31- Viagem no tempo

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Há muito tempo atrás:

— Aurora, volte aqui.

— Me deixe em paz, mãe.

— Ainda não terminamos de conversar.

— Deixe-a em paz, Cristal.

— Aurora é minha filha, Eric.

— E minha também.

Naquela noite fria e chuvosa, Aurora teve mais uma de suas inúmeras brigas com sua mãe. Mal sabia ela que ao fugir de casa, sua vida mudaria para sempre.

Cansada das frequentes chateações, Aurora correu sem rumo. Seu longo vestido vermelho arrastava-se na lama causada pela chuva, seus cabelos brancos encharcados. Sem muitas opções e sem perceber seus atos, pelo calor do momento, adentrou a floresta escura, sentindo as gotas da chuva baterem em seu rosto, lhe dando a sensação de sua pele ser perfurada.

Quando a jovem garota avistou a colina, correu rapidamente para lá. Seus joelhos desceram involuntariamente até o chão bruto daquele lugar. Cansada e ofegante pela corrida, mal percebeu que tinha adentrado muito a floresta.

Ainda de cabeça baixa e com as mãos apertando a areia, um urro de dor chamou sua atenção.

— O que foi isso?

Aurora se levantou rapidamente, procurando por todos os lados possíveis, tentando encontrar o dono daquele urro. A paisagem escura ao redor se tornava um vulto. Seu joelho ardia, mas isso não a incomodou. O urro doía mais nela do que seu próprio ferimento.

Mais uma vez, ouviu aquele urro de agonia.

Curiosa e preocupada, correu em direção de onde havia ouvido. Seus pés pareciam ganhar vida própria, correndo tanto que mal sentia o chão embaixo deles. Seu coração foi à boca quando avistou uma terrível criatura, presa em armadilhas de caçadores. Ela deveria ter medo, mas isso não aconteceu. A garota se viu hipnotizada nos olhos dourados da fera, que estava tão fascinado por ela quanto ela por ele.

Devagar, ela se aproximou e viu a pata do ser horripilante presa e sangrando.

— Tenha calma, eu o ajudarei.

Aurora agachou-se e com suas delicadas mãos, libertou a pata da fera da armadilha.

— Eu vou curar você.

Sem perceber, encarava a fera, que já a reconhecera como companheira. No entanto, Aurora ainda não tinha atingido a idade para encontrar seu companheiro - faltava um ano para isso acontecer.

O que faz sozinha na floresta, garotinha? — Perguntou a fera com sua voz grave e sofrida pela dor de seu ferimento. Aurora, ao perceber isso, tocou no ferimento exposto e, com sua magia, curou o ser medonho à sua frente, que se encolhia de dor no início de seus toques.

— Eu fugi de casa — respondeu ela. Sua inocência deixava a fera mais atraída.

Por que fugiu?

— Briguei com minha mãe e corri sem rumo, para esperar ela ir embora.

Ela não mora com você?

— Não exatamente. Eu passo mais tempo com meu pai e minha madrasta. Não tenho um bom relacionamento com minha mãe.

— Hum, qual seu nome, pequenina?

— Aurora.

É um lindo nome, tanto quanto você.

As bochechas da garota ganharam um tom vermelho, notado pela fera, que babava por cada gesto feito por ela.

Lobos- Encontro De Almas| Livro 01| Concluído| Livro Físico Em BreveOnde as histórias ganham vida. Descobre agora