— Não gostaria de ter entendido, mas continua. — o ruivo bufou.

— Só preciso que você fique com ela por algumas horas, eu volto rapidinho pra buscar ela e ai você pode me matar. — ela entrega a criança para Jimin, apressada. — Aqui, vai com o ruivinho.

— Que ruivinho o que, porra! — Jimin disse, escutando o choro da criança começar. — Jiwoo, sua vaca mentirosa de uma figa, filha de uma boa mãe, você não pode me deixar com uma criança agora!

— Você consegue, é médico! Prometo te explicar depois mais devagar, te devo uma, ruivinho!

— Não era nem pra você estar na cidade, infeliz! — berrou, colocando a cabeça para fora e vendo a garota dar pulos na mesma escadinha que o enfermeiro tropeçava quando estava bebado. — Jeon Jiwoo!

Assim que a garota sumiu da vista de Jimin, ele sabia onde tinha se metido. Ou melhor, tinham metido ele. O caos já estava plantado naquela pequena garganta infantil que mais parecia uma chaleira fervendo e em Aquiles, latindo e chorando por não saber como ajudar seu pai completamente perdido.

O enfermeiro não sabia cuidar de crianças, não tinha jeito. Por mais que trabalhasse em alas pediátricas, sempre teve que lidar com casos em que seu lado profissional tomava muito mais posse de seu corpo do que qualquer instinto paterno ou familiar com o paciente sendo atendido. Sem contar que eles não choravam por qualquer coisa, e se choravam, tinha uma equipe de mais de vinte médicos prontos para resolver qualquer problema de saúde.

Não problemas rotineiros, como fralda suja.

Pensamentos como os que a Jiwoo tinha tido ao seu respeito, sempre aconteciam. A maioria das pessoas julgava m que qualquer ramo da medicina te deixa apto para cuidar de qualquer criação humana, como se fosse um extensivo deixar alguém vivo e feliz. Mas não funciona assim, é claro. Se Daisy tivesse algum problema durante seu tratamento, o ruivo teria garantia que ele estaria ali para achar uma solução e um tratamento adequado para a sua saúde, ajudando em qualquer suporte que ela precisasse e prescrito por seu médico responsável. Porém, se Daisy viesse chorando porque fez um desenho feio na escola, ou porque só está afim de fazer um pouco de manhã, Jimin entraria em pânico e se jogaria no chão.

Não tinha irmãos, não precisava lidar com primos menores nem nada do tipo. Sua mãe garantiu seu afastamento de qualquer criança menor ou maior, e seu pai, bom, Carter era o velho Carter, nunca pensou em outro filho. Pelo menos não até a noite do jantar de bodas de papel, mas isso o enfermeiro não tinha neurônio para pensar e focar.

Os vizinhos de Jimin sempre foram curiosos, e não era para menos. O casal que morava naquela casa era mesmo curioso, não pelo fato de apenas se verem em horários distintos, mas sim porque os dois chamam atenção. O ruivo já tinha reparado nisso, quando uma vez, quase como um evento no ano, os dois foram jantar juntos porque coincidentemente ficaram de folga no mesmo dia. Os olhares atentos para o casal de mentira eram lascivos, curiosos, maliciosos, contentes e qualquer tipo de emoção que pudesse despertar nas pessoas.

O enfermeiro achava graça e gargalhava quando estava sozinho, porque as pessoas planejavam coisas e criavam metas em seu próprio casamento sem ele fazer esforço. Era divertido e não podia negar, gostava da atenção que recebia. Exceto quando não queria recebê-la e não tinha controle dela, como no momento que estava com a garotinha loira chorando em seu ombro. Os vizinhos tinham quase certeza absoluta que estavam vendo um teatro ensaiado e dramático, com uma música de ópera tocando no fundo ao verem a ruína de dois humanos e um cão dentro daquela casa.

Latido, choro, suplico, Elton John, Queen, mais choro, um barulho de tropeço - tudo bem. Um pouco mais de choro.

Sem muita opção, ligou para Jungkook e pediu, sem exagerar, socorro. Queria ter prometido uma renovação de votos de casamento com ele próprio de corset, se isso convencesse o arquiteto a vir para casa, mas não foi necessário e o ruivo voltou a guardar a carta na manga. Vai ter que usar algum dia.

Com amor, Utopia  • jikook • Where stories live. Discover now