12 | Nicole

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No momento, estou sentada na varanda da casa, bebendo um café quente e vendo o sol se pôr

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No momento, estou sentada na varanda da casa, bebendo um café quente e vendo o sol se pôr. A brisa fria já invadia o lugar junto com a noite que chegava. Era um tranquilo fim de tarde. Me sentia totalmente coberta de gratidão apenas por estar vivenciando aquele momento. Sinto saudades da mamãe, das meninas, da minha comunidade.

Mamãe tem uma boa condição mas mora na comunidade por conta da minha vó. Vovó Isabel estava com alguns problemas de dinheiro e a mamãe optou por continuar morando com ela pra ajudar nas despesas. Minha mãe é médica, cardiologista num hospital particular bem renomado. Quando contou para a família sobre o emprego, foi dia de festa. Teve churrasco com as amigas e tudo. Mas, antes mesmo de se formar em medicina, mamãe já fazia uns bicos pela comunidade no salão da Carla. Era manicure e, quando preciso, também fazia serviços de SPA. Tudo isso para ajudar a vovó e nunca depender de homem nenhum para absolutamente nada.

Mamãe engravidou de mim com o primeiro namorado, que quando soube da notícia, pegou seus panos e foi-se embora. Dona Eloá ficou péssima, mas não por muito tempo, pois sabia que a vida tinha que ser vivida e que agora ela tinha à um bebê em sua barriga. Não podia se depreciar por conta de um homem covarde e irresponsável.

Por conta disso, nunca conheci o meu pai. No caso, o meu progenitor. Mas não precisava conhece-lo pra saber que eu nunca necessitei dele pra absolutamente nada. Mamãe me ensinou tudo sozinha e por conta dela e da vovó que meu caráter seja tão bom e formado hoje. Tenho orgulho das minhas origens e das mulheres que fazem parte da minha vida.

Enquanto as minhas amigas, eu conheço Addison desde que me entendo por gente. Sua mãe é amiga da minha até hoje e na época, eram grudadas como nunca. O tempo passou e acabou afastando um pouco as duas, mas a lealdade e a irmandade foi passada de herança para nós. Por consequência, nos tornamos totalmente grudadas. Avani se juntou a nós no sexto ano. Ela morava em um bairro nobre, mas graças à diversos problemas na vida de sua família, acabou se mudando para a Rocinha. Desde então, nunca mais nos desgrudamos. As histórias que tenho ao lado dessas meninas não tinham preço de tão engraçadas e quase absurdas.

Na minha vida inteira, eu fui rodeada por mulheres e tinha muito orgulho e admiração por todas elas. Se eu sou uma pessoa de respeito hoje em dia, devo muita coisa à elas.

Cortando os meus pensamentos, percebo que já não estou mais sozinha. Maria estava sentada ao meu lado, lendo um jornal em silêncio. Logo a conversa que eu necessitava ter com ela começou a martelar em minha cabeça, e ansiosa como eu, não conseguia controlar a minha língua.

— Maria, a gente pode conversar? — Eu me virei para ela, que tirou os olhos do jornal e deu um sorriso fraco.

— Claro que podemos, filha.

Respirei fundo e dei um gole em meu café, batendo minhas unhas de forma nervosa na caneca.

— Quero te pedir desculpas pela ruim primeira impressão que passei à você, sabe, naquele dia. Eu não tenho nenhuma intimidade com o Vicent e quero que saiba que não tenho o mínimo interesse em ter. Naquele dia eu só entrei no meu quarto e acabei me descontrolando por vê-lo ali, na minha cama com os amigos dele. Sentia que precisava conversar sobre isso com você, porque você está sendo muito gentil em me aceitar aqui dentro da sua casa e me tratar tão bem, para eu vir e transformar sua casa em "baderna" — Faço aspas com os dedos. — Me desculpe, de verdade.

A mulher na minha frente apenas de um sorriso e fechou o seu jornal, pegando minha mão e a acariciando.

— Eu não estou surpresa com essa atitude do Vicent, minha filha. Ele sempre faz esse tipo de coisa. Já estou de cabelos brancos para as travessuras do meu filho. Ele tem vinte e um anos, está morando sozinho e agora é independente. Não posso mais controlá-lo. Mas quero que saiba que qualquer coisa que ele faça que te incomodar, pode falar comigo. Não vou aceitar a minha mais nova filha ser importunada por um menino folgado.

Senti meu coração acelerar e dei um sorriso de orelha a orelha, logo a puxando para um abraço. Aquela mulher era um anjo, sinto que eu devia muita coisa à ela.

— Agora, saindo desse assunto, você não me contou como foi seu primeiro dia de aula. — Ela olhou pra mim e eu assenti, amarrando meus cabelos num rabo de cavalo.

Logo contei de tudo, menos que praticamente menti à ela sobre sair com uma amiga e ter ido para atrás da escola me encontrar com alcoólatras e fumantes. Me sentia um pouco culpada por não falar sobre esses detalhes à ela, mas ao mesmo tempo, eu estava tranquila. Nunca coloquei álcool na boca e muito menos alguma droga, então me sentia limpa em questão desse assunto.

— A semana foi corrida, não é? — Eu concordei.

— Demais. Essa rotina de horário integral é uma loucura. — Maria riu.

— Amanhã é sexta-feira. Chame a Bela para sair, você merece um descanso depois da primeira semana. Reparei que você é muito concentrada nos estudos, então, precisa disso.

Eu me sentia transbordada por tanta gentileza. Se fosse dona Anna, provavelmente estaria quase me batendo, falando que eu só quero saber de sair pra rua e não aquieto a bunda em casa.

— Obrigada por tanta gentileza, Maria. Espero um dia poder te retribuir por tudo.

— Não precisa me retribuir com nada, minha filha. Você merece.

Logo continuamos jogando conversa fora quando meu celular apitou com a chegada de uma nova mensagem. Era de Bela.

"Vamos em uma boate amanhã. A área VIP está reservada e me chamaram pra participar. Você vai comigo, não quero desculpas. Beijos de luz."

Não tive palavras pra negar. Era Isabela Duarte e seus mil argumentos contra mim.

Espero que corra tudo bem.

Espero que corra tudo bem

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𝘽𝙍𝘼𝙕𝙄𝙇𝙄𝘼𝙉, 𝙑𝙞𝙣𝙣𝙞𝙚 𝙃𝙖𝙘𝙠𝙚𝙧Onde histórias criam vida. Descubra agora