Dele

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  Eu sinceramente não esperava a repercussão do blog. Um dia 10, outro 20, em três meses mais de 2k de pessoas passaram a acompanhar.

E agora...

  Agora minhas íris cintilam em 10k de leitores na última publicação. O chat está cheio, não sei como ver as mensagens. Coço a cabeça pois me sinto tal qual meu avô mexendo nessas coisas. Engulo em seco agora que terminei o suco natural de laranja, então pouso o copo na mesinha de madeira onde Yoongi lixa pranchas.

— Véi, como faço pra responder as mensagens? — indaguei alto o suficiente pra que elu ouça. Escuto o barulho do raspar da folha d'água cessado, seus olhos castanhos claros chegam aos meus, a boca rosinha e fina se abre, os óculos são retirados, limpos, então colocados novamente antes delu finalmente decidir aproximar-se.

— O que é isso?

— Meu blog.

— Agora você tem um blog?

   Nos entreolhamos como se a informação fosse realmente algo que poderia definir o álibi de nossa amizade. Suspiro tocando seus ombros cobertos pela camiseta estampada de papagaios; irônico pra alguém que fala tão pouco.

— Como vejo as mensagens, tem um monte, onde aperto?

  Em dois cliques minha dúvida está tirada e começo a contestar-me da minha própria inteligência.

— O que tá pegando? Samira contou que você não está mais indo surfar, o acidente te traumatizou?

— Queria que fosse tão simples. — respondo dando de ombros. Há muitas mensagens de agradecimento, uns perguntam que porra de erva fumei pra escrever tanta besteira, outros me acusam de Infâmia, sei lá ao quê; alguns só querem conversar. Que loucura, os números não são robôs.

— O que aconteceu? Por que do nada ficou tão obssecado por tritões, essas coisas?

— Cara, eu já disse, é uma história complicada.

— Acho que sou capaz de entender. —seu corpo se mete entre o meu, meus joelhos tocam seu abdômen no fitar que seguramos. — Pra que é a barbatana? É um protótipo que realmente está dando um puta trabalho, com medições muito precisas, Jeon.

   Já faz bastante tempo que estamos neste projeto pra tentar concertar o estrago que muito provavelmente pescadores fizeram em pelota. Eu tentei inventar desculpas por demais pra convencer Min Yoongi a dar seu sangue, suor e lágrimas neste projeto, porém nada parece descer guela a baixo.

— Irmão, você quer mesmo sinceridade? — bloqueio o celular e o guardo quando contesto, suspirando pra tentar tomar coragem pra o que vou dizer.

  Se falar do tritão, vou ter que mostrar o tritão; não sei como será a reação de pelota ao ver outro humano. Francamente, apesar de sempre encarar o fato de personagens de livros ou filmes acharem bichos sobrenaturais por aí algo positivo, o ponto de vista muda quando realmente acontece com você.

  Ainda pego-me na questão: "o que raios devo fazer com um tritão?" porque parece surreal sua presença toda vez que o azul bonito de sua pele entra em contato com minhas íris escuras.

— Eu conheci um cara. — conto, rápido, tentando fazer disto uma explicação, algo que decerto não é o suficiente.

— Hum.

  Elu puxa um banco, sentando-se perto de mim pra continuar lixando a prancha com cuidado, maestria, reproduzindo bem menos barulho.

— Prossiga. — pede pigarreando. Repito seu movimento, apoiando um cotovelo na mesa de madeira, ao lado do copo.

Suspiro {Jjk+Pjm} Where stories live. Discover now