Capítulo 02 - Pizza de abacaxi

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Já tive mais visitas hoje do que em todo resto da semana. E isso inclui Heloísa e Alice, minhas melhores amigas, que passaram uma boa parte da tarde fofocando comigo, o Arthur, que apareceu com um pote grande de sorvete para me "consolar" e (claro) minhas irmãs e meus pais.

Sei que as pessoas vem na intenção de animar a situação, mas é um pouco sufocante. E nada eficaz também. Tudo que eu quero é ficar sozinha por umas horas. 

Até jantei com a minha família na mesa da cozinha poucas horas atrás, sorrindo e conversando o tempo todo, e achei que isso seria suficiente para passar o resto da noite sozinha. 

Não foi.

— Suas irmãs e eu vamos ver um desenho na sala. Quer participar também?

— Não. Obrigada. Já estou vendo um filme. – Sorrio, mesmo sabendo que de onde ele está provavelmente não consegue ver meu rosto.

— Hmmm – murmura, mas continua na porta. — Quer que eu te traga pipoca?

— Não. Obrigada. 

Alguns segundos se passam e ele continua no mesmo lugar. 

— Eu tô bem, pai. Juro.

— Tem certeza? – sua pergunta é uma resposta clara de que minhas tentativas de fingir aceitação com o resultado do sorteio não estão mesmo dando certo.

Suspiro.

É o mesmo ritual toda vez: eu simplesmente fico lá sentada e ouço o que eles têm para dizer, dizendo todas as coisas certas e sorrindo o tempo todo. Depois, agradeço pela preocupação, finjo resignação com o resultado do sorteio, minto e digo que estou "numa boa", mas por dentro estou quase surtando em uma mistura de tristeza, negação e raiva.

— Tenho – minto mais uma vez e me sento na cama. — Estou mais decepcionada que qualquer outra coisa. – Isso é uma meia verdade. 

É tão frustrante não conseguir uma coisa que você se esforçou tanto. Passei meses juntando cada centavo que ganhei, sonhei com essa viagem nos últimos 21 dias, e agora tudo foi por água abaixo, de uma única vez e sem esperanças de uma terceira chance.

— Então tá bom. – Ele acena com a cabeça e começa a fechar a porta, mas para no meio do caminho. — Ah! Sua mãe mandou avisar que já terminou de ajeitar sua roupa.

Fico surpresa com sua notícia, mas ela logo passa. Minha mãe é uma costureira de mão cheia, então não é novidade ela terminar uma peça tão rápido. Ainda mais porque a única coisa que pedi foi para ela folgar um pouco uma blusa que quero usar amanhã, na saída para o shopping com minhas amigas. A peça estava um pouco justa demais na cintura, e como gosto muito dela não quis simplesmente me desfazer, como já fiz com outras roupas minhas nos últimos meses.

— Tá bem. Eu pego amanhã de manhã. 

Ele assente, sorri e sai. 

Volto a me jogar na cama, calculando o tempo sozinha que terei até ele ou minha mãe aparecer de novo. Minhas irmãs sempre apagam no sofá depois das 10 da noite e meu pai as leva até a cama em duas viagens, o que me dá uns 40 minutos. 

Para minha frustração, menos de 10 minutos depois minha porta é aberta de novo. Haja paciência!

Olho para a porta, mas me surpreendo ao ver alguém um pouco mais magro e mais alto que meu pai passar pela porta. 

— Arthur? – Me sento na cama, estranhando sua visita. — O que faz aqui a essa hora?

Arthur é a pessoa que mais gosta de dormir que eu conheço, e como ele acorda cedo de manhã para trabalhar, sempre cai no sono antes das 10. Ver ele acordado a essa hora em plena quarta-feira é quase um milagre.

Até Onde o Amor nos Levar | Amores Platônicos 03Where stories live. Discover now