- Capítulo 19 -

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- JOANA FLORES -

Gael havia escorregado no pedaço de torta que eu havia jogado, ele se espatifou no chão batendo com a cabeça no piso da cozinha. Imediatamente meu coração começou a bater descompensado no peito.

Será que matei mesmo o homem?

— Gael? — Falei seu nome, mas ele não se movia ou respondia. — Gael? — Gritei começando a me sentir desesperada. — Ai, meu Deus! — Dei um passo de onde estava e vi suas pernas esticadas, e próximo do seu cotovelo havia uma poça de sangue.

— Aí, meu Deus! Gael! — Agarrei meus cabelos e corri para perto de seu corpo estirado no chão frio. — Gael! — Joguei meu corpo para perto do seu e o sacodi impaciente. — Meu Deus do céu eu matei uma pessoa.

Comecei a limpar as lágrimas, já imaginando meu nome sendo anunciado na televisão como principal mandante do crime.

Deitei a cabeça em cima do peito inchado dele, para ouvir as batidas do seu coração, e só então pude ouvir um... riso.

Espera aí, riso?

Gael estava com apenas um olho aberto fingindo-se de morto.

— Seu idiota! — dei um soco em seu esôfago e ele tossiu se sentando no chão. — Você me assustou!

Um sorriso sacana se abriu em seus lábios em meio aquela bagunça.

— Pensei que queria me ver morto.

— E eu queria... Quero dizer, só um pouquinho.

Ele riu novamente me olhando com uma doçura incomum.

— Seu braço, está sangrando — falei pegando em seu braço com delicadeza com a voz mais calma.

— Eu disse que você não aguentava ver sangue — provocou ele com aquele sorriso debochado que eu odiava. — Acho que cortei com o caco da taça que você atirou em mim — o tom de Gael era tranquilo e calmo para quem tinha acabado de ser atacado por uma mulher selvagem, como dizia ele.

— Aonde tem equipamentos de primeiros socorros?

Ele apontou para o lavabo que ficava próximo a sala principal.

— Dentro da última gaveta do armário do banheiro social.

— Fique aqui, eu vou buscar.

Caminhei por cima da torta agora em frangalhos, e todos os itens que taquei em Gael. A vontade de matar ele havia desaparecido, agora só restava no peito o alívio de saber que ele estava bem, afinal eu não queria ser presa caso algo de ruim acontecesse com ele através das minhas mãos; queria vê-lo pagar pelo que estava fazendo comigo, mas devo confessar que era covarde demais para me vingar com as minhas próprias mãos, morria de medo das consequências.

Peguei os itens de primeiros socorros e voltei até a suja e bagunçada cozinha, acendi a luz principal para me permitir cuidar de sua ferida.

Ele continuava sentado no mesmo lugar, segurando o braço como se estivesse pendurado apenas por uma pele.

Me ajoelhei na frente dele, abri a caixinha de primeiros socorros e tirei de lá gases e um líquido que imaginei ser para a desinfecção do ferimento.

— Me dá seu braço. — Falei em um tom arrependido. Tenho certeza de que ele havia gostado.

Sem dizer nada ele esticou o braço me permitindo ver melhor a ferida que embora não fosse profunda estava sangrando bastante.

— Eu aguento ver sangue, fiz curso de primeiros socorros no orfanato. — Murmurei.

Gael riu mais tranquilo.

— E matar alguém, você sabe? — zombou.

— Para de palhaçada, Gael! — reclamei terminando de aplicar a pomada. — Pronto, está desinfectado. Agora basta usar a pomada ou visite um cirurgião plástico — zombei.

Senti sua mão tocar meu rosto e empurrar para trás da minha orelha, meu cabelo lambuzado de torta.

— E você precisa de um banho, mocinha.

Levantei meus olhos, e pela primeira vez consegui enxergar um homem que diferente da minha concepção, era um homem que me despertava agradáveis sentimentos e não ódio.

— Você também precisa — nossos olhos se chocaram, e foi uma explosão de acontecimentos.

Os olhos que antes estavam claros, agora estavam dilatados, escuros como à noite. Meus lábios ficaram entreabertos, e o ar parecia não sair dos meus pulmões, a tensão era evidente. Escorreguei com olhar e reparei em seu peitoral trabalhado, um verdadeiro convite ao proibido.

E, quando pensei que ele fosse tentar se aproximar para me furtar um beijo como havia tentado antes, ele se afastou me deixando a frustrante sensação da ausência do calor de suas mãos. Talvez fosse bom, eu não tinha tanta certeza de que aguentaria resistir daquela vez.

Gael se levantou do chão e pegou uma vassoura e me entregou.

— O que está fazendo?

— Você sujou tudo, agora vá limpar. Luz é minha empregada e não sua!

Miserável!

— Você também teve participação nisso! — retruquei.

— Tudo bem. Eu cato as frutas e você limpa a torta dos móveis.

— Você é inacreditável sabia?!

— A culpa não é minha, você quem começou jogar a torta!

— Ah! Gael! Por Deus...!

Passamos as horas seguintes limpando a cozinha e discutindo, para saber quem havia começado aquela briga. Meu orgulho me impedia de dizer que eu estava errada, e o ego dele o impedia de reconhecer que agiu feito um belo imbecil, e quando finalmente fomos nos deitar já era quase três horas da manhã.

Ele subiu as escadas na minha frente, e sumiu dentro daquele quarto, que eu imaginava ter um caixão como cama e uma passagem secreta para um fosso.

Ele subiu as escadas na minha frente, e sumiu dentro daquele quarto, que eu imaginava ter um caixão como cama e uma passagem secreta para um fosso

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