— As pessoas nem tem motivo para te odiarem, isso é tudo algo que você cria na sua própria cabeça pra parecer justo odiar qualquer um. Você é cruel.

— Não diga que eu sou cruel quando você simplesmente é igual qualquer filho da puta egoísta E NÃO QUER OUVIR O QUE EU DIGO! — ele quase gritou, e ali provou a Renjun que estava verdadeiramente tomado por muitos sentimentos ao mesmo tempo.

Parecia irônico, embora Jaemin demonstrasse ser frio e rude, ele estava tão mal com aquela discussão quanto Renjun estivesse.

A questão é que no fundo, aquele coreano não sabia lidar com a rejeição e talvez tudo aquilo que tivesse ocorrido naquelas últimas semanas, ou até meses, tenha lhe matado silenciosamente.

Renjun não teria pensado ou entendido isso ainda, ou até ao momento em que os olhos tristes e carregados de lágrimas de Jaemin tenham provado o quão vulnerável ele estava.

— Tudo bem... — ele respondeu, depois de alguns minutos quieto, vendo aquele rapaz se revirar sobre o banco e desviar os olhos e rosto molhado pelas lágrimas que caíram — Me diga logo o que tem a dizer.

Jaemin passou suas mãos sobre o rosto, secando as lágrimas repentinas e rindo brevemente pela sua angústia.

— Você só piora tudo. — retrucou arrogante, piscando os olhos com força e outra vez, quebrando o coração sensível de Renjun.

— Nós brigamos hoje e eu sei que é complicado pra você perceber que as coisas agora não serão tão simples como antes. Eu percebo que você está só me usando pra ocupar o tempo porque está triste com seu término com Jeno. Você não me prova o contrário, se você quer tanto minha ajuda, então me mostre que você precisa de mim de verdade. — disse sincero e calmo, analisando cada reação do loiro ao lado, pronto para a qualquer instante se retirar dali, caso visse que era uma perda de tempo.

Era a última chance de Renjun com Jaemin. Visto os eventos do dia, ele estava disposto a estar ali por mais algum tempo, mas não estaria caso visse que aquilo tudo era desnecessário.

Jaemin ainda era o seu grande amor, mas não seria por isso que teria misericórdia e correria de volta para si todo instante.

— Várias coisas aconteceram esse último ano. Coisas dolorosas que me fazem até agora sentir vontade de gritar, mas eu não posso por pra fora toda hora, porque isso seria admitir que eu sou fraco e não aguento qualquer mínima pressão. — ele respirou fundo, fechou os olhos e continuou — Eu só tinha Jeno. Não é como se eu só estivesse tentando ocupar meu tempo pra não pensar no meu ex. Ele era a estrutura e a razão pra eu aguentar só mais um pouco e por causa dessas coisas dolorosas que aconteceram esse último ano, Jeno precisou ir.

— Que coisas dolorosas são essas que você tá tentando dizer, Jaemin? — intrigado e atencioso, perguntou baixo, esperando por alguma resposta plausível e justificável para o que venha acontecido naquele dia.

Mas Jaemin se calou mais uma vez, por um grande tempo naquele banco. Criando mais uma vez um clima pesado e agoniante para aqueles dois garotos aguentarem por muito tempo.

Jaemin estava tentando dizer, mas parecia horrível articular em voz alta. Pelo menos era isso que se passava em sua cabeça naquele minuto em silêncio.

— Eu não consigo... falar sobre isso... agora... — pronunciou em tom baixo, abrindo os olhos e visando mais uma vez seus pés sobre o chão.

— Tudo bem não querer falar sobre isso. Parece algo sério, percebo agora que estive enganado com o que aconteceu hoje... sinto muito por tudo o que disse...

— Você é a única pessoa que eu tenho agora. — ignorou o que o outro garoto disse, voltando ao assunto que estivesse falando — Eu não gosto de você, isso você já percebeu faz tempo, mas vejo que você é tão bom e tá tentando me ajudar mesmo sabendo quão péssimo eu sou. Isso é honesto e sincero. Eu te imploro e prometo trabalhar nisso que eu sinto por você se você me der mais uma chance. Eu só tenho você. — enfatizou a última frase, cortando o ar de mais palavras que sairiam na sua boca logo a seguir.

Jaemin estava tão dolorido por tantas coisas. Era claro agora, pela forma como desabafava para Renjun.

Ele não era uma pessoa ruim, apenas estava conformado com ideias ruins e antigas que criou de outra pessoa e agora ele via que estava errado, e que aquela pessoa era a única disposta a lhe fazer bem.

— Está tudo bem. Podemos tentar isso de novo... mas você precisa me mostrar que realmente precisa de mim e que está mudando, como eu disse... — ele desviou o olhar para seus pés — preciso que me confirme que não está fazendo isso tudo por alguma maldade... sejamos totalmente sinceros um com o outro. Se não der certo, não precisamos insistir.

— Tudo bem, eu concordo com isso... agora podemos voltar ao normal como antes? — ele indagou irritado pelas lágrimas que caíram, passando mais uma vez as mãos sobre o rosto e roubando a atenção de Renjun com um sorriso bonito.

— Sim, nós podemos. — o chinês riu brevemente e admirou Jaemin — Estou feliz que tenha expressado seus sentimentos. Quase achei que fosse um novo Peaky Blinders pelo jeito que teria tentado ir embora.

— Vai se foder, dentinho. — brincou de volta, suspirando fundo e se aconchegando no banco com mais conforto, e agora, paz.

Eles viraram seus olhos para o movimento a suas frentes. Olhando o tanto de pessoas e lojas. Admirando, mesmo sem tem combinado, os mesmos detalhes das folhas daquelas árvores altas e coloridas; as luzes dos postes chiques; o céu já escuro e estrelado.

— Gosto das luzes. — o mais velho mencionou com um pequeno sorriso estampado sobre os lábios.

— Elas são bonitas. — foi a vez do coreano rir curto e continuar com o que estavam fazendo.

Permaneceram em silêncio por longos minutos, apenas respirando fundo e visando as mesmas coisas. Talvez pela falta do que falarem naquele instante, ou talvez por outra razão, eles não viam motivos para quebrar aquela atmosfera de paz e tranquilidade que logo se predominou.

Eles poderiam ficar ali para sempre. Eles queriam aquela paz pelo resto da noite. Então apenas ficaram quietos, um ao lado do outro. Sem se olhar. Sem mencionar nada por longos minutos.

Não foi o melhor encontro que Renjun teve, mas foi ao lado de Jaemin e isso fez muita diferença no final daquele dia. Apenas a presença dele, mesmo que em meio a brigas e confusões, era boa e lhe fazia bem.

— Obrigado por ter saído comigo hoje. — disse Jaemin, causando um sorriso envergonhado em Renjun, esse que felizmente não notou.

Querendo ou não, eles precisavam um do outro. Mesmo com tantos problemas, Renjun precisava ajudar Jaemin e Jaemin precisava da ajuda de Renjun.

— Estarei sempre ao seu dispor.

Talvez fossem eles as últimas pessoas verdadeiramente corajosas daquela cidade. Corajosos apenas por confiarem tanto um no outro. 

pink letter | renminWhere stories live. Discover now