Capítulo 31

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-Feliz aniversário, Tommy! - Loly, na frente da casa da ricaça brega, lhe estendeu um pequeno embrulho.

Ele sorriu, feliz.

-Obrigado, prima! Mas isso quer dizer que você não vai à minha festa?

Loly havia estado com Emily mais cedo e sabia tudo sobre a festa. "O Tommy comemora todos os anos, mas esse ano ele só tem dinheiro para batata, salsicha e sidra que os colegas de apartamento dele bebem, então ele falou com o Josh e o convenceu a fazer uma festa na boate dele sem fechar o lugar nem nada, porque quando as pessoas dão festas lá elas pagam a boate, e o Tommy não pode pagar, mas ele conseguiu que a própria entrada fosse de graça e os próprios drinques fossem de cortesia. Mas eu pago, Loly. Você também. Aí a Angie ficou revoltada, porque o aniversário também é dela e o Josh é marido e ela não queria festa em boate, queria comemoração com a família, mas está se sentindo obrigada a ir porque o Tommy também é família, aí ela vai. E eu vou. Você vai, Loly?"

Loly daria os dois braços para não ir. E ainda estava pensando que desculpa daria quando Tommy lhe perguntou, pois não se sentia à vontade para dizer nenhuma das verdades:

1) Verdade um: Sentia-se um lixo

2) Verdade dois: Ela e Jake não haviam tecnicamente feito as pazes, o que contribuía para a primeira verdade.

3) Verdade três: No momento, nada a inspirava mais que ficar em casa, vendo fotos de mulheres magras, chorando e dormindo.

-Deixe-me ver o que é isso! - Tommy desviou o foco da própria pergunta e, de dentro do embrulho, tirou um maço de cartões em fundo preto, com as iniciais T e P formadas por um design gráfico em uma paleta colorida e vibrante e, abaixo, seus nomes e a funções - Phoebe? Vai voltar a usar o seu nome?

-Acho que soa mais elegante, não? Como você, usando Thomas. Gostou? Não vou ficar chateada se quiser fazer outros.

-Eu adorei! - Ele foi sincero. Loly tinha mesmo bom gosto. - Só estou me sentindo no dever de investir nesses cartões também...

-Não, são presentes de aniversário - Ela interrompeu. - Quando eles terminarem, aí a gente vê.

Tommy tentou conter o alívio e a decepção de constatar que ele estava fazendo vinte e oito enquanto, aos vinte e um, a prima era muito mais adulta que ele. Loly reinvestia o dinheiro no negócio deles; Tommy só pensava em alternativas para a batata com salsicha.

Phoebe não era, necessariamente, um nome mais elegante que Loly. Era, sim, um nome de quem estava no controle, de quem entendia do que fazia e fazia bem. De outra pessoa. Daquela que ela era no trabalho, quando se sentia competente mesmo que sendo chamada de "garotinha" e "bonitinha", tanto fazia se era com o Tommy ou segurando sua câmera para o seu canal. Naquelas ocasiões ela era um sucesso. Já a Loly, essa era caótica demais e nunca sabia como agir. Ela brigava com um namorado maravilhoso, desapontava uma colega de apartamento superlegal e, tinha certeza, decepcionava a sua mãe.

No domingo, tinha enrolado Jake, dizendo que precisava estudar e editar o vídeo da Emily. Nada disso era mentira, só não precisava gastar o resto do final de semana assim. A semana começou alucinada como sempre e, na terça-feira, tivera mais uma consulta com Thea.

-Você precisa disfarçar melhor, Loly! - Thea advertiu. - Se desconfiarem, as pessoas nunca mais vão te deixar fazer uma dieta na vida.

O que era apavorante. Loly sabia que pegava pesado. Mas a alternativa era horrível. A alternativa era invadir o mercado mais próximo e comprar dez barras de chocolate, um pacote de marshmallows, uma garrafa de refrigerante e três sacos de batata e consumir tudo em cinco minutos, até a dor no estômago se tornar insuportável. Ela não conhecia limite. Por isso, se precisava viver de extremos, viveria no extremo que a faria magra.

Quando a Vida AconteceDonde viven las historias. Descúbrelo ahora