Capítulo 36

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A semana começou recheada de boas notícias para Tommy e Loly e a empresa de consultores de estilo que, sem querer, estavam fundando juntos. Além da amiga da Patricia que precisava de um enxoval de viagem para o mês seguinte (e ela era bem menos brega – Tommy achava que dava muito mais gosto procurar por roupas, enquanto Loly gostava de desafios) e da outra amiga presente no jantar e que queria uma análise cromática, a ricaça brega resolveu ser mais gentil com os olhos dos outros e renovar inteiramente seu guarda-roupa e doar suas roupas antigas para um leilão com algum fundo caridoso. Loly achou bonito e digno. Tommy respondeu que não comprava aquelas peças nem por caridade.

Mais uma vez, os primos se encontraram em frente à mansão da Patricia, mas ao menos dessa vez Loly havia ido à aula. Aliás, ela achava que era o primeiro dia inteiro de aula que havia assistido desde que elas recomeçaram.

Só uma pessoa percebeu e chamou sua atenção para isso, e não foi nem um dos professores. Foi Nellie, uma garota-quase-amiga-mas-nem-tanto da sua sala, que disse que pensou que ela houvesse mudado de curso.

-Imagina! Eu só ando muito ocupada.

-Ocupada demais para se formar?

O que foi um comentário meio mal-educado e muito desnecessário. Loly andava mesmo ocupada... Não aquela ocupação de barata tonta em que a Baby a colocava, fazendo-a rodar em círculos, chegar em casa morta no final do dia, pensar em retrospectiva e ver que não havia feito nada por si mesma. Agora estava ocupada ganhando dinheiro, e dinheiro dela, não dinheiro para os outros. Além disso, tinha andado imensamente cansada, passando duas vezes mais base para esconder as olheiras, o que foi milagrosamente resolvido depois que ela enrolou sua mãe com o check-up e voltou a tomar os inibidores de apetite. Também andava ocupada com comida. Com o que podia comer e o que não devia. Com quantas horas conseguiria ficar sem comer e quanto peso perderia. Com, quando tivesse de comer, em não ter uma compulsão. E, se a compulsão acontecesse, se conseguiria expurgar toda a comida. E, por fim, estava ocupada com o Jake. A melhor e a pior parte do seu dia. Pior porque ele comia tanto e melhor por todo o resto.

Agora, sem apetite e agitada pela anfetamina que circulava por seu corpo, sentia-se no seu máximo. Totalmente indestrutível. Tanto que até resolveu ser boazinha apesar do comentário de Nellie.

-Você conhece a Anna McCallen? - Perguntou.

-Conheço - Ela respondeu. - Da grife de roupas, certo? Você não trabalhava com ela?

-Sim, mas apareceu uma coisa mais legal para mim. Ela está procurando uma estagiária. Você estaria interessada?

Loly não fazia ideia se Nellie era boa. E sabia que a Baby era uma chefe dos infernos. Mas não se incomodou com esses detalhes. Se uma precisava da outra, que fossem em frente e descobrissem se davam certo com o tempo.

-Estou, sim! Como eu faço?

-Vou te passar o contato dela, um minuto.

Nellie devia estar precisando ou muito empolgada, pois ligou naquele mesmo dia para Baby. E esta estava realmente necessitada, pois pediu para Nellie passar lá à tarde e a contratou para começar no dia seguinte mesmo, em regime de experiência.

No fim do dia, após a visita à ricaça brega, na qual infelizmente Louis não desfilou mais seminu, de toalha e com um jornal enrolado (aliás, ele nem parecia estar lá), Tommy foi à casa da Baby tentar filar o jantar. Em sua defesa, ele não esperava comer de graça. Estava até disposto a cozinhar, mas choraria se fosse obrigado a jantar mais algum embutido ou comida enlatada e barata. Entre a amiga e a sua mãe, optou pela primeira.

Quando Baby abriu a porta para ele (o portão já havia sido consertado), ele notou um estranho silêncio no apartamento.

-A Millie já está dormindo?

Quando a Vida AconteceWhere stories live. Discover now