32

12.3K 1.6K 1K
                                    

SOPHIA

Assim que saimos da sala do delegado, meus olhos de imediato encontraram a minha mãe, sentada encarando o nada. Deixei meu pai conversando com um policial e dei um alguns passos na sua direção, eu estava com medo de olhar para ela, tinha medo de encarar a minha própria mãe porque sabia o que ela iria falar e eu simplesmente não queria ouvir. Mas diante dos acontecimentos, eu tenho uma sensação burra de que talvez, se eu contar para ela tudo o que aconteceu e com detalhes, ela possa me ouvir e acreditar em mim. É a única coisa que eu quero.

Minha mãe teve muitas oportunidades para me ouvir e acreditar em mim, acho que ela já deveria estar do meu lado desde o momento em que policiais chegaram na sua casa para levar o seu namorado preso.

Naquele momento a ficha dela deveria ter caído e ela tinha que ter entendido. já ouviu a história várias vezes, já devia ter entendido que tudo que eu disse é verdade. Eu não contei diretamente para ela, eu não dei detalhes das coisas que o Rômulo disse mas tudo que ela viu deveria ter sido suficiente e incrivelmente não foi. Ela escolheu ficar contra mim.

Parei na sua frente e ela me olhou de cima a baixo, apenas olhou para o lado evitando me encarar. Quando eu era criança, ela me dizia que eu sempre tinha que encarar os meus medos de frente. Que eu nunca deveria correr em hipótese alguma, que correndo eu só estou adiando o inevitável que é que o meu próprio medo me procurar e ficar cara a cara comigo.

E nesse momento, olhando para ela e percebendo que ela está evitando olhar para mim de volta, eu percebo que eu estou encarando o meu medo enquanto ela está fugindo do dela que é olhar nos meus olhos e perceber que está totalmente errada.

Me sentei do seu lado, arregacei um pouco as mangas do moletom deixando as marcas no meu braço visíveis. Está muito calor ultimamente, mas eu uso roupas que cobrem tudo meu corpo por não querer deixar expostas as marcas que eu ganhei.

Toquei seu abraço de leve e ela me olhou, estiquei meus dois braços na sua direção mostrando os roxos e algumas cicatrizes de cortes que ele causou por me bater com fios e por me arrastar naquele chão com cacos de vidros quebrados por todo lado. Ela olhou por alguns instantes e depois abaixou a cabeça.

—Por que você não pode simplesmente abrir totalmente os olhos e enxergar o que está diante de você? — questionei — mãe eu sumi por dias, depois apareci na sua casa completamente machucada tentando impedir que o Gabriel fizesse algo que prejudicasse a vida dele para sempre. O Rômulo foi preso temporariamente até o dia do julgamento porque as provas apontaram que ele me agrediu. Eu fico tentando entender o que mais você precisa para acreditar de uma vez por todas.

Ela estava encarando os próprios pés, eu nunca tinha visto ela tão, aparentemente, vulnerável.

Mesmo quando meu irmão morreu, ela tentou se mostrar forte como se fosse uma Fortaleza e junto me levou com ela tentando me dar suporte. Mas nesse momento, eu só consigo enxergar ela totalmente frágil. É estranho.

—Eu juro que tento encontrar motivos para essa sua atitude mas eu não encontro, porque simplesmente não existe — continuei — durante todo o tempo em que ele me manteve presa, eu só queria pensar no quanto eu queria sair daquele lugar e sem recebida por você de braços abertos. Quando você deixou explícito que estava do lado dele e contra mim, naquele momento tudo que estava ruim conseguiu piorar.

Meu pai estava olhando para nós duas, fiz um sinal com a mão de que ele poderia sair e me deixar aqui com ela por mais um tempo e assim ele fez. Eu precisava disso, se eu não conversar com ela eu tenho a sensação de que vou explodir.

Me Ensine a amar Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum