Parte 1 - Capítulo 4: De Fagulha a Chama

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Arte: Saatchi Art

Ao final de seu primeiro mês em Kaer Morhen High, Geralt se sentia atordoado. Não, não tinha a nada a ver com os estudos. Modéstia à parte, tanto ele quanto Ciri não estavam tendo a menor dificuldade em acompanhar suas aulas. Como Ves disse, e tinha razão, ele os tinha preparado bem nesse sentido: ao final daquele mês, Ciri já estava se destacando com suas habilidades de leitura e escrita impecáveis, já estava engajada no clube de leitura da escola e começava a se aproximar dos colegas facilmente, sendo ela encantadora como era. Geralt, por sua vez, mais introvertido, ia bem nas aulas, entregava todos os trabalhos e atividades com antecedência e costumava conversar com os professores de igual para igual. Mas em sua idade, isso pode despertar alguns olhares atravessados, outros, de admiração. Ele quis evitar o quanto pode, mas sua inteligência e desenvoltura em todas as disciplinas começava a chamar atenção. Para Geralt, ele só estava sendo ele mesmo, porém, fugia o máximo que podia de interações desnecessárias. A não ser com uma pessoa.

E era de onde vinha o atordoamento de Gary: Yennefer realmente tinha lhe intrigado. Durante aquelas primeiras semanas, os dois mantinham contato da maneira mais confortável para ele, que era trocando bilhetes na sala de aula, sempre nos intervalos entre uma aula e outra. Até que por fim, Yennefer tinha deixado seu número de telefone em um dos bilhetes. Geralt aceitou a dica. Felizmente, os outros alunos pareciam até bastante intimidados pela aparência até mesmo pelo jeito dele. Era plenamente consciente de que ele não era uma pessoa fácil de se aproximar assim, de primeira. Por isso, valorizava passo lento da garota para não o sobrecarregar de perguntas e conversa fiada. O contato se limitou a mensagens de Whatsapp eventuais, sempre falava amenidades, uma observação sagaz do dia a dia, um comentário espirituoso sobre algum professor, mas era só. Nada de "Onde estão seus pais?", "Onde você mora?", "Por que seus cabelos são brancos?", como ele temia que muitos outros alunos perguntariam assim que tivessem oportunidade. Era por isso que ele deixava aquela porta aberta para Yennefer, porque ela respeitava sua solidão, parecia entender que ele simplesmente gostava de ser deixado em paz.

Esse atordoamento se convertia em algo mais parecido com ansiedade, vez ou outra, pois ele sentia que Yennefer não tinha se aproximado dele apenas querendo um amigo. Mas novamente, ele não tinha muita experiência nesse aspecto, na verdade, não tinha nenhuma. Pelo menos, não experiência própria, na ficção, bem, tinha alguma. Porém... Era diferente estar perto dela. Era diferente estar perto de qualquer um, mas dela... Ele não conseguia se lembrar de se sentir assim perto de outras pessoas, outras garotas. E pelo menos nos livros e na TV, esse era um primeiro sinal de que talvez ele quisesse... Mais.

Havia um interesse mútuo, pelo menos. Disso ele tinha certeza. Era até fácil entender isso racionalmente. Mas quando estavam próximos, quando ela o fitava com aqueles olhos lilás, e o cheiro... Gary não sabia mais como disfarçar como o cheiro dela o afetava. Era por isso que sabia que era recíproco: não era normal ele sentir cheiros assim tão intensamente, isso só podiam ser feromônios, é claro. E ninguém sai por aí detectando feromônios alheios a não ser que tenha propósitos de... Reprodução. Mas também tinha a família dela, eles não eram donos de uma marca de cosméticos? Deviam ser produtos muito bons, pois mesmo de uma distância considerável, sentia seu cheiro como se ela estivesse ao lado dele. Ele sentiu o rosto quente. Pigarreou sozinho no quarto, tentando voltar a fazer sua lição de casa antes que Ciri cansasse de esperar por ele para assistirem mais um episódio de Stranger Things antes de dormir.


***


Trinta dias tinham se passado, mas para Yennefer eram como anos. Ela estava fazendo malabarismos para dar conta da eleição do grêmio estudantil (ela era favorita a repetir a presidência), da organização do primeiro bazar do ano para arrecadar fundos para o abrigo de animais abandonados, a feirinha de adoção de cães e gatos que ela também ajudaria a organizar, tudo isso tendo que fazer todas as tarefas e trabalhos da escola. Além disso, seu tempo extra era todo dedicado a aulas de francês às segundas, dança contemporânea às quartas e natação aos sábados. Não sobrava tempo na agenda de Yennefer Vengerberg para ser apenas Yen.

Teen White Wolf - Uma fic "The Witcher" [vol. 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora