V I S I T A DA M Ã E

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Estou enfrentando o trânsito que está um pouco caótico pelo horário de rush, geralmente não volto para casa cedo, mas hoje sabendo que minha mãe está no meu apartamento me esperando decidi não prolongar minha permanência no escritório. Aciono minha playlist para amenizar o barulho das buzinas lá fora. Gosto de ouvir de tudo um pouco, principalmente sucessos antigos.

Vejo um casal conversando na parada de ônibus, rindo e trocando carinhos, talvez até juras de amor. "Quando foi a última vez que me envolvi com alguém?"

Soube o que era o amor ao conhecer meus pais, senti como era ser amado, abraçado, não desejaram uma nova adoção, isso no inicio me frustrou, com o tempo me acostumei a ser filho único.

Senti o peso de ser filho quando aos 17 anos, minha mãe necessitou ficar internada por mais de oito dias, pois teve que retirar o útero devido a descoberta de um câncer. Medo de perdê-la assolou meu coração, foi o período que retornei a orar todas as noites para ter minha mãe novamente em casa, em troca seria um bom filho.

Minha adolescência foi tranquila, evitava confusões, mesmo tendo poucos amigos, sempre estava acompanhado. Na escola na maioria das vezes era um dos primeiros da escola. Timidez nunca me pertenceu, então namorar não passou distante.

Moro sozinho, acredito que minha mãe conhecendo‐me sabia que eu não iria sair debaixo de suas asas, principalmente com a morte do pai. Ela não me deu opção quando decidiu ir morar longe de mim, não queria limitar minhas escolhas, provavelmente não teria passado um ano fora do país se morasse com ela.

-Mãe já falei que não precisa se preocupar em fazer janta. -Reclamo quando chego em casa e vejo ela na cozinha.

-Deixe de besteira menino, então eu vou vim aqui na sua casa e não vou cuidar de você, onde já se viu isso? Uma mãe de ser proibida de cuidar do seu garoto.

-Mãe eu quis dizer que podemos sair para comer fora. A senhora sabe que adoro sua comida dona Helena.

-Pois, enquanto eu chegar na sua casa e não tiver uma mulher nesta cozinha fazendo sua comida sou eu que irá encontrar.

Ela me abraça eu a aperto em meus braços pra que ela sinta o quanto eu sou grato. Dona Helena é uma mulher baixinha, magra, morena Clara, tem 52 anos. Ela é meu porto seguro, mesmo com a morte do meu pai há mais de 10 anos ela se reinventou e hoje é uma doceira de nome em Pernambuco, tem sua loja onde comanda e com uma alegria que é admirada por seus colaboradores.

-Te amo minha mãe! Pode encher o prato estou com muita fome.

-Filho, eu trouxe uns doces para você levar pra suas crianças e um pouco pra seus amigos. Não esqueci o pacote para o menino diabético.

-Mãe, obrigada. Minhas crianças farão uma festa.

Gratidão, é o que me motiva a fazer trabalho voluntários em um orfanato, no mínimo uma vez por mês, visito minhas crianças, com ajuda conseguimos melhorar as acomodações, dando melhor qualidade de vida, elas não passam pelo mesmo transtorno que passei. Quartos infantis para os menores, os maiores tem sua ala, mais equipada com banheiros apropriado para suas idades, área de lazer e recreativa, no momento estamos lutando para ter uma sala de enfermagem mais equipada.

Meus meninos fazem festa com os doces de minha mãe ela tem esse prazer, todas as vezes traz sacolas de doces.

-Filho fala o que está acontecendo, eu te conheço não faça essa cara.

-Não é nada mãe, é apenas saudades, hoje estou reflexivo! -falo despreocupado

-Você esteve lembrando do orfanato, sempre fica assim quando essas lembranças vem.

Essa mulher me conhece, dou um sorriso triste, é verdade todas as vezes que penso na minha infância, não consigo evitar mesmo após tantos anos. Suspiro para a tensão ir embora.

-Mãe, acho que é a idade. Dona Helena, estou velho essa é a realidade.

-Uma mulher resolveria esse problema rápido, desde a Mariana, não namorou mais, esse coração está há muito tempo vazio.

Namorei a Mariana por mais de um ano, tínhamos os mesmos gostos, as vezes as ideias, mas os objetivos com o tempo percebi que não eram os mesmos. A mulher linda, mas com pensamentos de riqueza, menosprezava quem não pertencia a sua classe social, e o pior não queria ser mãe, imagine adotar, desde então, para ser mais exato três anos sem namorada.

-Mãe, eu estava pensando sobre isso, eu acho que não vou esperar casar para ter filhos. -espero seu grito e reclamação, mas ela sorri e segura minha mão.

-Filho, o que decidir estarei ao seu lado, além do que estou louca para ser avó, eu sim estou velha e como deseja ser pai?

-Irei adotar, já conversei com o Mauro ja que ele é especialista em direito de familia pedi que ele preparasse uma petição e o que mais precisar. A senhora sabe como esse processo pode demorar!

Meus pais me adotaram porque minha mãe não pode engravidar, depois de muito tentar desistiram, eles falam que foi a melhor decisão que tiveram depois de casarem, que eu sou a sua melhor escolha.

-Eu sei meu bem e você deve saber que vai ser um processo demorado e desgastante, principalmente por ser solteiro.

-Por isso quero dar início logo mãe. Se eu não encontrar o amor da minha vida, contudo terei o amor de um filho!

-Você terá os dois meu amor, talvez o amor pode acontecer antes que consiga adotar seu filho!

-Amém! -falo erguendo minhas mãos para o céu. -Vou lhe ajudar com os pratos.

Após ajudar na cozinha, tentei me concentrar em alguns documentos que trouxe para ler, desisti e agora estou olhando para fora pela ampla janela do meu quarto após tomar banho. Desde de pequeno tenho a mania de pensar muito antes de fazer minhas escolhas e decidir por algo, mas quando decido luto para conseguir.

Essa é a minha decisão irei adotar, não vou viver a base do "se" eu encontrar o amor serei feliz.

Essa é a minha decisão irei adotar, não vou viver a base do "se" eu encontrar o amor serei feliz

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