Uma hora e meia depois de ter chegado ao laboratório, eu havia sido liberado da minha primeira bateria de exames. A primeira de uma semana inteira.

O café estava movimentado quando retornei ao trabalho. Verônica corria de um lado para o outro e, logo que entrei e que ela me olhou, pensei ter visto uma lágrima cair de seus olhos.

— Está acabando — repeti para mim. Eu a estava fazendo sofrer e, por Deus, eu não queria isso.

Coloquei as minhas coisas no escritório, tomei o comprimido para dor e desci para o balcão. Eu sempre adorei atender, sempre gostei de lidar com público e sempre fui apaixonado por café, por isso a ideia de abrirmos um e unirmos a minha paixão com a paixão da Verônica, o que deu muito certo. É claro, contamos com a ajuda, na época, do nosso professor da pós.

— Que bom que está lotado — comentei assim que Verônica veio ao balcão para atender também.

Nós tínhamos seis funcionários, dois ficavam responsáveis pela livraria, dois no balcão, um no caixa e um na cozinha. Verônica costumava ficar na livraria também e eu ajudava no balcão e no caixa, funcionava bem dessa forma, de modo que nenhum cliente nosso saísse insatisfeito com o atendimento e a atenção.

— Sim — ela respondeu, sem ânimo. — Tem estado assim constantemente — completou, enquanto preparava um cappuccino.

Ela não precisou completar a frase, eu entendi que ela quis dizer que tinha estado assim e eu não estava ficando lá para saber. Mais uma vez, pensei que, se fosse antes, eu teria respondido de forma ríspida para ela, mas já não me importava mais em retrucar, em estar certo ou sair por cima de uma situação. Nada mais importava, porque, em poucos dias, eu não me lembraria mais desse dia.

E de nenhum outro dia do meu passado.

Fechamos o café às sete da noite, enquanto eu estava fechando caixa, Verônica e Priscila subiram para o escritório. É claro que fiquei curioso, elas raramente faziam aquilo. Contei o dinheiro, anotei as entradas e saídas no livro de registro e, silenciosamente, subi as escadas, me sentindo como um cretino por estar fazendo algo daquele tipo, mas eu precisava saber o que estava acontecendo, mesmo cinte de que em breve, me esqueceria daquilo também.

A porta estava praticamente fechada, havia apenas uma pequena fresta. Eu me encostei na parede, no último degrau na escada, ansioso, esperando para ouvir o que diziam, me dando conta de que ao contrário do que eu pensava até tudo isso acontecer, eu ainda me importava com a Verônica.

— Verônica, eu ainda não consigo acreditar que ele esteja mesmo traindo você — Priscila disse para a minha esposa.

Senti minha respiração acelerar e tive vontade de entrar lá e abraçá-la, mas eu não podia fazer aquilo, da mesma forma que eu sabia que não era justo deixá-la pensando que eu a estava traindo, porém, era necessário, era uma forma de preparar o território para o pedido de separação que estava cada vez mais certo dentro da minha mente.

Eu só desejava que ela fosse capaz de compreender os meus motivos algum dia e me perdoar por ter sido tão frio.

— E o que explica esses sumiços dele, Pri? — Ouvi Verônica perguntar. — O Cris nunca foi irresponsável com o café e, de repente, chega mais tarde, não vem, ou sai mais cedo... — A sua voz era de tristeza.

— Eu não sei, Vê, mas tem alguma coisa errada nessa história, é como uma peça que não está se encaixando nesse quebra-cabeça. Eu conheço o Cris há tempo suficiente para poder afirmar que não tem como haver outra mulher na vida dele, vocês sempre foram a minha história de amor favorita.

— Às vezes sinto que essa história está chegando ao fim...

— Só se vocês quiserem, Vê, só se quiserem...

Todas as lembranças que não posso esquecerKde žijí příběhy. Začni objevovat