Cheios

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— Humano? Por que não está falando mais nada?

  'Sim, estou o ignorando. — Humano? Você não consegue me entender? Mas tenho certeza que estou falando a língua correta...

  Enchendo os pulmões de ar para então soltar tudo, encaro minha garrafinha enquanto sigo sentado em um pedregulho.'Ele acabou com minha água.

  Se isso é só uma alucinação, como aconteceu? Eu derramei? — Humano? — o bicho chega mais perto, meus braços ainda ardem da forma que suas garras prenderam neles minutos atrás. Volto a suspirar. Supondo que eu não estou mesmo internado em um hospital após quase morrer afogado agora, como raios vim parar aqui?

   'Esse tritão tem mesmo algo haver? — Humano? — 'Ele tem que ter tudo haver. — Ei.. Humano?

  Sendo culpado ou não, este ser é com certeza muito... — Você não está conseguindo me ouvir?

Insistente...

— Pode me deixar pensar? — questionei bagunçando meus cabelos, ganhando olhos arregalados. Íris cinzas visaram as próprias mãos escamosas enquanto esticou um bico nos lábios cheinhos.

— Pensei que não estava conseguindo me entender.

— Eu estou, agora me deixe pensar.

— Pensar em quê?

— Eu não sei.

— Se não sabe, por que quer pensar?

— Ah... — o resmungar sai do fundo de minha garganta quando simplesmente desisto de torrar o que chamo de neurônios, e deito com tudo; correndo o risco, ou não, de bater com a cabeça em algo duro, inclino as costas até recostar em algo. A areia agracia meu torso e cabelos meio molhados.

As paredes da caverna formam um degrade tal qual a pele do ser místico, tonalidades de azul e roxo cintilam como se aqui dentro tivesse alguma fonte de iluminação, o que não é real.

  Fechando mínimo os olhos, sinto a testa relaxar, minhas sobrancelhas estão tensas, eu apenas queria que o efeito do alucinógeno passasse logo porque não dá pra ignorar o rosto gordinho que se posicionou adjacente ao meu no instante que deitei, e segue encarando-me sem disfarce algum, movendo os negócios estranhos das laterais dos olhos. 'É bizarro. O fito, pois não me importo de devolver sua cortesia.

'Gosto de coisas bizarras, porém brisar em uma situação dessas não é bom.

— Não te entendo. — Ele intimou, e dei de ombros. Um silêncio se estalou depois disso. Voltei a descansar meus olhos, espero que alguma hora alguém venha atrás de mim, talvez não deva me desesperar.

  Não estou morrendo de sede, ou fome.  De toda forma, se esse bicho for real mesmo ele é metade peixe, não é? Então ao menos alimentação vou ter. Espio a realidade, o Tritão não sumiu, seus olhos piscam lentamente pra mim com o boca meio aberta. 'Há quem estou tentando enganar? eu lá vou conseguir matar esse bicho. Franzo o cenho. Nem se fosse uma galinha.

— Sua barbatana ainda dói? — indaguei pois realmente quero saber.

— Um pouco. — assentiu.

  O tempo se passa mais um pouco, agregando cada vez mais inquietude dentro de mim. 'Ok, uma coisa é fato. Sendo real ou não, não vai adiantar de nada eu ficar me contestando isso enquanto não mexer minha bunda e sair dessa caverna. Meu pensamento é claro, contudo continuo na mesma posição, encarando este bicho.

  A verdade é que... Me sinto encantado.

  Desde pequeno, nunca me senti totalmente desse mundo. Me atraio por coisas estranhas, e gosto disso. Não consigo tirar meus olhos das brânquias do bicho e suas escamas da calda. O Tritão também parece ver algo interessante em mim; ao mesmo tempo que quero perguntar o que é exatamente, o mistério da causa deste olhar fascinado, também me fascina.

Suspiro {Jjk+Pjm} Where stories live. Discover now