Ele segurou abaixo do queixo dela com os dedos, fazendo com que ela abrisse os lábios. Estreitou os olhos e franziu as sobrancelhas. Concentrou o seu poder para que pudesse manipular a alma da maga. Aproximou os seus lábios aos dela. Esse era o momento.

Com os seus lábios quase tocando aos dela, ele sentia a energia sendo manipulada. Era forte como ele previa. Era frio e gelado como a chama azul que aquela maga dominava. Antes que a alma pudesse ser sugada, Sônia abriu vagarosamente seus olhos azuis escuro.

Haiko ficou inerte, vidrado naqueles olhos que os fitava. Ele poderia continuar o que estava fazendo, mas não conseguia, era como se todo o seu corpo houvesse paralisado com apenas aquele olhar. Não era a Sônia, era ele. Sem reação alguma, ele apenas a beijou, pegando a maga de surpresa.

Enquanto Sônia se entregava, passeando os braços por suas costas e entrelaçando seus dedos em seu cabelo encaracolado, Haiko apenas era dominado por suas aflições. Se relacionar com Sônia era justamente um atrativo para sugar sua alma e ter acesso aos outros magos de Coimbra, mas, por que ele não conseguia fazer algo tão fácil? Ela estava ali em seus braços, impotente. Ele já não conseguia mais pensar, estava tão perdido no toque daquele corpo, nos beijos, no cheiro, em tudo que a maga transmitia que os seus objetivos esvaíram de sua mente.

...

— Kari quebrou uma promessa, se é isso que quer saber — Diego falou.

Náidius e Diego aguardavam na porta do bordel enquanto Inarê e Kari buscavam seus cavalos no celeiro. Náidius havia questionado ele sobre ameaçar a irmã com a espada naquele dia, sabendo que eles tinham construído certo afeto.

— Ela apenas se desabafou comigo — Náidius respondeu, se lembrado da noite em que conheceu Kari em Sunira. — Ela é só uma menina, não deveria cobrar tato dela.

— Não é muito diferente de você.

Diego parecia sério e não era a serenidade comum que ele transbordava, estava pensativo, distante, como se o fato de Kari falar sobre a vida dele fosse o pior pecado do mundo.

— Eu normalmente não tenho o pavio curto — Diego continuou. — Mas, não gosto muito que as pessoas se intrometam em minha vida. — Diego olhou para ele com uma face sombria, segurou no punhal de sua espada. — Para o seu próprio bem, fique na sua.

Náidius entendeu que aquilo era uma ameaça, mas ele apenas estava preocupado com o bem estar da Kari, mesmo que a garota também houvesse lhe ameaçado com uma espada. Mas talvez Diego estivesse certo, ele estava se intrometendo demais. O seu foco naquela viagem era salvar Órion e ficar longe de Sidelena, não fazia sentido se importar com uma menina complexada e com um assassino. Tudo o que ele precisava era pensar somente nele e nada mais.

— Não deveria ter me contado sobre a vida dela então. — Náidius decidiu responder, mesmo sob a ameaça do assassino. — Não se preocupe, vou focar apenas em meus objetivos.

Náidius avistou Inarê não muito longe acompanhado por Kari e os animais, ele se direcionou para lá, ignorando qualquer tipo de reação de Diego.

Talvez Inarê já houvesse percebido mesmo nunca estando presente para observar aqueles dois. Tanto Diego e Náidius eram orgulhosos demais para admitir que entre eles crescia um tipo de afeto, a amizade, algo que ambos desconheciam, já que sempre foram implicantes um com o outro. Entretanto, Náidius já havia construído esse laço com Kari sem perceber. Por muitas vezes em que ele se perguntou a tamanha empatia com a garota, foi por isso, a amizade, quase como se ele a visse como sua irmã menor. Era pouco de se esperar de um jovem problemático que apenas se metia em confusões.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Where stories live. Discover now