Capítulo 02

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▪Dias atuais▪

Ísis

Eu subia o calçadão me segurando pra não começar a chorar ali mesmo, no meio de todas as pessoas que também subiam aquela escada que parecia não ter fim.

Hoje tinha sido apenas mais um dia de fracasso, aliás, os últimos dias todos foram, e as coisas lá em casa já estavam começando a ficar difíceis.

Desde que saí da padaria, não consegui um emprego fixo, vivo fazendo uma faxina aqui e outra ali, mas nada que posso contar sempre.

Entrei em casa e vi a Lavínia com meu filho no colo, ele tava quase dormindo, mas quando percebeu minha presença ali, desceu do colo dela e correu até mim.

Caio: Mamãe. - Disse todo desajeitado, e eu peguei ele no colo.

Ísis: Oi meu pinguinho de gente. - Beijei o rosto dele que sorria. - Tava com saudade. - Falei abraçando ele, forte. - Oi Lavínia. - Sorri, olhando pra ela.

Eu posso chegar em casa arrasada, mal de todas as formas, mas quando vejo esses dois, meu coração fica quentinho e eu consigo me acalmar.

Caio: Fome, mãe, fome. - Meu filho disse me olhando. - Quelo memer.

Lavínia: Não se preocupa, Ísis, eu trouxe uma quentinha pra vocês. - Disse olhando pra mim.

Ísis: Eu nem sei como te agradecer. - Falei olhando pra ela. - Espero algum dia poder te recompensar por tudo que tem feito por nós.

Lavínia: Tem essa não, mona, é nós sempre, rapá! - Sorriu pegando a quentinha na sacola. - Pode comer.

Ísis: Valeu mesmo, Deus abençoe muito! - Falei quando ela me entregou a quentinha.

Caio: Mimida! - Disse me olhando abrir a Marmitex.

Tirei um pouco pra mim e depois fui colocar a comida na boca do Caio, que comia todo animado.

"Vender o almoço pra comprar a janta" - Já ouviram esse ditado? Bom, ultimamente tem sido mais ou menos assim, eu deixo de me alimentar, pra alimentar meu filho, e enquanto estivermos nessa situação, será assim!

Depois que o Caio comeu, eu coloquei ele pra dormir e fui comer oque tinha separado pra mim.

Lavínia: Ísis, o meu irmão pediu pra te dizer, que é pra tu ir conversar com o chefe dele, as vezes ele dá cesta básica pra alguns moradores da favela. É pouco mas já ajuda. - Disse me olhando comer.

Ísis: Lavínia, eu tenho medo de ir procurar ajuda com esse cara, porra, ele era amigo do pai do Caio, e não gosta de mim! - Falei olhando pra ela. - Vou tentar conseguir algum emprego, Lavínia, qualquer emprego.

Lavínia: Eu sei que você tem medo dele, mas cara, você tá precisando. - Disse olhando pra mim. - Sem querer te desanimar, mas a cada dia tá mais difícil de conseguir emprego.

Ísis: Eu sei, e realmente tá mesmo muito difícil, mas quando se tem um filho pra criar, a gente não olha dificuldade nenhuma! Eu só quero ver meu filho bem, Lavínia! Eu não quero que falte nada pra ele.

Lavínia: Olha, vamos fazer assim, eu vou pedir pro meu irmão conversar com o chefe dele e pedir a cesta básica, pode ser? - Perguntou me olhando de relance.

Ísis: Tá, pode ser! - Falei olhando pra ela, que sorriu.

▪▪▪▪

Caio brincava na pracinha junto com outras crianças da idade dele, e eu só olhava aquilo e ficava sorrindo bobona.

Cara, quando eu descobri que estava grávida, não recebi a notícia como uma coisa boa, mas hoje eu sei que não vivo sem o Caio. A gente já passou por tanta coisa juntos, mas sempre que eu abraço ele, sinto uma paz imensa e minhas forças se recarregam num instante.

Caio: Mamãe, quelo sorvete. - Disse andando até mim, e eu senti uma dorzinha no coração, ao ter que dizer não há ele.

Ísis: A mamãe não trouxe dinheiro, filho. - Falei olhando pra ele, que fez bico.

- Toma o sorvete aqui, não tem problema! - O homem que empurrava um carrinho de sorvete disse, tirando de lá um potinho de sorvete.

Ísis: Não moço, não precisa! - Falei olhando pra ele, que entregava o potinho nas mãos do Caio.

- Eu sei o quanto é doloroso ver os nossos pequenos pedindo algo e não podermos dar, já passei muito por isso! - Disse olhando pra mim, com um sorriso no rosto.

Ísis: Realmente muito doloroso! Obrigada de verdade, que Deus te abençoe muito!

- Amém, Ele vai abençoar ainda mais, há todos nós!

Caio: Obrigada moço. - Disse com um pouco de dificuldade, oque nos fez rir.

Depois de alguns minutos, o homem saiu de perto de nós e foi vender seus sorvetes pela favela.

Aqui em Paraisópolis toda hora passa alguém vendendo esses sorvetes, e serin, são muito bons mesmo.

Depois de mais alguns minutos na praça, eu decidi ir pra casa, tinha que dar banho no Caio e me ajeitar pra ir procurar emprego amanhã de novo.

Ísis: Vamos meu bem, já tá ficando tarde. - Falei olhando pro Caio, que mais uma vez fez bico e eu ri. - É sério filho, vamos logo. - Falei pegando ele no colo, e o mesmo resmungava, não querendo ir pra casa novamente.

Quando cheguei em casa fui direto pro banheiro, dar banho nele pra depois tomar banho também.

Caio: Tô cheiroso. - Disse assim que eu terminei de colocar a roupa nele, e depois pulou da cama, indo em direção a sala.

Ísis: Filho, fica aqui quietinho que a mamãe vai tomar banho, tá bom? - Falei ligando a televisão e logo colocando no desenho favorito dele, Bob Esponja. - Tá bom, Caio? - Repeti, olhando pra ele.

Caio: Tá. - Respondeu concentrado na tv.

Eu peguei uma toalha e fui tomar um banho rápido, pra não deixar o Caio sozinho por muito tempo, por mais que ele seja bem quieto, tenho medo dele se machucar.

Fiquei uns dez minutos no banho e depois saí enrolada na toalha, e tomei um susto enorme quando vi um homem na sala, conversando com o Caio.

Além do Prazer Where stories live. Discover now