O Plano

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Depois do piquenique os dois deixaram de se falar mesmo. Só que dessa vez Gabrielle não passou a evitar Rony, muito pelo contrário. Ela fazia questão de estar sempre onde ele estivesse, sorrindo e conversando com todos menos com ele. Os únicos a notar foram Harry e as crianças.
Harry não se atreveu a perguntar nada a Rony, mas uma tarde que estava de bobeira, esperando seu violão terminar de se afinar, Gabrielle chegou e sentou-se perto dele na varanda. Ele então aproveitou a oportunidade.
-Gabrielle, posso te fazer uma pergunta?
-Pode, claro.
-É sobre Rony...
-O que querr saberr? –Perguntou ela depois de um momento em silêncio. -Está acontecendo alguma coisa entre vocês?
-Não. Não está acontecendo nada. –Ela respondeu acompanhando o vôo de uma borboleta azul com o olhar.
-E esse é todo o problema não é? – Harry a encarou.
-O que?
-Desculpe se estou me intrometendo Gabrielle. Mas não sou cego. Percebo muito bem as coisas que acontecem ao
meu redor, mais até que os outros. Vejo você e Rony se atrapalharem quando estão perto um do outro, vejo ele de mau humor te seguindo com os olhos e vejo você suspirar por ele pelos cantos...
-Eu não suspirrro...
-Vejo seu sotaque voltar quando você está perto dele, e ele não aparecia quando você chegou aqui... -Ele só parece quando eu fico nervosa... –Ela admitiu baixinho e Harry sorriu.

-Se quiser conversar estou aqui. Prometo que tudo o que me disser não será usado contra você hora nenhuma. Nesse pouco tempo que estamos aqui você pode me considerar seu amigo.
-Eu sei disso. –Ela sorriu para ele. –Confio em você Harry. Afinal, como vocês dizem aqui na Toca, "somos todos da mesma família, o sobrenome é só um detalhe..."
Riram os dois.
-Não está acontecendo nada mesmo. E talvez... bom... esse é realmente o problema. Seu amigo tem medo das coisas que não pode controlar e eu não quero me apaixonar por uma pessoa assim. –Ela terminou de falar e ficou em silêncio. Havia mesmo contado aquelas coisas para Harry?
-Se apaixonar? – Ele sacudiu a cabeça. - Gabrielle... eu lamento ter que te dar essa noticia mas, você já se apaixonou por ele. –Harry sorriu condescendente para ela que terminou dando um sorrisinho também.
-Eu sei. Mas não posso ficar correndo atrás de uma pessoa que... que...
-Rony é um homem bom Gabrielle. Um amigo como poucos, um irmão. Eu arriscaria minha vida por ele se fosse preciso e sei que ele faria o mesmo por mim. Não seja tão severa com ele, talvez ele só precise de um tempo para se acostumar. Ele é assim, não gosta de novidades, de coisas inesperadas e você é uma coisa inesperada que caiu na cabeça dele como uma bomba. Apesar da pouca idade já é uma mulher, uma mulher muito bonita e decidida. Ele não está acostumado com isso. Reconheço que a culpa é dele, sempre escolheu garotas com a cabeça cheia de vento para se relacionar, talvez por saber ser mais simples lidar com elas no fim das contas.
-E o que eu faço? Espero e crio ilusões? Se eu deixar esse sentimento crescer e no fim das contas não der em nada, eu é que vou ter que lutar para mata-lo com o tempo Harry. Não quero sofrer.
-E por isso vai matar o que sente antes mesmo de saber o que ele pode vir a ser? Talvez um grande amor...
-Talvez uma grande dor.
-Não posso te dizer isso Gabrielle. Ninguém pode. Na vida nós só aprendemos as coisas vivendo, sejam elas coisas
boas ou ruins. Não podemos nos esconder de tudo todo o tempo. Com essa atitude o que conseguimos são dúvidas, "se eu tivesse feito" "se eu tivesse deixado". Tem certas coisas que precisamos passar para crescer, para nos tornarmos pessoas melhores. Se não der certo... paciência! Você tentou, pode levantar a cabeça e dizer: Pelo menos eu fiz a minha parte.
Ela ficou em silêncio encarando o chão da varanda. Harry se levantou e pegou seu violão. Ao passar por ela parou e deu-lhe um beijo na testa.
-Pense no que eu te disse e não fique chateada com esse seu "irmão" intrometido. Gosto de você. Gosto de vocês dois...
-Não vou ficar. –Ela deu um sorrisinho. –Juro.
Depois dessa conversa com Harry, Gabrielle decidiu não mudar sua atitude com Rony. Não iria correr atrás dele e tentar faze-lo ver uma coisa que ele se recusava. Mas, se algo mudasse ela estaria disposta a... bom, iria manter a mente aberta, era só o que podia fazer.
-o0o-
Uma tarde particularmente quente, Gabrielle desceu as escadas vinda do seu quarto. Na sala estavam as crianças, espalhadas no tapete e Rony sentado em uma das poltronas. Ele a encarou enquanto ela descia a escada e ela manteve o olhar. Usava uma saia de preguinhas preta e uma blusinha salmão. Havia feito um rabo de cavalo no cabelo mas as mechas mais curtas ela havia puxado e deixado caindo em volta do rosto. Ao que parecia o resultado havia agradado.
Mas, quando Gabrielle pensou que estava vendo um sinal de que algo estava mudando, ele desviou o olhar e voltou sua atenção para o gato de Hermione que parecia ter desenvolvido uma espécie de paixão por Rony e sempre estava perto do rapaz deitado em sou colo ou se enroscando em suas pernas.
Ela não se fez de rogada. Atravessou a sala e sentou-se no sofá perto dele mas prestando atenção ao que as crianças faziam. Tiago e Loui jogava xadrez e Lílian desenhava em um bloco de pergaminho deitada no tapete.
Teve sua atenção momentaneamente distraída pelo gato que miou e saltou do colo de Rony para o chão. O felino caminhou no tapete sempre olhando fixo para ela e sentou-se perto de Lílian.
-Oh... –Gabrielle se inclinou na direção do bicho. –Que amasso bonitinho, não tinha reparado direito nele ainda... -Um o que? – Perguntaram Tiago e Loui.
-Um amasso, ele é um Amasso, vocês nunca notaram não?
-Mesmo? -Lílian, se levantou do chão para observar o gato melhor.
Bichento parecia estar satisfeito em ser o centro das atenções. Se deitou todo aberto e ronronou.
-O que é um amasso? –Tiago quis saber olhando desconfiado para o gato.
-Oh Deus! –Lílian bufou. –Será que você nunca sabem nada?
Rony enxergou Hermione na sua frente e sorriu, depois olhou para o gato que acompanhava a conversa interessado.

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