Capítulo 33 - O Cativeiro

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Deitadas com uma corrente presa nos pés, Helena e Maryna estavam lado a lado em um colchonete dentro de um cômodo de uns 60 metros quadrados iluminado apenas por algumas lâmpadas amarelas antigas. Um grosso edredom cobriam avó e neta que tentavam se aquecer na madrugada fria de Kiev. Presas em uma espécie de porão coberto por uma estufa, ambas sentiam a umidade sufocante do local se aliar a friagem da madrugada que parecia intensificar ainda mais o sofrimento das duas. Não sabiam onde estavam exatamente, apenas escutavam a movimentação dos homens do sindicato, a organização criminosa, caminhando no andar acima de suas cabeças.

Sua avó havia deduzido que estavam no porão de uma estufa, segundo ela, Yuri dificilmente colocaria as dentro de casa, mas o quintal que provavelmente esconde outros segredos não seria problema.

Diferente da primeira noite na Ucrânia, Maryna já não estava tão assustada. Era como se de alguma forma sua mente já começasse a se adaptar à situação. As dores das pancadas ainda incomodavam, mas bem menos que antes. O rosto de sua avó Elena era o que de fato preocupava, ele apresentava inchaços causados pelos golpes de Damyan, além disso a governanta tinha hematomas espalhados por todo o corpo. Maryna sentia-se feliz por ter "apenas" um hematoma gigante no rosto causado por um tapa, sua situação era amena comparada a da avó.

Naquela noite, antes de dormir, por volta de 20:00 horas, ambas receberam a visita de Artem, o sobrinho de Yuri, que acompanhado de dois homens armados entregou um cobertor e ordenou que trouxessem uma sopa quente para as duas "prisioneiras ilustres".

Maryna e Elena deixaram a educação de lado e comeram desesperadamente. Não lembravam da última vez que haviam tido uma refeição decente. Se sua neta soubesse que seria sequestrada teria aproveitado mais a geladeira do barão, pensou a avó ao ver o estado de abatimento de Maryna.

Internamente ela se amaldiçoava por ter causado tanto sofrimento para alguém que ela havia tentado proteger.

— Ainda não confirmamos sua história — alertou Artem antes de sair do porão — Se sua informação for mentira, vamos garantir que você sofra mais que sua avó por estar nos fazendo perder tempo.

Maryna não respondeu, apenas encarou o homem que havia feito a ameaça. Artem a encarou de volta e saiu com uma expressão vazia, como a de um predador que observa um animal já morto e não sente vontade de atacar.

Ambas dormiam tranquilas e encolhidas no cômodo sufocante, até que por volta de 02:00 da manhã Maryna levantou ao escutar um som da porta da estufa batendo repentinamente. Tão brusco foi o som que a jovem pensou que ainda estava sonhando.

A jovem subiu a escada do alçapão que dava acesso ao compartimento superior, e colou o ouvido direito no teto, mas para sua surpresa não escutou nada.

— Avó, por favor acorde! — chamou Maryna assim que desceu as escadas.

— O que aconteceu? — perguntou Elena com dificuldade tentando se encolher novamente no cobertor.

Desde as agressões Dona Elena não parecia mais a mesma. Era como se a confiança tradicional da mulher que a criara tivesse se esvaído junto as esperanças de um possível resgate. Tudo parecia ser viver mais um dia e tentar curar as feridas do corpo e da alma, reabertas pelo seu repentino retorno forçado a Kiev.

Era como se em cada dia de cativeiro, de suas antigas ações voltassem para assombrá-la como um fantasma do passado.

— Acho que o homem que nos vigia abandonou o posto — alertou Maryna.

— E o que tem isso? — perguntou Elena com a voz embargada — provavelmente ele foi comer alguma coisa.

— Mas nem quando estávamos no galpão eles nos deixaram sozinhas — disse Maryna apontando para cima.

O Filho do Barão [COMPLETO]Where stories live. Discover now