28.

223 27 15
                                    

[ 2 meses depois ]

Acordo me sentando na cama e puxando todo o ar que consigo. Faziam anos que eu não sonhava com os meus pais e as únicas vezes em que isso aconteceu, eles nunca falavam.

Ouvir a voz da minha mãe depois de 7 anos faz com que algumas lágrimas caiam inconscientemente pelo meu rosto. Eu me odeio no momento por não conseguir me lembrar o que foi dito por ela.

Tê-los tão perto e abrir os olhos e me lembrar da realidade é frustrante e apesar de passar pela minha cabeça em ficar feliz por ter ouvido a voz dela, meu coração fica triste em não poder tê-la ao meu alcance para que ela me embalasse em seu abraço e jurasse que tudo que está acontecendo agora vai passar.

A sensação ao olhar para a escuridão do quarto é medo. Eu realmente sinto medo de perder as pessoas que me restam aqui, visita-las em sonho não é o suficiente e só te faz lembrar que estão distantes demais para um abraço.

Tenho um espasmo de susto quando sinto a mão de Liam encostando nas minhas costas.

- Tá tudo bem? - Sua voz está grave e rouca, ele está claramente mais dormindo do que acordado.

- Tá sim - Eu volto a me deitar ao lado dele.

Ao invés de responder, ele tateia-meu corpo até parar com sua mão em meu rosto. Eu pensei que conseguiria deixar essa passar, mas até morrendo de sono Liam consegue ser mais esperto que eu.

- Se tá tudo bem porque seu rosto tá molhado?

- Foi só um sonho, não precisa se preocupar.

- Para fazer chorar não seria pesadelo?

- Não foi um pesadelo, mas eu sinto medo.

Ele suspira fundo e por alguns instantes penso que já está dormindo de novo, mas sua voz logo volta a soar no quarto.

- Segura a minha mão - Liam pede e eu quase de imediato entrelaço meus dedos na mão dele - Se você tiver medo de novo durante a noite, é só apertar um pouco os dedos que você vai me sentir. Eu vou estar aqui ao seu lado a noite toda, apesar de não me ver, você não tá sozinho - Ele diz a última frase quase num sussurro.

- Obrigado, amor.

Eu acaricio a mão dele com o meu dedo e sinto sua respiração voltando a pesar de novo. Não resisto em ficar onde estou e me aninho no peito dele, permitindo que seu calor me embale essa noite.

Me sinto um pouco estranho pelo sonho que tive de madrugada, quando sonho com meus pais, passo o dia meio balançado e pensativo, mas não vou deixar que isso aconteça hoje, pois é a semana do aniversário de Liam e quero comprar alguma coisas para fazer algo no dia dele. Não pretendo fazer algo grandioso, apenas algo que seja lembrado por muito tempo a única coisa que faço questão é de fazer o bolo.

Nesses últimos meses eu passo muito tempo na cozinha me aventurando em fazer coisas novas, o problema é que eu não consigo passar tanto tempo de pé quanto antes. Sim, a intensidade do tratamento mudou e meu corpo continuou mudando junto com ele. Se antes eu já estava magro, agora estou bem mais.

Arrisco dizer que esse o momento mais difícil do tratamento de todos esses meses.

Vejo Dona Karen indo em direção a porta e a chamo, pretendendo pedir carona até a loja.

- Bom dia, Dona Karen! - Digo me aproximando - Você poderia me dar carona até aquela loja de festa que fica na rua de baixo do hospital?

- Posso sim - Ela responde logo em seguida e mesmo sem prestar muita atenção nela percebo algo estranho.

Stars - Ziam Where stories live. Discover now