Depois de vinte horas de viagem, incluindo-se aí duas conexões, uma enorme quantidade de batatas Lay's, refrigerantes, algumas brincadeiras, três filmes e poucas horas de sono, dois carros alugados entraram em uma rua residencial, calma e arborizada do bairro de Punta Carretas em Montevidéu. Loly estava sentada no banco traseiro, ao lado de Jake. Sua perna encostava na dele e ela estava muito consciente disso. Apesar do sol, havia empurrado os óculos escuros para o alto da cabeça para não perder nada da cidade que visitava pela primeira vez, apesar de ter crescido ouvindo falar da casa da madrinha. Sua mãe tirava poucas férias e, quando o fazia, eles costumavam viajar pela Europa mesmo. Duas vezes foram à incrível casa que Renata comprou com o pai de Emily na Sardenha, antes que este resolvesse comprar a parte dela e a mãe tomasse ofensa (mas aceitou o dinheiro) e decidisse que não queria mais ir lá. Esteve algumas vezes na França, certa vez passou o verão na Espanha com a Emily, mas nunca foi tão longe quanto a América do Sul, mesmo tendo ascendência brasileira. O fato de estar ali com amigos, primos, o irmão e Jake dava um sabor especial.
O carro parou em frente a uma casa moderna e simples, de um andar só e linhas retas, com uma pequena escadaria na frente. Os porta-malas foram abertos, mochilas e bolsas de viagem foram retirados, e Tommy pescou do bolso a chave da porta.
-Eu durmo no quarto da mamãe! - Ele gritou, subindo as escadas de dois em dois degraus.
-Não! Eu durmo no quarto da mamãe! É o melhor quarto, Tommy! Eu e Mateus somos dois, nada a ver você dormir lá sozinho! - Lily foi correndo atrás.
-Eu sou mais velho!
-Não tem cabimento! Vou ligar para ela.
-Isso, liga. E aí fala que você quer ficar com o quarto para trepar com seu namorado na cama dela.
-Vocês têm quantos anos? Dez? - Luca se meteu. - Eu fico com a cama da mamãe.
-Nem fodendo! - Tommy e Lily disseram juntos.
-Tenho prioridade, tenho dois pais dormindo naquele quarto, vocês não - Luca insistiu.
-Ai, para de esfregar essa merda de família nuclear na nossa cara, Ferrugem – Lily respondeu.
-A gente não pode decidir isso do lado de dentro? - Mateus perguntou.
-Ok – Tommy pegou a chave e colocou-a na fechadura, com Lily disputando ombro a ombro a posição para ser a primeira a entrar. Mal a porta foi aberta, Tommy e Lily saíram correndo para ver quem chegava ao quarto primeiro.
Ouvindo os sons da discussão dos dois, Loly deixou que Jake carregasse a sua bolsa de viagem e ninguém demonstrou o menor interesse no fato. Ainda bem que seu irmão, vindo dos Estados Unidos, só chegaria no dia seguinte. Ela entrou na sala, curiosa. Esta era um salão imenso, com portas de vidro que davam para o pátio com piscina, e uma ilha com banquetas altas que integravam o ambiente com a cozinha. À direita havia um corredor e, a julgar pelo som de briga entre Tommy e Lily, ele dava acesso aos quartos. Havia uma enorme TV com caixas de som em frente a um sofá estilo futton e várias almofadas espalhadas pelo chão. Na parede, em suportes, vários violões.
Ainda observava o ambiente quando Lily voltou, derrotada:
-Vem, Mateus. Pelo menos consegui o segundo melhor quarto. Oyekunle, você e Thea podem pegar o primeiro quarto da esquerda.
-E a gente? - Luca perguntou. - Vamos ficar todos espremidos no último quarto?
-Pega o dos beliches, cabeção - Lily falou. - Cabe todo mundo.
-O das crianças?
-Ué - Lily deu de ombros. - Se você quer ficar sozinho com o Jake, negocia com o Oyekunle.
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Quando a Vida Acontece
عاطفيةA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...