The Wayne family

Marcas do passado

TIMOTHY ON

   Não tenho noção de quando tempo eu passei dormindo no quarto do Jay, mas quando abro os olhos sinto o ar frio do outono em Gotham entrar pelas janelas sempre abertas de seu quarto, meu irmão tem a mania de nunca fechá-las, provavelmente para manter o ar circulando e evitar que o cheiro do cigarro que, ele insiste em fumar escondido de todo mundo, se espalhe para o restante da mansão. É uma ideia até que bem inteligente vindo do Jason, que raramente pensa sobre qualquer coisa, o único problema é que ele só usa a inteligência quando quer sair ileso de alguma coisa. Enfim, Todd... Nossa relação mudou bastante no último ano, finalmente conseguimos manter conversas civilizadas sem o Jay começar a implicar comigo por puro ciúme do Bruce. Talvez, eu deva agradecer a sua namorada sobre isso, mesmo aquele relacionamento me dando arrepios, Rose de alguma maneira faz com que ele não seja tão... Jason.

  Quando cheguei na mansão Wayne junto com o Bruce, eu tinha dez anos, minha madrasta ainda era viva na época, mas não demorou a me expulsar de casa depois que o dinheiro deixado pelo meu pai acabou. Bruce me conheceu no orfanato que a Wayne banca e por algum motivo o príncipe de Gotham que já tinha três filhos, dentre eles, dois que também eram adotados, decidiu que queria me adotar também... Eu não sei o porquê, mas o Bruce salvou a minha vida naquele dia, ela pode até estar uma merda hoje em dia, mas ele a salvou e eu não tenho palavras para explicar o quanto sou grato por isso.  Ele não me deu somente seu sobrenome, ou uma casa, comida e escola, Bruce me deu uma família, pessoas que se importavam comigo... e mesmo que hoje ele esteja distante, ainda é o meu pai.

  Afasto esses pensamentos sufocantes levantando da cama com o único objetivo de barrar aquele ar frio de entrar e só então me dou que já anoiteceu e eu não deveria mais estar aqui, se me atrasar novamente para encontrar a Steph na peça, dessa vez ela me mata. Saio do quarto do meu irmão rápido, deixando sua cama bagunçada mesmo, vou até o meu próprio quarto e pego o primeiro moletom que vejo pela frente. Por algum motivo, eu estou com muito frio hoje.
  Vejo Alfred guardando algumas louças que estavam em cima do balcão da pia, me aproximo pegando a garrafa do café e me sirvo uma caneca bem cheia do líquido.

- Era minha vez de lavar a louça hoje, né? – Murmuro sem graça – Eu acabei dormindo. Desculpe, Alfred.

- Não se preocupe, Mestre Tim – Ele responde voltando sua atenção a mim – Mestre Jason fez no seu lugar.

- Jason? – O espanto na minha voz faz Alfred sorrir – Não sei se consigo me acostumar com ele sendo legal comigo.

- Aparentemente milagres acontecem – Sorrio e sinto uma pontada de leve na minha cabeça – Mestre Jason tem um bom coração, o jeito seco e agressivo é um mecanismo de defesa.

- Ele sempre foi assim? Ou ficou assim depois... você sabe – Observo o olhar do Alfred entristecer.

  Meu relacionamento com o meu irmão sempre foi conturbado, porque ele sempre achou que eu apareci só o para roubar o lugar dele. Quando eu cheguei na mansão com dez anos, Jason tinha treze e ele me odiou logo de cara. Me lembro do Dick pedindo para ignorar as provocações, dizendo que o Jay só estava com ciúmes e com medo de ser deixado de lado, eu não ligava, mas era nítido que toda interação que eu tinha com o Bruce o irritava muito. Três meses depois, quando ele completou quatorze anos, eu descobri o porquê de tudo que Jason fazia, mas era tarde demais para dizer a ele que eu jamais tentaria roubar a família dele.
  O único dia na minha vida em que eu realmente enxerguei Bruce Wayne como uma pessoa normal, foi quando o Coringa matou o Jason. Ele só tinha quatorze anos... Era como se estivessem arrancando o coração do meu pai fora, perdeu completamente o rumo naquela semana e simplesmente não deixou que fizemos um funeral, as pessoas acreditaram por dois anos que Jay estava estudando fora, Bruce não queria aceitar a morte dele. Foram semanas horríveis, Bruce sumiu, Selina estava em negação, Dick tentava fingir que estava tudo bem, mas era nítido nos seus olhos a sua dor, Helena então... passava o dia todo trancada no quarto chorando, enquanto eu só conseguia me sentir culpado por tudo aquilo estar acontecendo.  Jason nunca teria ido procurar a mãe se não estivesse sentindo que ia perder a família... Eu estraguei essa família.
  Dois anos depois, Jason reapareceu como Capuz Vermelho. Ninguém sabia que o mascarado que estava controlando a máfia de Gotham e puxando briga com o Máscara Negra era, de fato, o Jason. Ele arquitetou todo o seu plano de vingança perfeitamente, matou várias pessoas, criminosos, no processo e para o seu ato final sequestrou o Coringa. O choque foi completo quando ele tirou a máscara, ninguém conseguia acreditar como aquilo era possível e ele adorou contar tudo com o mínimo de detalhes, fazendo Bruce ir até Nanda Parbat buscar respostas.
   Não foi fácil para ninguém, Jay estava transtornado, tomado pelo ódio e pela magoa, sua mente estava confusa, mas não tinha como deixar tudo o que estava acontecendo em Gotham passar despercebido, precisávamos parar ele. Bruce foi sozinho e sem comunicador, até hoje não sabemos o que aconteceu realmente entre os dois, só sabemos que ele voltou para a Batcaverna com Jason desacordado em seus braços.
 
   Faz dois anos que ele voltou a morar aqui e todo dia é uma caixinha de surpresas, a gente nunca sabe como ele vai acordar, mas ele melhorou bastante nesses últimos meses e acho que boa parte desse avanço vem da Rose. Eu não posso confirmar, mas acho que ela conseguiu fazê-lo se abrir e confiar nela, o que é realmente incrível quando se trata do meu irmão, já que ele não confia em ninguém. No entanto, demorou bastante para ele chegar no limite do razoável, porque o primeiro ano foi horrível! Não teve um dia do ano passado que eu não tenha ido dormir me sentindo um lixo, Jason fazia questão de me lembrar que eu tirei tudo dele, o Bruce, o Dick, a Helena, mas o pior foi o Robin, mesmo não me odiando mais, ele ainda me chama de substituto o tempo inteiro por causa disso.