amanhã mesmo levará algumas pessoas pra Nápoles, só para não atrasar os da próxima segunda-feira. Seu amigo pode ir, se estiver pronto.

Nunca pensei que escutar aquela frase me deixaria mais triste do que feliz. Filippo teria de ir embora... amanhã? Apertei os dedos na alça de minha bolsa e afirmei com a cabeça, minha voz quase não saindo de minha boca:

- Grazie. Avisarei a ele.

Fiquei ali parada por um bom tempo, só absorvendo aquela informação, sabendo que não tinha direito algum de pedir para que Filippo ficasse até segunda-feira. Mesmo sentindo lá no fundo, que não teria estrutura nenhuma de vê-lo partir. Engoli em seco, tentando desfazer o nó que se formou em minha garganta e caminhei em passos rápidos para voltar pra casa.

Filippo estava brincando com Antônio de futebol e parecia ser bom no que fazia, abri um sorriso ao assisti-los, mas a sensação de falta encheu meus olhos de lágrimas. Respirei fundo, buscando alguma forma de controlar minhas emoções e me aproximei deles:

- Olhe só pra você, nem parece que levou um tiro. - Esperava que ele não notasse o tremor em minha voz.

- Sou quase como Maradona quando estou 100%, senhorita. - Filippo se virou, dando um sorriso metido e em seguida deu de ombros - Sem todos os problemas pessoais que ele tinha, é claro.

- Precisamos conversar...

Ele franziu a testa meio confuso, mas assentiu em seguida. Então chutou a bola de futebol de volta a Antônio e disse que depois terminaria a partida com ele. Seguimos para a varanda de minha casa e me sentei nos degraus, sem saber como começar a falar, sem ter coragem pra dizer, na verdade.

- Você parece tensa. - Filippo se juntou a mim, sentando-se ao meu lado e tomando minha mão com carinho - Dario te encontrou?

- Não... Não tem nada a ver com Dario. - Baixei o olhar sem graça, me sentindo uma tremenda egoísta - O barco parte amanhã.

Mais que Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IIDove le storie prendono vita. Scoprilo ora