Capítulo 56. Apoptose

Börja om från början
                                    

– Sem você, qual será a minha?

– A mesma que a trouxe até aqui... Tão longe... Tão perto... – Mas eu não sabia se ainda era forte o suficiente para continuar. As lágrimas escorreram pelo meu rosto, minha dor transbordando assim como a dele. – Se estivéssemos na Terra eu a teria pedido que passasse o resto da vida comigo...

– E eu teria dito sim.

– Nós teríamos deixado tudo para trás...

– Ido morar longe de tudo...

– Talvez adotar um cachorro...

– Mas eu prefiro gatos...

– Ter um filho...

– Talvez dois...

– Envelhecer juntos...

– Morrer juntos.

Viver juntos... – Ele engoliu em seco e eu consegui sentir seus dedos tremendo no meu rosto, sonhando tão perto da realidade que quase podíamos tocá-la.... Mas como teríamos nos escrito nas estrelas se a única tinta que tínhamos era o nosso sangue? – Na próxima vida.

Não... Eu ainda não estava pronta para encontrá-lo nela... Não estava pronta para desistir dessa!

Mas então seus lábios se despediram dos meus com um beijo que tomou meu chão, meu fôlego, minha vida... E se rasgou de mim antes da eternidade que eu sonhei durar, para que me dissesse suas últimas palavras:

– Te vejo nela.

Kadi lentamente se rasgou de mim... E então eu não tinha nada além d das suas costas desaparecendo dentro da Hasta... Eu nunca veria de novo o verde dos seus olhos, nunca sentiria seus braços ao meu redor, seus sorrisos me aquecendo, seus lábios me tocando e eu nunca mais teria sua voz para romper o meu silêncio...

Um dia, tudo que ele quisera fora uma nova vida...

E hoje ele morria por mim...

Por todos nós.

Assisti em câmera lenta Kadi subir as escadas da Hasta e me enviar um vislumbre por sobre o ombro como o de alguém que conhece a sua alma gêmea. Mas, em um piscar de olhos, ele tinha desaparecido atrás das portas e a Hasta decolava para o poro com a determinação de um projetil.

Eu implorei para que meus olhos não vissem aquilo, mas, quando a luz me alcançou, eu não fui capaz de escapar... E me perdi no brilho da explosão quando a Hasta se chocou contra a Rainha, as pedras estelares que Kadi um dia guardou chovendo sobre mim e o fogo cauterizando o meu coração, mesmo quando metade das chamas desapareceram na escuridão do poro que se fechava.

Nunca tinha sido meu papel negar ou aceitar sua escolha, mas sobrevivê-la; e agora que eu encarava o vazio que ele deixara, isso tinha se tornado tão mais difícil... E, quando a dor da Rainha me atingiu, eu caí e me contorci no chão.

Me deixei banhar no oceano de luz depois de tantos desertos, suas águas levando para longe tudo que ainda era fraco em mim. Tudo que restou em mim foi um centro calcificado, onde um dia tinha repousado meu desejo de que eu estivesse indo para o núcleo pelo Império... E não por mim.

Olhei para meus dedos, onde as feridas alcançavam a minha essência, e senti a Rainha pairar sobre as minhas aberturas, me pintando de branco até o interior. Mas, ainda que me invadisse por cada poro, ela só se uniria a mim se eu permitisse; e ela estava implorando, seu poder como um ímã para o meu coração de metal...

E então eu a deixei entrar.

Venha viver para sempre...

Em mim.

Ela me invadiu em tsunami pelas feridas, perdurando na minha mente, preenchendo meus espaços vazios, soldando minhas aberturas e calcificando a minha essência... Deixei-a me fortalecer onde eu tinha enfraquecido, acalentar a escuridão que sempre me forrara por dentro e tornar arma o que achei que fosse falha, quebrada e remodelada em um palácio para que eu...

Nunca.

Falhasse.

De novo.

Um dia um ser tomou outro em si e, diferente de tantos invasores anteriores, não o destruiu, porque nele viu algo que podia ser seu... E aquilo o tornou eterno em todo e cada ser que dele sobreviveu.

Agora, eu seria esse ser, um vestígio do que fui, um ancestral do que serei, e, hoje, uma metástase... Por onde um novo Império se ergueria.

Em mim, a Rainha nunca morreria.

E nem o seu poder.

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Cambaleei para fora do salão de volta à Via Láctea e fui cegada por luzes que não estavam ali quando cheguei, emitidas pelas lanternas de um batalhão de naves que rodeavam por todos os lados a minha plataforma.

A alguns quilômetros à frente, sobre o piso lustroso, uma infinidade de soldados cobertos de armas se estendia para onde meus olhos não conseguiam mais distingui-los de uma massa de morte.

Soldados do Aulicado...

Assisti os batalhões marcharem até mim e plantei meus pés no chão com o resto das minhas forças no futuro que me encarava.

Que me explodissem.

Naquele momento, um dos seres à frente do batalhão se aproximou alguns passos e parou próximo o suficiente para que eu conseguisse ouvir suas palavras:

– Minha Rainha...

Então ele se ajoelhou ao chão, seus olhos não ousando me encarar, sua estatura não ousando alcançar a minha.

Rainha...

E, em onda, todos os outros soldados se ajoelharam, seres poderosos como eu nunca imaginei ser, rendidos, seres altos como torres, tombados... Até que apenas eu, no universo inteiro, permanecesse de pé.

Aquele exército não era dos Áulicos...

Era dos contaminados... Aquele que por anos pertencera ao metriona, por um instante a Korrok, por milênios à Rainha...

E agora a mim.

O maior exército de todo o Império aos meus pés, ajoelhado diante do poder que um dia pertencera a Andromeda, mas não mais.

– Eu não sou sua Rainha... – Sussurrei, tão baixo que as palavras quase não saíram da minha boca, mas eu sabia que todos eles tinham me ouvido através da conexão que agora nos unia. Seus olhos se ergueram, atentos, curiosos, obedientes... E, encarando cada um deles na vastidão do infinito, eu proclamei em rugido: – Eu sou sua Imperatriz.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsDär berättelser lever. Upptäck nu