Capítulo 52. Cura

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Terceiro círculo do Império
Pacífia

No mesmo noxdiem, nós viajamos para Pacífia.

Na nave, Doxy me entregou a dose como se fosse minha bebida preferida e eu balancei o líquido dentro do copo, assistindo meu reflexo turvo se perguntar sobre aquele pequeno mistério que eu nada podia fazer senão engolir.

– Por mais quanto tempo vou ter que tomar isso? – Não fugi da pergunta. Doxy deu de ombros, como se não fosse importante.

– Até que não seja mais necessário.

– E quando vai ser isso?

– Quando não houver mais uma guerra para nos preocupar.

Confirmei em silêncio. Não fazia sentido desejar o fim do fevino quando ele era a minha melhor arma. Inspirei fundo e virei a dose na garganta.

– Você tem algum plano para quando a guerra terminar? – Perguntei, curioso. – Caso ela não termine com você, no caso...

Doxy abriu o sorriso de quem sempre tinha um plano.

– Pretendo ter algo que nunca vi, mas ouvi falar algumas vezes... – Ela fez uma pausa dramática. – Uma vida normal. – Soltei uma risada que a contaminou. – Mas e você? Tem algum plano para o futuro?

Um silêncio pesado com o futuro que eu desconhecia pairou entre nós; muito maior do que eu esperava.

– Eu devia ter um, não devia?

– Posso botá-lo nos meus... Quando a guerra acabar. – Seu sorriso me fez acreditar na promessa de que, algum dia, eu nunca mais teria de me preocupar com a solidão. – Quando finalmente houver um amanhã para desejar...

Abaixo dos olhos de Doxy eu me sentia visível pela primeira vez, como se importassem até as palavras que eu ainda nem tinha dito, como se minha mente fosse um mistério que valia a pena decifrar... Eu queria avisá-la que eu não valia o esforço, mas ela era o tipo de pessoa que se esforçava por muito menos.

Doxy se aproximou e deslizou seus dedos pelo meu rosto. Tomei-os e beijei seus nós, meus olhos nos seus, aceitando a sua promessa e fazendo a de que nada nessa guerra, por mais assustador que fosse, me faria fugir de novo.

Dessa vez eu ficaria até o fim. E, se fosse a morte o que sobrava para os que ficavam, então ela enfim conheceria o meu rosto.

– Que hoje nos leve até ele então.

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Ao chegarmos às portas douradas do palácio do metriona fomos cumprimentados por um paredão de fageines com suas espículas afiadas e imponência, nos fazendo parar. Meu dedo envolveu o gatilho da minha arma e eu prendi a respiração por um instante, aguardando...

– Os Áulicos nos enviaram. – Um dos fageines disse, as vestes cheias de broches em uma tentativa de professar poder. – Para que cumpram com o acordo.

Na frente do grupo, Korrok fez um movimento de cabeça e avançou para o palácio, fazendo os fageines saírem do seu caminho para que pudéssemos passar.

– Pelo visto Bleine decidiu mandar reforços... – Sussurrei para Doxy.

– Reforços? Acho que eles só estão aqui para conferir quando terminarmos o trabalho... E então para se livrar de nós quando acabarmos.

– Ainda bem que estamos armados então. – Cutuquei-a com a ponta da minha arma, fazendo Doxy bufar. – Se der tudo errado, é só apertar o gatilho.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsWhere stories live. Discover now