- Capítulo 27 -

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-JOANA FLORES-

No dia seguinte, Gael, Isabel e eu acordamos cedo. Tomamos café da manhã juntos na cozinha, e fomos para o jardim.

O dia estava lindo. O sol estava esquentando, o ar era de primavera, mas a quentura era de verão.
Precisei de muita concentração nas minhas tarefas, pois na hora mais quente da manhã, Gael resolveu tirar a camisa e exibir seu maravilhoso peitoral trabalhado.

O ar quase me faltava quando eu o via carregar alguma coisa pesada flexionando seus bíceps e tríceps, deixando com que as gotas de suor escorressem pelas suas costas indo em direção a sua silhueta alongada vestida de uma calça jeans desbotada enquanto galochas de borracha protegiam seus pés, salientando ainda mais sua virilidade. Se ele usasse um chapéu de palha e um cinto de fivela redonda, seria um perfeito cowboy sexy de livros.

Terminei de plantar a última muda de orquídea, tirei meus joelhos da terra, bati as mãos que estavam protegidas com luvas para tirar a terra, limpei o suor da testa com o antebraço e mirei o jardim à minha frente.

Depois de muito trabalho, conseguimos restaurar o jardim. A grama seca foi substituída por gramas verdes, as plantas secas foram substituídas por mudas novas e as decorações foram espalhadas segundo as vontades da minha filha, que escolheu com cuidado onde seria colocado cada pavoroso anão de jardim.

— O trabalho terminou, mas não consigo ver diferença alguma. — Senti uma rápida baforada no pé da orelha.

Fechei os olhos controlando a ira, Gael sabia que eu odiava quando ele falava próximo do meu ouvido e eu sentia seu hálito quente tocar na minha orelha. Por Deus, eu sentia coisas proibidas!

Virei o corpo em sua direção e dei de cara com aqueles olhos azuis ferozes.

— Gael, isso aqui é um jardim, não vai ficar bonito da noite para o dia, é preciso dedicação, e na próxima estação quando tudo estiver florido, tenho certeza que você vai ficar satisfeito por ter investido seu tempo nisso.

— Tempo? — Ele murmurou. — Não foi apenas meu tempo que dediquei aqui, minha coluna também. — Dramaticamente ele colocou as mãos na lombar e inclinou seu corpo para trás.

Caminhei até o banco que ficava embaixo da estrutura onde plantamos novas trepadeiras e me sentei. Gael fez o mesmo. Se sentou ao meu lado e descansou o as costas no espaldar do banco.

Ele ficou em um silêncio por um tempo, e de repente começou a falar.

— Esse jardim vai ser a minha perdição.

Porque ele está falando isso?

Mirei seis olhos azuis que naquela manhã estavam em uma tonalidade mais clara, porém chamativa.

— O quê?

— Agora toda vez que eu olhar esse jardim vou me lembrar de você.

— Bem, quando eu for embora, você vai ter uma recordação minha — dei de ombros, eu sabia que minha presença ali não significava nada além de um capricho.

Seu semblante endureceu.

— Você não vai embora tão cedo, Joana.

— Mas é claro que vou. — Rebati.

— Eu não vou permitir que você vá embora com a menina e a leve novamente para aquele lugar horrível.

Senti meu corpo ficar tenso. Quem ele pensava que era para dar opiniões a respeito da minha vida?

— Ela é a minha filha! — Falei irritada. — E eu decido o que é o melhor para ela!

A cabeça dele se moveu em minha direção, seus olhos me fuzilaram com indignação.

— Você é uma mulher muito cabeça dura, sabia?

— Eu não dou a mínima para o que você pensa ao meu respeito. No artigo quinto, no primeiro parágrafo do contrato que você me deu, está escrito que eu posso ir embora assim que conseguir um emprego, e acredite em mim, eu vou conseguir.

Ele olhou para o nada, com o semblante duro e impassível, como no dia em que nos conhecemos. Senti frio na barriga, eu odiava quando ele aderia aquele olhar, era como se estivesse tramando alguma coisa, e na minha vida já bastava de surpresas ruins.

— Justo. — Ele disse seco.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, cada um perdido em seu mundo de complicações, até vemos Isabel sair da casa vindo correndo em nossa direção. Pedi que ela não corresse mais não adiantou nada. No meio do trajeto quando ela estava próxima, seus pés tropeçaram em uma pedra. Ela caiu com tudo no chão e começou a chorar.

Imediatamente Gael se levantou do banco e correu na direção da menina e a pegou no colo com tanto cuidado e carinho que me fez senti diante do nosso... protetor. Minha filha o abraçou e deitou a cabeça em seu ombro. Ele a embalou lentamente com o cuidado do qual seu semblante duro demonstrava não ter. Aos poucos o choro da minha filha foi cessando.

Me aproximei observando aquela cena com o coração apertado. A cada dia meu sonho de ir embora estava ficando mais distante, não só pela resistência de Gael, como pelo fato da minha filha estar se apegando a ele, e eu não tinha ideia de como tirar aquilo dela sem que ela ficasse magoada.

— Shhhh. Passou. Vamos para dentro comer alguma coisa gostosa? Que tal um sanduiche de peixe morto?

A menina tirou a cabeça de seu ombro e riu.

— Eca!

Ele riu também.

— Que tal... um sanduiche de meias chulezentas?

— Não!

— Então? o que vamos comer?

— A comida da Luz, príncipe!

Eles riram juntos como bons amigos.

— Antes de almoçar precisamos tomar banho — falei.

— Banho não, mamãe! — reclamou a menina.

Ele caminhou para dentro de casa com a menina no colo. Os acompanhei lutando contra meu teimoso coração que a cada dia desejava ter aquele homem por perto, pois de uma coisa eu tinha certeza, ele seria um ótimo pai para a minha filha.

Quando chegamos na sala, Gael colocou minha filha no chão, a manhosa nem lembrava que estava chorando, apenas correu em direção a cozinha gritando por Luz, que com toda certeza a tratava como uma neta — todos ali mimavam Isabel.

Me aproximei de Gael e disse:

— Você não é um homem mau, Gael.

Ele estreitou os olhos em minha direção, dos seus lábios saiu um sorriso satisfeito, mas sem dizer nada ele me deu as costas e subiu os degraus em direção ao seu quarto.

Ele estreitou os olhos em minha direção, dos seus lábios saiu um sorriso satisfeito, mas sem dizer nada ele me deu as costas e subiu os degraus em direção ao seu quarto

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