• 20. Damn •

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Jeon

Quando a porta se fecha me viro para minha mãe, sentindo meu corpo tenso e meu coração acelerado pela raiva. Como ela pode ser tão estúpida?

-Que vexame Jungkook, dizendo que não acredita em Deus só para agradar uma putinha como aquele garoto. -minha mãe diz em tom de deboche, passando a mão pelos meus livros.

-Se você considera Taehyung uma putinha o que deve pensar sobre você mesma, ein? -revido e ela para de passar a mão pelos livros.

-O que disse? -pergunta, ainda sem olhar para mim.

-Sinto muito, mamãe. Mas a partir do momento em que você não me respeita e sequer demonstra que um dia vai fazer isso, meu respeito por você também acaba. -sinto as palavras armagas em minha língua e ela se vira lentamente para mim.

-Eu sou a sua mãe, Jungkook. Tenho total direito e controle sobre a sua vida e decisões já que eu quem te coloquei no mundo.

-Eu não pedi para que você me deixasse nascer. Porque você não fez o que queria fazer desde sempre? Acha que nunca ouvi suas discussões com o papai quando eu era uma criancinha, quando você dizia que eu arruinei sua vida fazendo você se casar com um homem como ele? -ela passa a língua pelos lábios e cruza os braços, me encarando profundamente.

-O problema nunca foi você e sim seu pai. Mas esse não é o foco da nossa discussão -ela passa a mão pelo cabelo e volta a cruzar os braços- A partir do momento em que eu decidi gerar você e te permitir nascer, eu tenho controle sobre você. Assim como te permiti viver eu posso muito bem te mandar para junto do seu pai.

-Já é muito tarde para me abortar, mamãe. -debocho e ela revira os olhos.

-Se você não terminar com aquele garoto, vai se arrepender. -ela ameaça e eu dou uma risada estranha.

-E o que você vai fazer? Me levar para a igreja? Pois então me leve, me deixe cheio de hematomas e sem conseguir andar por dias como fez naquela época. Nada do que você fizer vai me fazer desistir dele. -ela dá um sorrisinho e chega um pouco mais perto.

-Você não será o único machucado na história. Eu também posso machucar ele e a culpa será toda sua. -seu tom de voz está baixo e assustador, engulo em seco e cruzo os braços.

-Você tem noção de que está disposta a machucar seu filho por uma coisa que você nem sabe se existe? Vai me machucar em nome de quem? Deus? Ele não é amor e justiça? Que justiça é essa que permite com que a mãe machuque o próprio filho só porque ele quer beijar um homem? -me exalto um pouco e ela passa a língua pelos lábios outra vez, ficando em silêncio.

Com certeza os argumentos ridículos dela acabaram e ela não sabe mais o que falar, a única coisa que ela consegue fazer é respirar fundo e passar a mão pelo cabelo enquanto me olha. Me estrangulando com o olhar.

-Certo. -ela diz depois de um longo tempo me encarando, parecendo convencida- Não diga que eu não avisei depois, será tarde demais para se arrepender dessa sua escolha mal pensada. -ela diz passando por mim e saindo pela porta.

Respiro fundo e me jogo no sofá, sentindo um aperto no peito. Ela não vai ser capaz de me usar para machucar ele, ela sequer o conhece.

Ela não seria tão louca a esse ponto... Seria?

Me levanto do sofá e subo para meu quarto, vou direto para o banheiro e tiro rapidamente as roupas antes de entrar em baixo do chuveiro. Deixando a água gelada cair sobre mim.

Porque minha mãe é assim? Desde quando eu era uma criancinha ela agia dessa forma estranha. As vezes eu me pergunto se ela tem algum tipo de problema ou desenvolveu isso após me ter.

Não é possível que alguém seja tão cruel a ponto de querer machucar o próprio filho por conta de orientação sexual. Arrastar o próprio filho pelos cabelos no asfalto enquanto o humilha não é uma coisa que alguém em sã consciência faria.

Se ela não fizer nada nos próximos dias e eu ganhar tempo, eu vou tentar procurar uma ajuda psicológica para ela. Pode ser que eu gaste dinheiro atoa e seja só a personalidade ruim dela, mas não custa tentar.

Porque.. mesmo me machucando tanto física quanto emocionalmente, eu ainda não consigo deixar ela sozinha. Esse é o motivo pelo qual eu ainda suporto as coisas que ela diz e faz, eu sou um molenga.

Na primeira vez que ela me ligar chorando e pedindo ajuda eu vou sentir meu coração doer e me achar a pior pessoa do mundo. Mas isso só acontece quando é ela quem faz, talvez ela tenha me feito sentir isso para me manipular.

Respiro fundo e levanto a cabeça, deixando a água cair em meu rosto. Prendo a respiração por alguns minutos, tentando fazer meu cérebro parar de pensar um pouco.

Solto o ar aos poucos e desligo o chuveiro, ficando mais um tempo parado no mesmo lugar. Quando minha vida se tornou tão complicada? Aliás, algum dia ela já foi fácil?

Dou uma risadinha frustada e caminho até o quarto, colocando um short e secando o cabelo com a toalha. Me sento na cama e pego meu celular, abrindo a conversa de Taehyung.

Pergunto como ele está e me deito na cama, encarando o teto. Taehyung me disse que ele sempre faz isso quando está se sentindo sufocado, ele deita na cama e olha para um ponto específico do teto do quarto.

Ele não se concentra em nada além daquele ponto imaginário e deixa com que a mente e o coração dele tomem controle, segundo ele no começo é uma bagunça e é desesperador a forma como as vozes na cabeça dele gritam tentando ter a razão.

Mas depois de um tempo tudo vai se acalmando, é quando os olhos dele começam a pesar e a mente vai ficando cada vez mais silenciosa. As únicas vozes que ele escuta é a de quem ele gosta, da pessoa que o faz bem.

"Bom dia, Jeon"

Ele começa a enxergar essa pessoa no ponto imaginário do teto, sua mente fez tanto barulho que ele ficou com sono e está tendo alucinações. Segundo ele o sorriso dessa pessoa o acalma, aquele sorrisinho quadrado que chega até os olhos que quase se fecham.

"Você me deixa todo sem jeito"

Ele também enxerga o cabelo bagunçado dessa pessoa quando finalmente fecha os olhos, se deixando levar pelo sono. Segundo Taehyung, o cabelo dele mesmo que aparente ser não cuidado é macio e cheiroso. O cheiro dessa pessoa é o seu favorito.

No final, quando ele está quase dormindo tudo isso se junta em uma pessoa só. O cabelo bagunçado, as bochechas rosadas e o sorriso fazendo os olhos quase se fecharem, e, por último, a voz dessa pessoa diz:

-Tenha bons sonhos, Jeon.

• Se Eu Tivesse Dezessete Vidas • [TaeKook]Where stories live. Discover now