O grande livro dourado

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Mas nenhum outro livro tinha aparecido em minha poltrona antes, como quem pede para ser lido. Nenhum livro antes tinha uma cor tão dourada, nem mesmo o meu era assim. Era quase como se... Emanasse poder. Como se fosse extremamente importante.

Me sentei na poltrona, ainda com o cenho bem franzido. No mesmo segundo que abri, virando a capa, uma música calma e suave começou a ecoar por toda a biblioteca, como foi programado para fazer. Não era do meu feitio ler página por página das histórias, eu gostava apenas dos momentos mais marcantes e, de alguma forma, os livros sabiam disso, correndo as páginas por mim até onde precisasse.

Então esperei que as páginas virassem uma a uma numa velocidade incrível até o final, quando mostraria o porquê do ser dono daquele livro ter morrido. Mas não foi o que aconteceu, mal tinha virado algumas poucas e tinha parado, esperando que eu lesse.

Franzi ainda mais o cenho, mas olhei a data. Me surpreendi ao ver como era recente. Muito recente. Era de poucos anos atrás. Provavelmente era uma alma humana, não tinha outra explicação. Mas uma alma humana não possuiria um livro tão poderoso.

Eu só tinha uma forma de descobrir o que tudo aquilo significava e a biblioteca pareceu sentir isso, pois a música ficou mais baixa e a iluminação intensificou um pouco mais em cima de mim, como se eu precisasse olhar para cada traço de cada letra para conseguir fazer o que tinha que fazer.

E era exatamente isso mesmo.

Respirei fundo e li a primeira palavra, meu estômago se comprimindo conforme as próximas passavam pelos meus olhos. Senti meus ombros pesarem, as páginas começaram a ficar ainda mais amareladas e a música parou de fazer sentido. Li mais algumas linhas antes de parar de enxergar as palavras, sentindo meu rosto muito próximo do livro.

E, no próximo segundo, eu estava dentro dele.


💀📖 💓


- Tudo bem, Izu. - A garotinha se encolhia nos braços do pai, que tentava inutilmente fazer ela parar de chorar alto e tremer, já que a mesma estava extremamente apavorada. Ele mesmo estava. - Vai ficar tudo bem.

- Papai... - Ela choramingou, as mãos ensanguentadas pelos machucados que havia recebido na sua fuga com o mais velho. - Papai, estou com medo...

- Eu sei, meu amor. - Ele sorriu cansado. Seu rosto estava pálido e suado, as olheiras embaixo de seus olhos estavam profundas e ele mal tinha força para demonstrar que poderia protegê-la daquilo que os atacavam há dias. - Já estão chegando, não precisa se preocupar.

- Quem está chegando, papai? - Ela o olhou desesperada pelos sons brutais que aqueles três demônios faziam enquanto os caçavam. - Um super herói? - O mais velho riu soprado, fechando os olhos por muito tempo, quase se rendendo de vez.

- Quase isso, filha. - Ele sussurrou e ela o olhou mais preocupada, já que ele vinha piorando gradativamente a duas horas. - Vão cuidar de você...

- De mim? Mas e você? - Ela pediu, mas ele não respondeu. Os olhos escuros dela aumentaram de tamanho, seu coração disparando pelo pânico. - Papai? - O balançou, percebendo então quando o mais velho deixou seus braços caírem na grama úmida cheia de terra e folhas murchas, sem mais aquela força na qual ele a abraçava pela cintura. - Papai! - Ela falou mais alto, o balançando com mais força. - Papai! Acorda! Papai!

Aquele som alto e assustador foi feito de novo e ela se encolheu, começando a chorar de puro desespero. Suas mãos pequenas e trêmulas seguraram as frias e suadas do mais velho, apertando com toda a sua força. Mesmo que aqueles monstros a achassem ali, ela não deixaria seu pai para trás.

Akai Ito - TobiizuWhere stories live. Discover now