• 04. Oh shit •

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Jeon

18:50.

Quando as aulas acabaram minha mãe me encontrou do lado de fora da escola, ela cismou que eu estava fazendo alguma coisa errada e veio checar. Como se eu ainda fosse uma criança.

Pela cara que Taehyung fez quando me viu conversar com ela eu sei que ele entendeu tudo errado. Eu estou disposto a conversar com minha mãe hoje, não vai ser fácil mas não pode ser impossível mesmo que estejamos falando sobre minha mãe.

-O que foi Jungkook? -ela pergunta baixo, tentando manter a classe no meio das pessoas- Você nem tocou na comida.

-Não estou com fome. -me limito a dizer, estou irritado com ela.

-Você não tem que comer só quando está com fome, coma. -ela manda e eu a olho, eu sei que ela é minha mãe mas estou farto de ser tratado como criança.

-Mãe, quantos anos eu tenho? -pergunto olhando fundo nos olhos dela.

-Que pergunta idiota, Jungkook.

-Por favor, responda. -peço, totalmente calmo.

-Vinte e seis.

-Exatamente. -falo e ela franze as sobrancelhas- Eu tenho vinte e seis anos, eu sei o que estou fazendo. -ela respira fundo e passa a língua entre os lábios.

-Eu sou sua mãe, você não sabe o que é o melhor para você. Eu te conheço melhor do que ninguém. -ela diz em um tom rude, como se estivesse falando com meu eu de quinze anos.

-Qual é minha cor favorita? -pergunto e ela ri baixo.

-Não seja estúpido.

-Se você me conhece melhor do que ninguém, deveria saber. -falo e ela me olha.

Seus olhos verdes me encaram profundamente, mostrando toda a raiva que ela está sentindo por ser contrariada. Minha mãe não suporta o fato de estar errada, as pessoas tem que seguir o que ela determina certo e se elas não o fazem; minha mãe as humilha até conseguir o que quer.

-Eu não vou discutir com você, sua idade são apenas números. Não determina que você tem maturidade suficiente para cuidar da sua vida. -ela diz sem desviar os olhos.

-Então eu ter um trabalho fixo há mais de três anos, um apartamento que eu comprei com meu próprio dinheiro e um carro que eu também comprei com meu próprio dinheiro não são suficientes para mostrar que eu sei cuidar da minha vida? -ela respira fundo e levanta uma sobrancelha, seus olhos mostram o quão furiosa ela está.

-Sim, se você fosse inteligente depositária esse dinheiro na casa de Deus -ela diz e eu rio cínico- Você nunca deveria ter saído da minha casa para gastar com coisas atoa, eu sempre te dei tudo. -ela diz e eu reviro os olhos.

-Não, você não deu. -começo e ela  franze as sobrancelhas- Se você realmente tivesse me dado tudo, teria me respeitado quando viu que eu beijei um garoto e não teria me jogado no meio da rua e me levado a igreja como se eu fosse um monstro. Ou melhor, um filho do diabo, como você disse. -falo e ela tomba a cabeça para o lado.

-Eu sabia que você estava aprontando, o que é? Vai se envolver com um homem de novo? Vai se tornar um pecador sujo outra vez? -ela diz, sabendo o quanto essas palavras me machucam- Vai escolher queimar no inferno junto com seu pai?

-Qualquer lugar que não seja ao seu lado está bom para mim -ela se afasta com a mão no peito, não era para ter verbalizado esse pensamento.

-Como você pode ser tão ingrato assim?

-Como você pode ser tão estúpida? -devolvo a pergunta e ela ri, uma risada estranha.

-Você vai a igreja hoje a noite comigo, pelo visto o padre não fez um bom trabalho. -ela diz.

-Não, eu não vou.

-Você quer se envolver com um homem. -ela se exalta e as pessoas a nossa volta a olham- Você não vai me envergonhar.

-Você faz isso por conta própria. -falo a olhando com desprezo.

-Você não vai se envolver com um homem, se você fizer isso pode esquecer que eu sou sua mãe. -ela fala, totalmente certa de que eu vou desistir.

