Eu sabia que estava precisando refletir sobre a confusão que minha cabeça se formou nos últimos dias, e nada melhor do que um fim de semana no Rio de Janeiro para relaxar. E o melhor de tudo é passar esse tempo ao lado da Cris.
- Passei anos imaginando como seria, mas minhas teorias não chegam aos pés da realidade. - Estende o braço na minha frente. - Me belisca aqui só para eu ter certeza de que não é um sonho. - Só para zoar com ela, faço o que pede, apertando sua pele clara de leve. - Ai! Por que você fez isso?
- Porque você pediu!
- Mas não era para beliscar de verdade! - Ela levanta mão para me estapear no ombro, mas eu me desvio a tempo, rindo. - Seu palhaço!
A fila começa a andar, e nós acompanhamos o fluxo de pessoas, dando um passo à frente.
Tem fãs enlouquecidas por todo canto, várias delas com blusas estampadas com o rosto do cantor ruivo, umas com faixas enormes nas mãos e outras com bandanas na cabeça. Eu achava que a Cris era fissurada por esse cara, mas inacreditavelmente sua paixão unilateral pelo cantor não chega nem aos pés das garotas que estão aqui.
Já tem até gente cantando músicas dele - que eu já conheço de cor e salteado, de tanto aturar a Cris cantando elas no meu ouvido dia e noite, desde os meus 11 anos de idade.
Não me entenda mal, eu não tenho nada contra o cara. Ele simplesmente não faz meu estilo nem meu gosto musical. Mas eu sempre finjo odiar, só para provocar a Cris, porque não existe coisa mais divertida do que ver o biquinho que sua boca forma sempre que está contrariada. É bem fofo, e eu não perco nem uma oportunidade de fazê-lo aparecer.
E não vou começar a perder agora.
- É, pequena, acho que você perdeu seu posto de fã número 1 - provoco, fazendo um gesto com a mão para mostrar as garotas (e alguns poucos garotos) ao nosso redor.
Há quase duas semanas atrás, quando a Cris tinha se inscrito no tal sorteio dos ingressos, ela tinha se declarado ser a pessoa que mais amava o James Prince no mundo, e eu, obviamente, zombei disso, dizendo que com certeza a mãe dele ou alguma outra fã o amava mais.
Cris não demora a perceber a referência da minha provocação, pois me fuzila com um olhar irritado.
- Cala a boca, Arthur - ela resmunga, e o bico irritado logo aparece no seu rosto, me fazendo rir.
Eu amo tanto essa garota!
Olho ao redor enquanto esperamos nossa vez na fila para mostrar os ingressos aos seguranças e entrar. Tem muita gente, bem mais do que eu imaginava, mas 2000 pessoas não é pouca coisa.
Alguém passa por mim e acaba trombando no meu ombro, fazendo dar uns passos para trás. No meio de tanta gente, acabo perdendo a Cris de vista, fico preocupado por alguns segundos, mas não demoro a localizar seu cabelo loiro (metade rosa agora) a alguns passos à minha frente.
Desvio das pessoas e paro de novo perto dela, que nem percebeu meu distanciamento e contínua com o olhar fixado na entrada para o show a nossa frente. Tomo a liberdade de segurar sua mão, para que a gente não acabe se afastando de novo no meio desse povo todo.
Assim que minha mão encosta na dela, sinto seu corpo ficar um pouco tenso ao lado do meu, é quase imperceptível, mas eu noto.
Na verdade, tenho notado muita coisa nos últimos dias. A Cris está meio estranha desde que saímos de São Paulo.
No começo eu até achei que o motivo fosse o selinho que trocamos no aeroporto (aquilo pegou até mesmo eu de surpresa), mas ontem, quando ela desmaiou por falta de alimentação na minha frente, eu entendi o motivo.
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