Capítulo Três.

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    ABRO OS OLHOS LENTAMENTE, sentindo a claridade invadir a persiana delicada que faz parte do imenso quarto vitoriano.⠀

É hoje. Hoje eu conhecerei a pequena Lizzie e farei minha matricula na faculdade da cidade, um dos privilégios incluso em meu contrato com a família Crawford.

A ansiedade é grande. Então sem perder tempo, termino de me arrumar e não demoro para sair do quarto. No entanto, assim que fecho a porta e me viro, prestes a caminhar em direção ao meio do corredor, me esbarro com alguém.

Deus... que não seja o desagradável loiro.

ㅡ Me desculpe.. ㅡ Talvez eu seja educada demais, mal vi qual foi a vítima e logo fui pedindo perdão. Sinceramente, se for o loiro, eu vou despedir minhas desculpas.

Para conferir, olho para o sujeito vitimado, me deparando com um moreno não muito alto. Seus olhos esverdeados são cativantes, mesmo que me deem a impressão de carregar uma tristeza não entendida.

ㅡ Tudo bem. ㅡ Eu diria que ele é tímido, dando a forma como me respondeu usando um sorriso triste e evitando o contato visual. Ainda sim, é fofo.

Eu não tinha o visto antes. Acredito que seja educado me apresentar.

ㅡ Meu nome é Any. ㅡ Sorrio e estendo minha mão, em forma de cumprimento ㅡ Sou a nova babá.

Talvez meu sorriso tenha sido gentil demais, ficando assustador, já que os olhos esverdeados do moreno se desviaram dos meus.

ㅡ Ok. ㅡ ele diz, antes de sair andando e me deixar aqui parada, sozinha, sem nem ao menos saber seu nome. Mesmo não parecendo arrogante como o outro rapaz loiro, alguém precisa ensinar está família a ter bons modos.

Já é a segunda vez que alguém me deixa plantada sozinha, nesta casa. E olha que não faz nem um dia que estou aqui. Que deprimente. Será que não me aceitaram? Talvez estivessem esperando que eu me comportasse mais séria? Será que fui simpática demais, ou simpática de menos?!

Uma dúvida cruel que faz com que a insegurança apareça praticamente de imediato.

Para minha sorte, Nicolae, meu salvador entre os irmãos, apareceu no corredor e me livrou de ficar para no meio do cômodo, sem saber o que fazer.

O mais velho e mais antiquado me levou até o suposto quarto da pequena Lizzie.

Minhas mãos suam frio ao chegar em frente a porta. Estou ansiosa. E se a garotinha não gostar de mim e eles me substituírem por uma nova babá? Aonde eu dormiria? Ou melhor... moraria?

ㅡ Hora de acordar. ㅡ Francis anuncia após entrar no quarto incrivelmente rosa. Paredes rosa, tapetes rosa, penteadeira rosa, cama, persiana, até mesmo o guarda-roupa.

Se aproximando da imensa cama, da qual eu diria tranquilamente ser o dobro que minha cama de casal, o Beauchamp mais velho se senta na beirada da cama. Posso ver um volume entre as cobertas, Lizzie está encolhida entre o tecido grosso do edredom.

É possível ouvir um gruinho baixinho, resmungando da claridade.

Quando a pequena por baixo das cobertas começa a se mexer, eu ajeito minha postura, pronta para entrar em ação.

ㅡ Oi Lizzie, tudo bem? ㅡ Sorrio da forma mais gentil o possível, tentando passar uma boa primeira impressão.

Assim que meus olhos se encontram com os castanhos da pequenina, percebo uma leve indiferença em seu olhar. Engraçado, me lembra o olhar de seu irmão loiro grosseiro.

Ao contrário do sorriso que imaginei receber da garotinha, ganho apenas uma revirada de olhar, tendo direito à uma bufada em reprovação.

ㅡ Nicolae! Eu disse que não queria outra babá! ㅡ Me espanto com seu tom elevado ㅡ O que esta... ㅡ A garotinha me olha de cima a baixo, me medindo como se eu tivesse vindo de um mundo desconhecido ㅡ O que ela está fazendo aqui?

Tudo bem, não era essa a reação que eu esperava. A pequena usa as palavras em seu poder, como se fosse uma mulher adulta.

Esta pequenina tem mesmo sete anos?

ㅡ Lizzie, minha querida. Nós já conversamos sobre isso. ㅡ Francis tenta ponderar, sem perder sua calma ou postura madura ㅡ Eu tenho meu trabalho, e seus irmãos tem seus deveres. Não temos tempo para cuidar de você ㅡ Seus dedos fazem cachinhos nos fios escuros da criança ㅡ Any é ótima para você. Acredito que vocês duas irão se divertir muito juntas. ㅡ A pequena bufa em resposta ao irmão, antes de me olhar com desdém.

ㅡ Duvido muito. ㅡ Sua sobrancelha se arqueia, e eu estou quase tendo total certeza de que não deveria ter enviado meu currículo ㅡ Olha como ela é sem graça! ㅡ A mocinha sabe bem como aumentar totalmente as inseguranças de alguém. Deus, eu estou totalmente arrependida.

Recepção, zero. Apresentação, zero. Privacidade, zero.

ㅡ Elizabeth, já chega!! ㅡ O tom da voz firme de Nicolae, se eleva um pouco, mas nada fora do normal ㅡ Se você não se comportar, não vou comprar aquele vestido que tanto deseja ㅡ Ele ameaça, me fazendo franzir a testa, sem entender. Então é assim que ele impõe respeito? Negociando?

ㅡ Não prometo nada. ㅡ Ela rebate, cercando os olhos para mim, como se eu fosse a pior pessoa do mundo e não uma babá novata que mal a conhece.

Satisfeito, mesmo com pouco, Nicolae beija a testa de sua irmãzinha. Quanto a mim, estou me perguntando se tem algum ônibus que me leve de volta para minha cidade natal.

Não pode ser tão ruim, certo?

ㅡ Vou deixar vocês sozinhas. ㅡ Para minha tristeza, é exatamente isso o que ele faz. Nos deixa sozinhas.

Se depender da forma como fui recebida por ela, posso dar adeus à minha saúde mental.

Admito... vai ser mais difícil do que pensei.


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Desejo: Um amor perverso (Beauany Fanfic)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora