Parte 2 - Capítulo 5: Refrão

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imagem: Etsy Mexico

Anya Vengerberg ficou paralisada naquela noite de sexta, uma mão segurando forte no couro branco que revestia o volante do seu Land Rover Discovery cor de pérola, a outra mão ainda segurando o celular, reproduzindo um áudio de sua grande amiga Tessa no WhatsApp.

Ela tinha batido em alguém, sabia disso. Precisava olhar para os lados para se certificar de que ninguém tinha visto, ou quem poderia ter visto. Precisava se forçar a sair do carro e verificar porque não conseguia ver a pessoa que tinha (provavelmente) atropelado. Ela não tinha atropelado, certo? Quer dizer, a pessoa já ia levantar em alguns segundos, não é? Era sempre assim, afinal Anya sempre fora meio distraída ao volante, já tinha precisado sair de algumas enrascadas de trânsito... Mas era uma rua tão tranquila, ela não pensou que precisaria reduzir a velocidade naquele trecho...

Anya piscou com força algumas vezes antes de colocar a cabeça para fora da janela, por fim. Viu um tênis all star, um pedaço da calça jeans por cima, mas era só. Abriu a porta vagarosamente, se forçando a não olhar para lugar nenhum ainda que não fosse a pessoa que não se mexia.

Era um rapaz, jovem, uma tela piscava a alguns metros de distância dele. Então ela não era a única que se distraia com o celular, oras...

Anya tentou se abaixar o máximo que sua saia midi permitia, apoiando-se nos saltos Louboutin que usava. Percebeu, pelo movimento das narinas no rosto anguloso e pelo abdômen que subia e descia muito, muito lentamente, que ele estava vivo. Ela suspirou, e conseguiu enfim olhar ao redor. Ninguém parecia ter visto o que tinha acontecido. Ufa!

Ela deu uma olhada na frente do carro, procurando por algum sinal de batida ou arranhão, ou... Sangue. Nada. Decidiu manter a calma, afinal, precisava tomar providências. Seria como das outras vezes, só um imprevisto e pronto. Discou o número do marido ao telefone.

- Amor? Onde você está agora?
- Oi, querida. Estava saindo do jantar dos sócios. Tudo bem?
Ela ficou reticente.
- Hum... É que... Probleminha de trânsito.
- Multa de novo, meu bem?
- Hã... Um pouco pior.
- Ciclista?
- Um adolescente, acho. O problema é... Ele está desmaiado. Não sei bem o que fazer.
- Alguém viu? Tem pessoas aí?
- Não, não. Por isso queria que você viesse o mais rápido possível. Antes que... Bem, alguém veja.
- Certo. Se alguém passar, você fala que já chamou a perícia. Você não bateu em outro carro, certo?
- Não, não, amor. Foi só um acidentezinho, distração. Ele... - ela espiou pelo canto de olho. Abdômen ainda subindo e descendo lentamente - Ele está respirando.

Ela ouviu um suspiro do outro lado da linha. Anya encolheu-se um pouco, foi involuntário. Era como esperar pela bronca de um pai.

- Tá, tá bem. Ligue para a emergência, espere pela ambulância e acompanhe-os. Demonstre muita preocupação, você é boa nisso. Vou continuar na linha o caminho inteiro, vá me avisando do que for acontecendo.

Anya percebeu que seus dedos tremiam ao digitar, mas procurou manter a calma. Ia ficar tudo bem, ia dar tudo certo. Henry sempre resolvia tudo, dessa vez não seria diferente.

Em alguns minutos de imenso silêncio, ela viu os faróis da ambulância chegando, e com eles, algumas cabeças curiosas começando a se pronunciar nas portas das casas. Droga. Endireitou-se e manteve a dignidade. Não tinha feito nada de errado. Fora apenas um acidente.

Um par de jovens enfermeiros começaram o atendimento padrão enquanto Anya se concentrava em não demonstrar seu nervosismo. Ao ouvido, a voz do marido:

- Você podia ter apenas seguido em frente, sabe disso, não é?
- Henry, eu não poderia... O pobre rapaz aí no chão... - ela choramingou.
- Anya, ninguém viu, não há testemunhas.
- Só a minha consciência - ela protestou - Eu, mãe da ex-representante do Comitê de Juventude por 2 anos seguidos e atual presidente do conselho de pais de Kaer Morhen High, iria simplesmente atropelar um rapaz que pode muito bem ter estudado lá e seguir em frente?
Henry bufou do outro lado da linha.
- Você não entende mesmo como o mundo funciona. Mas vá lá, entendi. Temos que fazer logo alguma coisa. Vi algumas luzes acesas nas casas ao redor. Sorte que esse carro é muito silencioso.
- Precisamos pelo menos levar para o hospital.
- Não para qualquer um, certifique-se de que seja o Central. Assim, se vazar algo, vamos poder providenciar que eles digam para a imprensa exatamente o que aconteceu.
- Claro. Prestamos socorro a um jovem que foi atropelado por um motorista maluco, provavelmente embriagado - Anya ia dizendo, enquanto se perdia em pensamentos.
- Algo do tipo. Mas temos de ter certeza de que não vão associar o que aconteceu a você, como das outras vezes.
- E obrigada sempre, amor.

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⏰ Last updated: Mar 19 ⏰

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