48. Eu Nunca Vou Te Perdoar.

6K 582 76
                                    

🥀



              𝓞 mundo todo pareceu parar quando o exército passou pelos muros caídos, unidos num bloco sólido de híbridos e Lostess. Arquejei de desespero ao constatar que era mesmo minha mãe ao lado de Luke, exatamente como sempre tinha sido. Seus cabelos pretos ricocheteavavam no vento forte e sua expressão era cruel. Nunca em minha inteira vida senti tanto espanto. 

FORMAÇÃO! — Taurus gritou ao meu lado e os guardiões prontamente se enfileiraram, erguendo suas lanças. Olhei para Darkless a tempo de ver seu rosto concentrado antes das pontas afiadas das lanças se acenderem em fogo, como uma tocha. — ATAQUEM

Ao mesmo tempo em que a guarda rugiu e se jogou em combate, Darkless ergueu uma muralha invisível que fez com que exército inimigo se chocasse contra ela; aqueles que a tocaram se transformando em cinzas imediatamente. Gritei de susto quando Darkless me puxou pelo braço, sua mão firme em meu braço emanando estática. 

— Me perdoe por ser tão egoísta, Lizzie. Não posso te perder. — Darkless sussurrou aflito. 

— Aztraz, o que… 

O Mestre me segurou forte com uma das mãos e levou o próprio pulso até os lábios, onde mordeu com força. Meu coração acelerou dolorosamente quando Aztraz chocou o pulso contra minha boca, obrigando-me a beber seu sangue. Lágrimas tomaram meus olhos quando comecei a debater em seu aperto de aço, mas ele só parou quando achou que eu tinha ingerido o suficiente de seu sangue. 

De olhos arregalados, o encarei com o coração dolorosamente acelerado. A traição queimava meu peito, assim como as lágrimas queimavam meus olhos; num impulso, levei a mão para trás e acertei um tapa de mão aberta em seu rosto angelical. Ultraje tingiu suas feições. 

— Eu nunca vou te perdoar por isso. — Minha voz falhou conforme as lágrimas me tomaram e eu limpei a boca cheia de seu sangue amargo. 

— Desde que você viva para me odiar, eu não me importo. 

Não tive tempo de responder porque a barreira invisível explodiu, fazendo o chão tremer. O corpo de Darkless tensionou por inteiro, pronto para lutar. 

— Lizzie, pegue Liam e ajude os outros a protegerem as crianças! — Darkless ordenou me empurrando em direção a Liam. 

Gritei quando o primeiro Lostess passou pelos outros e colocou frente a nós; seus olhos vermelhos estavam fixos em Darkless, sua pele era tão branca que parecia papel, nunca tinha visto nada do tipo. Aztraz rapidamente se ocupou dele e eu peguei Liam pela mão e corri em direção as mulheres mais velhas que corriam com as crianças da Corte. Tudo foi como um borrão; corri ao lado das mulheres, me esforçando ao máximo para acompanha-las, e então percebi que estava correndo como elas, como Darkless, voando pela grama de esmeralda com Liam ao meu lado. O desespero pela situação era tamanho, que resolvi guardar o surto de estar correndo como um vampiro para mais tarde. Uma senhora de cabelos ruivos grisalhos abriu a porta de um alçapão no chão e as crianças começaram a ser empurradas para dentro, algumas choravam, outras gritavam, mas a maioria estava chocada demais para esboçar qualquer reação. Liam foi o último a passar, seguido pela senhora que abriu a porta, e quando pensei que as outras mulheres os seguiriam, uma delas me olhou com impaciência. 

— Entre logo! Precisamos fechar a porta e ir ajudar os outros a defender a Corte! 

Levei um segundo para processar todas as possibilidades que eu tinha. Poderia me esconder e ficar em segurança junto com as crianças, até mesmo ajudar a acalma-las, ou poderia ser corajosa como aquelas mulheres, que mesmo idosas e com a aparência cansada, se jogariam na luta e progeriam seu lar. Nunca decidi algo tão rápido. 

— Irei com vocês. Também irei lutar. 

— Você é uma humana! — A mulher de cabelos cacheados sibilou. — Você só irá morrer! 

— Não, não sou. Sou uma Híbrida, igual aqueles que estão atacando a Corte, mas diferente deles, eu luto ao lado dos vampiros, eu sigo a liderança de Niklas Darkless. Irei com vocês, e se for preciso, darei minha vida para proteger essa Corte. 

Pensei que a mulher me olharia com desprezo após revelar minha raça, ou que me jogaria dentro do alçapão contra minha vontade, mas o que vi fez meu coração se aquecer. Ela me olhou com respeito. 

— Vamos a luta, então. — Ela disse fechando o alçapão num baque alto e estendeu sua mão para mim. — Eu sou Alma, é um prazer lhe conhecer, Lizzie Relish. 

●❯────────・❪ 🥀 ❫ •────────❮●

Tudo estava um caos. Para onde quer que eu olhasse havia luta, sangue e morte. Eu não via Luke em lugar algum, mas sabia que ele estava aqui. O mais impressionante era Darkless. Ou melhor, os Darkless. Haviam mais de dez Mestres lutando contra os híbridos e os Lostess, e eu não sabia qual deles era o real, ou se todos eram reais. 

— O que… O que o Darkless está fazendo? Isso são clones? — Perguntei a Alma que seguia ao meu lado enquanto procuravamos o que fazer, onde ajudar. 

— Sim e não. Ele está desdobrando sua alma e criando novos corpos que controla ao mesmo tempo. Ele provavelmente está gastando toda sua energia enquanto olhamos. 

Meu coração bateu forte no peito, preocupação tomando minhas veias. Eu precisava ajudar. Precisava. Mesmo que naquele momento odiasse Darkless, havia falado sério quando disse que daria minha vida para proteger aquela Corte.

— Ali! — Alma gritou apontando para uma vampira que lutava contra dois híbridos. — Vamos! 

Corri atrás de Alma, serpenteando pelos corpos caídos, novamente a velocidade me tomou e apareci ao lado da vampira que se esforçava para defender sua posição. Alma mordeu o pescoço de um dos híbridos e eu chutei o outro com toda força que tinha, o fazendo cair no instante que a outra vampira quebrou seu pescoço. 

— Preciso de uma arma! — Pedi em desespero, percebendo que não conseguiria lutar com ninguém apenas no corpo a corpo. Alma tirou de dentro da jaqueta uma adaga longa, de cabo liso prateado e lâmina aparentemente muito afiada, e me entregou. 

— Agora vamos! 

Corri atrás dela, o coração batendo a mil no peito enquanto atravessavamos os jardins; tanto os nossos quanto o inimigo pareciam estar morrendo num empate sangrento e ao mesmo tempo que eu queria lutar e ajudar, queria me esconder e chorar em posição fetal. Olhando fixamente para frente, não notei que alguém se aproximava até ser tarde demais. Algo antingiu meu quadril pelo lado e me jogou pela grama, num instinto que nem sabia ter, consegui cair de pé e erguer a adaga. No entanto, nada poderia ter me preparado para o que vi. 

Minha mãe.  
De olhos vermelhos como os Lostess.

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora