O dia mais esperado

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Sacudi a cabeça, fechando o livro antes de me levantar. Eu não iria lê-lo mais. Não iria ler mais nada naquele dia, estava muito atordoado. As almas falecidas daquele dia poderiam esperar mais um, para então poderem receber minha assinatura em suas obras e enfim irem para a fila do julgamento, para serem testadas se iriam para uma eternidade boa, mediana ou péssima, ou ainda, se poderiam reencarnar.

Caminhei devagar entre os diversos e longos corredores da casa solitária e vazia. Às vezes pensava que viver ali era tanto uma dádiva quanto um castigo. Eu odiava as outras pessoas, gostava mil vezes mais de ficar apenas em minha companhia, mas ficar sozinho por tanto tempo começa a te fazer odiar até mesmo a sua companhia. Era enjoativo ficar só com você mesmo.

Apareci na enorme sala de jantar e percebi que a mesa já estava repleta de coisas que eu adorava comer na hora do meu almoço. A magia do lugar me ajudava muito também, ao manter tudo limpo e organizado, fazendo minhas refeições e cuidando da minha saúde.

Porque sim, deuses podem ficar doentes. Doentes da cabeça, eu quero dizer. É o lado ruim de você ter o mundo nas mãos e às vezes não saber o que fazer com isso. É como se nada te satisfizesse e isso acaba te deixando maluco.

Como eu sou Hashirama – ah sim, vou passar a usar meu nome japonês também, mas não tem nada a ver com a escolha do Tobirama –, filho de Nix, deusa da noite, uma das deusas primordiais, minha fonte de poder é muito mais potente do que de Tobirama – aquele que eu não gosto, só para lembrar – e a dele é muito mais potente do que a de Ares, por exemplo. E esse, é ainda maior do que de um deus menor.

Isso quer dizer que eu não necessariamente preciso comer três vezes por dia como os humanos. Deuses menores não precisam, eles podem sobreviver muito bem e firmemente com uma refeição a cada uma semana. Eu poderia viver sem comer nada por um ano inteiro, mas amo o gosto que comidas tem. Amo saborear, desfrutar do gosto, então como sempre que posso.

O que é sempre.

Assim que me sentei na cadeira da ponta, todas as comidas desapareceram e aquele maldito livro voltou a aparecer, fechado do jeito que deixei na biblioteca, apoiado na mesa bem na minha frente. Grunhi, irritado com a casa.

— Estou com fome! – Tentei protestar, mas como resposta, o livro se abriu e as páginas começaram a ser passadas depressa até pararem novamente, uma boa porcentagem mais para frente de onde eu tinha parado antes. — Você não pode me obrigar a ler!

Um maravilhoso prato de cheesecake de morango apareceu do outro lado da mesa, como se a pessoa que fosse se sentar de frente para mim, na outra ponta, estivesse para comê-lo. Minha boca salivou, era a sobremesa que eu mais gostava.

— Ah, como eu odeio você. – Resmunguei, nada satisfeito com aquela chantagem. — Tudo bem, tudo bem. Você venceu. Eu vou ler essa porcaria.

Respirei fundo, apoiando os braços ao lado do livro na mesa. Li a data primeiro, notando que havia passado nove anos de onde eu tinha parado. Olhei para o cheesecake mais uma vez, meu estômago roncando como incentivo.

Era só fazer aquilo de uma vez e eu não desperdicei mais tempo.


💀📖 💓


Quando a concha soou, deu início ao dia mais esperado da vida dela.

Izuna abriu os olhos no mesmo segundo, sorrindo largo ao que todos os seus irmãos começaram a soltar gritinhos animados. Ela riu quando seu colchão afundou com o peso deles e tentou não ficar surda com toda a falação que logo se iniciou.

Akai Ito - TobiizuWhere stories live. Discover now