O Guardião

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Eles se encontravam em uma espécie de câmara pequena e vazia, com exceção do minotauro caído. Havia algumas tochas nas paredes, mas estavam apagadas, e uma espécie de banco de pedra em um dos cantos.
-Eu estou louco ou isso é um minotauro? –Rony desengasgou pouco depois.
Gabrielle veio caminhando mais para perto e se abaixou também.
-É um minotauro, sem sombra de duvidas. – Falou ela se aproximando do minotauro caído e examinando-o à luz da
tocha.
Tinha o corpo de um homem musculoso, usava uma calça de couro preto e um cinto feito de argolas douradas. A
tira-color, havia uma espécie de aljavra, feito também de argolas douras só que menores. Estava nu da cintura para cima. Sua cabeça era a de um touro marrom, com enormes chifres de pontas afiadas. Em lugar de pés ele tinha cascos bipartidos.
-Mas eu pensei que eles só vivessem naquela reserva na ilha de Creta, numa cidade subterrânea... Pelo menos é o que sempre dizem. O que ele faz aqui?
-Sei tanto quanto você. O que sei sobre minotauros foi o que li nos livros da escola.
-O que só ai já deixa você em uma grande vantagem... –Ele sorriu.
-Sei que eles formam uma cultura avançada, diferente dos centauros eles não fogem do contato com os homens. Sua
economia se baseia na agricultura e no comércio de metais. No passado foram grandes fabricantes de armas, hoje em dia fazem isso somente para o cinema. Mas sua principal fonte de renda são as jóias e peças de arte que produzem.
-Você decorou o livro?
-Pior que foi. Usei um feitiço de memória e ele ficou forte demais, posso recitar para você o nome de todas a bruxas do Nepal que foram queimadas na inquisição e...
-Não, obrigado. Fico com os minotauros mesmo. – Ele falou abrindo a pálpebra do desacordado como fazem os médicos.
-Ele são apaixonados por esportes, competições e acima de tudo combates de arena. – Gabrielle continuou e Rony suspirou vendo que ela tinha levado seu comentário ao pé da letra. –Em uma parte da ilha de Creta existe um anfiteatro, oculto com feitiços é claro...
-É claro... – Acrescentou Rony com maus modos enquanto tentava virar o minotauro de lado e descobrir o que tinha acontecido com ele.
-...Eles organizam varias competições. A única coisa que eu não gosto neles é o jeito que tratam suas mulheres. -Mulheres? –Rony se voltou, pela primeira vez realmente interessado. – Mulheres... mulheres? Quer dizer que eles... -Procriam com humanas claro! –Gabrielle olhou para ele espantada. – Ou você já ouviu falar de alguma "minovaca"
na sua vida?
-É verdade...
-Quando uma mulher engravida, o bebê, se for menino, puxa sempre ao pai minotauro. Se for menina, nasce uma humana normal. Só que lá as mulheres são tratadas como propriedade. As, filhas e esposas de minotauros, são propriedade do pai ou marido, podendo ser trocadas ou vendidas.
-E alguma bruxa aceita isso?
-Bruxa? Ronald pelo amor de Deus! Você não lê não?
-Eu odeio quando me perguntam isso! –Ele sacudiu a cabeça. –Me faz sentir um idiota completo!
-Desculpe, mas é do conhecimento geral que a sociedade minotaurica convive em harmonia com os trouxas da ilha,
um caso raro em todo o mundo mágico. Muitos pais vendem – Ela fez questão de carregar de desprezo a palavra "vendem". – suas filhas em troca de ouros, jóias ou simplesmente porque não podem criar, o que na minha opinião é uma desculpa muito sem-vergonha.
-Vendem? Nossa, que coisa...
-Tudo bem que eles – Ela apontou para o minotauro desmaiado que, perdia uma aula e tanto sobre seu povo, - Tratam suas escravas muito melhor que muito homem por ai. Para eles maltratar um escravo é um crime punido com trabalhos forçados, o que constitui uma humilhação tão grande que muitos preferem a morte. Mas escravidão é escravidão, mesmo que numa gaiola de ouro...
-Disso eu não sabia. Já tinha ouvido falar no negocio dos trouxas, mas pensei que fosse lenda... –Ele desistiu de tentar virar o minotauro e sentou-se enxugando a testa suada com as costas das mãos. – Mas tem uma coisa que eu sei. – Disse ele tentando salvar o pouco orgulho que restava ao seu cérebro. – Eles nunca se perdem em labirintos. Por alguma razão, quando percorrem um rede de túneis ou algo assim, eles conseguem memorizar o trajeto sem precisar de mapas, sempre são capazes de achar o caminho de volta.
-Eu sei... –Ela estendeu a mão para ajuda-lo a levantar-se. – É por esse motivo que as ruas de sua cidade subterrânea são construídas de forma intrincada.

InacreditávelWhere stories live. Discover now