O Começo

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oito

Keith estava atrasado.

Seu coração pulsava em uma velocidade que nunca havia experienciado antes. Ele podia sentir gotas de suor descendo de sua nuca até o cós de sua calça, resultado de uma combinação entre o clima quente de verão, o qual denunciava o mês de Julho em sua metade, e sua correria que o deixava consequentemente ofegante. Segurava, com sua mão esquerda, o skate que havia ganhado do pai e que era o motivo principal de estar se apressando naquela manhã.

Como mencionado anteriormente, era Julho, mês do verão, do céu azul estampado com nuvens brancas que se destacavam e faziam formatos os quais as crianças e casais gostam de formar ao admirar. O mês em que as famílias vão viajar e fazer um cronograma cheio de atividades para se divertir em conjunto. Um mês mais quente em que aqueles que possuem a oportunidade de ir para a praia, aproveitam. Um mês no qual crianças se juntam para brincar nas ruas e tomar picolé com os amigos.

Keith, no entanto, estava curtindo o início de suas férias sozinho. Não que esse fato o incomodasse. De certo, nunca havia tido amigos e de algum modo nunca tinha sentido falta. Ele tinha seu pai, com seus pacotes de história e relatos de aventuras que havia feito ao redor do mundo, e seu irmão mais velho que apesar de estar bem ocupado estudando para entrar na faculdade de educação física, sempre arranjava um tempo para jogar basquete com Keith. Quando estava sozinho, andava ao redor do bairro, buscando coisas para fazer, e agora que havia ganhado o skate em seu aniversário de oito anos, ele usava todo o seu tempo para aprender novas manobras.

De fato aquele objeto de rodinhas havia sido algo que Keith nunca imaginara que faltava em sua vida. Claro que as primeiras vezes que ele havia tentado andar resultou em alguns tombos que o deixaram machucado, porém, nada que o impedisse de continuar a tentar, afinal era um grande teimoso. Isso no entanto resultou em um vício. Um vício pela incrível sensação de tentar algo novo, de sentir a leve brisa batendo em seu rosto enquanto rodava pelas ruas passando em frente das casas da vizinhança. A sensação de aventura. Era como se ele estivesse surfando em plena terra firme ou fazendo snowboard sem precisar da neve. Era especial, principalmente em momentos que ele arriscava tentar uma manobra e acertava em cheio. Sentia-se feliz e por essa alegria, não via problemas de passar o resto do verão desse jeito.

No entanto, a história era outra para sua mãe. Não conseguia entender o motivo de ela estar tão irritada em como seu verão seguia. Para ela, Keith estava em um momento importante da infância,no qual ele deveria criar laços e amigos. Socializar e fazer atividades com crianças de sua idade. Ela sabia que seu filho não tinha tantos amigos, porém não imaginava que a realidade era que ele não possuía nenhum vínculo social com as crianças da sua idade. Conflita e depois de conversar com seu marido como se sentia, os dois decidiram em conjunto inscrever Keith ao acampamento de verão próximo a cidade. Era simples, seguro e o dinheiro dava. Parecia uma oportunidade ótima para criar amizades e mudar um pouco o ambiente.

No começo, ele não havia achado a ideia tão ruim assim. Gostava de escutar as aventuras de seu pai e ir a um acampamento no meio da floresta parecia uma grande jornada. Não importava se ele tinha ou não amigos, desde que levasse também seu skate. Mal podia ver a hora de experimentar um novo terreno, novas manobras talvez, até mesmo um novo sentimento.

O que não esperava era a proibição, por parte de sua mãe, de levar o skate consigo. A verdade era que Keith, por ser uma criança, não entendia que seu skate não possuía as rodas específicas para o terreno e por esse motivo não poderia levá-lo com si. Achava injusto principalmente por ter sido avisado sobre isso de última hora. E depois de alguns protestos contra sua mãe, notando que ela não iria realmente o deixar levar o objeto com ele, decidiu no calor do momento pegar sua mochila com suas roupas, skate e boné e sair correndo pela porta da frente em direção ao ônibus que o iria levar para o acampamento junto de outras crianças, escutando sua mãe gritar o seu nome da cozinha.

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