Capítulo 6

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            Os barulhos dos tiros no apartamento de Will e a falta de energia criaram pânico nos moradores daquele edifício. Um dos residentes conseguiu alcançar um posto policial próximo, na área não afetada pelo pulso eletromagnético, e informou o ocorrido ao comando da polícia, que imediatamente deslocou viaturas para o local.

            O diretor estava preparado para qualquer situação. As informações da polícia carioca foram capitadas pela central de operações da NSA, instalada no enorme avião C-17 Globemaster, estacionado no Aeroporto do Galeão. Sabendo que o entorno logo estaria cheio de policiais, ordenou que alguns soldados levassem Will Baker para a aeronave, enquanto outro grupo de soldados deveria cumprir uma última tarefa no apartamento invadido.

                                                           ***

            Minutos depois, Elisa voltava do cinema e ficou surpresa com a escuridão. A surpresa se transformou em preocupação quando ela avistou as luzes das viaturas policiais em frente ao seu prédio. Tão logo chegou ao portão, foi avisada que ele não funcionava e, portanto, não poderia entrar com o veículo da sua mãe. Era a única da turma que já havia completado dezoito anos e possuía habilitação. Resolveu estacionar ali próximo. Já era tarde e no outro dia acordaria cedo para ir ao colégio. Queria apenas chegar até seu quarto. Mas isso não foi possível.

            Ao retornar para o portão, foi impedida de entrar novamente. Segundo o homem alto e de terno preto que guardava a entrada, as pessoas não podiam entrar nem sair, ao menos por enquanto.

            Como eu não posso entrar na minha própria casa? Onde está o porteiro do meu prédio? E quem são vocês para me dizerem o que fazer?

            O grandão não lhe deu mais informações. Irritada, Elisa afastou-se do local.

                                                           ***

            Quando o delegado Paulo Torres e o inspetor José Silveira chegaram ao prédio das denúncias, não se surpreendeu com a quantidade de policiais militares que já cercavam o local. A entrada e os arredores agora podiam ser vistos pelos faróis e highlights vermelhos das viaturas. E, com exceção de alguns fachos de lanternas, que perambulavam por ali, o restante era todo escuridão.

            O vento soprava mais calmo do mar e a tempestade já se dissipava acima deles, indo em direção ao norte.

            Paulo Torres estava em plantão e tinha que cumprir sua função. Mas isso não precisava demorar a noite toda. Ele não pretendia alongar-se. Bastava uma entrada rápida, preservação do local, verificação de algumas provas, colheita de dados de possíveis testemunhas e pronto, de volta pra casa.

            Segundo as primeiras informações, não haviam vítimas fatais, então, também não havia nada que não pudesse esperar até a manhã do dia seguinte.

            Mas tudo mudou quando ele chegou ao portão do edifício.

            — Por favor, precisamos entrar.

            — O senhor não está autorizado a entrar – disse Thompson, com evidente sotaque, do outro lado da grade.

            — Polícia civil – falou o delegado mostrando a identificação.

            — Desculpe, senhor. Não pode entrar.

            — Como é que é! Você está preso por obstrução da justiça – disse Torres, afastando-se e levando a mão direita à pistola. O inspetor fez o mesmo.

            Nesse momento um homem negro, bem vestido com um terno cinza, se aproximou deles.

            — O que está acontecendo, Thompson — disse Ed Smith, em inglês, e o delegado não entendeu.

            — Polícia... Delegado – respondeu na mesma língua, indicando com a cabeça os homens a sua frente.

            — Faça a ligação – ordenou o diretor ao agente e imediatamente interviu na situação, dirigindo-se ao delegado em português. — Senhor, estamos diante de uma missão confidencial. É extremamente necessário que o senhor entenda que ainda não pode subir. Há cidadãos americanos envolvidos com os quais temos responsabilidades. Seu governo está a par de tudo o que estamos fazendo.

            — Como assim? Eu não fui informado de nada. Vou subir e se tentar me impedir será preso, assim com ao seu amiguinho. E se a cena do crime foi alterada... responderão por isso também.

            — Delegado, precisa entender. É crucial que o senhor aguarde um instante. Já cuidamos para que a cena do crime fosse preservada. Mas se subir agora, poderá colocar em risco toda a nossa operação, e ela está intimamente ligada ao bem-estar do seu país.

            — Ei, gringo. Eu não sei como funciona no seu país, mas aqui é o Brasil. E aqui você não tem jurisdição alguma.

            O delegado acreditou ver dois homens fardados e armados, com o que parecia fuzis, aguardando mais ao fundo. Aquela situação realmente era um problema. Olhou ao redor e viu as viaturas da polícia militar, seus soldados e oficiais. Por um instante pensou em pedir a ajuda deles, mas no outro, descartou essa possibilidade. Por causa da rixa entre as polícias civis e militares, que já durava anos, certamente não conseguiria apoio.

            Sua paciência estava acabando e aqueles dois estrangeiros insistiam em impedir sua entrada. Quando tomou a decisão de entrar ali a todo custo, seu celular tocou.

            — Torres falando.

            — Que droga Paulo, o que está acontecendo aí? – quis saber o superior do delegado. — Falei com o governador agora mesmo. Ele acabou de receber uma ligação do Ministro da Justiça dizendo que você estava impedindo alguns agentes diplomáticos americanos de realizarem seu trabalho.

            — Diplomáticos? – estranhou Torres. — E desde quando agentes diplomáticos andam armados com fuzis.

            — Você os viu com fuzis?

            — Bem, está longe e muito escuro aqui. Mas pelas luzes dos carros pareciam fuzis.

            — Droga Paulo, era ou não fuzis? – quando o delegado olhou novamente para o local onde estavam os soldados, não havia mais ninguém lá.

            — Não tenho certeza, senhor.

            — Então, não atrapalhe os americanos. Você sabe que agentes diplomáticos tem permissão para usarem armas de pequeno porte. Se não há nenhuma acusação plausível contra eles, deixe que façam o que precisam. As ordens do governador foram bem claras, se a missão deles fracassar por nossa culpa... É a sua cabeça que vai rolar, não a minha – e antes que o delegado pudesse dizer alguma coisa, ele continuou. — E eu sei que tudo isso está fora do protocolo. Mas que droga, a ordem vem lá de cima e eu não vou contestá-la.

            Gringos filhos da mãe, pensou o delegado quando seu superior desligou.

            Guardou seu celular ao mesmo tempo em que fuzilava os estrangeiros com os olhos. Percebeu um leve sorriso na face do agente grandalhão. Mas sua função era obedecer ordens. Chamou o inspetor e ambos voltaram para a viatura onde aguardariam.

            Ed Smith, aliviado, virou-se para Thompson.

            — Suba e faça com que os soldados acabem tudo em cinco minutos.

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