Com um sorrisinho cínico eu a encaro, olhando bem no fundo de seus olhos.

-Como preferir, Sra. Choi. -falo e ela pisca devagar.

Ela se levanta da cadeira e arruma o vestido preto que usa desde que meu pai se separou dela, é uma forma de "luto" que ela usa. Ela sempre dramatiza a separação deles, mas foi a melhor coisa que ele poderia ter feito.

-Eu espero que você se arrependa e venha rastejando até mim, que beije meus pés e arranhe seu corpo no asfalto como fez da última vez que escolheu beijar um homem. -ela diz, sua voz está baixa -Eu espero que você queime no inferno como seu pai.

-Ser queimado pelo fogo é muito melhor do que me limitar a uma imagem perfeita que eu nunca quis seguir. -falo sem desviar os olhos dos dela.

Ela vira as costas e caminha para fora do restaurante, sem olhar para trás uma única vez. Sem ter o que fazer eu pago a conta e vou para casa, parte do peso foi tirado dos meus ombros mas ainda tem a outra parte. A parte que me faz pensar em tudo que pode dar errado.

A escolha de ser você mesmo quando você passou a vida toda sendo alguém que não era pesa, pesa muito. Você está escolhendo dar sua cara a tapas para uma sociedade que aponta o dedo para você independente de como você se comporta. Você está escolhendo ser apontando por dedos mais podres que o seu.

Mesmo que pese, não pesa tanto como continuar sendo quem eu não era. Esse peso é mil vezes mais leve, é como colocar uma criança no chão depois de horas a segurando na mesma posição.

Assim que abro a porta Milly se esfrega em minhas pernas, miando alto. Tiro os sapatos e fecho a porta antes de me abaixar e acariciar a bolinha de pelo.

-Olá, Milly -falo com um sorrisinho e ela se senta- Como você está? -ela pisca e mia, como se entendesse o que eu disse- Eu também estou bem. -falo com uma risadinha e a acaricio mais um pouco.

Caminho até o banheiro e tiro minha roupa, um banho quente depois de uma conversa estressante é tudo o que eu preciso.

Fecho os olhos quando a água quente cai sobre mim, relaxando meus músculos e tirando mais uma pequena parte do peso, o sorriso dele me vem a mente e eu engulo em seco abrindo os olhos.

Como alguém pode ter um sorriso tão lindo? Eu disse para minha mãe que ia me envolver com um homem, mas eu não sei se vou ter essa coragem. É um passo muito grande, o que as pessoas vão pensar de mim? Com certeza elas vão dizer que eu sou um otário.

Não vai ser mentira, mas eu não quero que me olhem torto toda vez que eu passar pelos corredores da escola ou na rua. Com minha mãe é mais fácil pois eu sei com quem estou lidando, mas pessoas desconhecidas podem fazer algo que eu não espero.

Eu não quero me machucar. Não outra vez. Fecho os olhos outra vez e respiro fundo, eu estou confuso com tudo isso e isso me irrita.

O jeito como ele sorri para mim me faz pensar que não tem nada errado nisso, a forma como ele demonstra o que sente faz com que eu sinta que o que os outros vão pensar não importa. Mas sempre que eu vou tentar falar com ele, alguém aparece ou a voz da minha mãe surge na minha mente.

"Você está sujo", isso me irrita. Porque eu estou sujo quando nunca machuquei ninguém para me sentir melhor? Se eu estou sujo, ela deve estar em decomposição. Se eu fosse Deus, me envergonharia de ter alguém como minha mãe seguindo minhas leis de forma tão errada.

Outra vez o sorriso dele aparece, fazendo me estômago gelar. O jeito como ele diz "boa tarde, Jeon" e me deixa fraco é incrível.

Será que vale a pena ser julgado pelo resto da minha vida só para ter ele sorrindo todas as manhãs do meu lado?

• Se Eu Tivesse Dezessete Vidas • [TaeKook]Where stories live. Discover now