Carol Peletier

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Nunca pensei muito no passado. Acho que com tudo o que vem acontecendo decidi me focar no presente, era isso ou me juntar aos cadáveres que agora conquistam o mundo.

Carol Peletier... bem, pelo menos não tenho mais nome de queijo, já que uma vez que me casei com Ed mudei quase tudo sobre mim.

A, o que parece, um milhão de anos atrás as pessoas me conheciam como Caroline Bree Harmon, a Fênix do gelo, medalhista nacional de Patinação artística.

Me dediquei a esse esporte 24 horas por dia, todos os dias da semana, sem tempo nenhum para frequentar uma escola, treinando duro, faça chuva ou faça sol.

Ainda me lembro dos gritos exigentes de minha treinadora, Natasha, ela era uma peça, sempre com um casaco de peles castanho, uns óculos escuros redondos e rosa choque, como sinto sua falta.

Aos meus 5 anos, participei de meu primeiro campeonato, ninguém esperava uma medalha, muito menos de ouro, mas gostava de surpreender a todos, inclusive minha tutora que não apreciou a mudança repentina que fiz na coreografia. Acabei me empolgando, até mesmo nos treinos me envolvia com a música, e quando reparava já estava me desvirtuando do cronograma.

Natasha viu em mim a necessidade de subir de nível, então com 7 anos de idade, com minha segunda medalha de ouro no pescoço, já fazia movimentos juntamente a sua turma avançada, demonstrando com tamanha precisão cada salto e giro que minha maestrina mandava.

Depois disso, ouvia o quanto era boa o tempo todo, acho que foi por isso que parei de me esforçar tanto, deixei com que minha fama subisse a cabeça, acontece com os melhores de nós.

Não preciso nem dizer o quanto o convencimento me prejudicou, tinha engordado quase 2 quilos, de tanto comer hambúrgueres da minha lanchonete favorita, quase não aparecia para os treinos, deixando a russa com os nervos a flor da pele, não era uma criança muito fácil.

Faltando dois dias para a final do campeonato mirim, fui para o ringue, confiante que nada nesse mundo me faria errar um salto. Mas a vida sempre dá o troco, em quem não faz por onde.

Escorreguei no gelo e caí sentada no chão. Natasha resmungava nervosamente em russo, encarando minha performance como uma decepção.

É, foi isso, aos 10 anos consegui minha primeira e única medalha de bronze, sim, BRONZE!! Fiquei tão chateada aquele dia, subi no podium com um sentimento meio amargo, sem ninguém pra culpar ao não ser eu mesma.

Passei dias treinando, levantava 4:30 e treinava até 00:00, na minha mente tinha arruinado toda uma vida de foco, quando meus calcanhares abriam bolhas e meus músculos tremiam, repetia para mim mesma a frase que todas as turmas conheciam "sorria em meio a sua dor", esse era nosso lema, um que sigo até hoje, velhos hábitos são difíceis de largar.

A partir daí, me recusava qualquer coisa menos que o ouro, tinha que ser a número 1, sempre, toda vez.

Agora que paro pra pensar, aqui, sentada no meio do apocalipse, em um prédio abandonado, me arrependo de não ter vivido mais. Nada de festas, nada de bebida, nada de comida industrializada, bem frustrante, mas uma vez que se torna rotina fica fácil.

Aos 14, já em perfeita condição física para participar da primeira competição do campeonato nacional que podia, ou não me levar para as internacionais, tinha em meu repertório de conhecimento 12 línguas estrangeiras, que falava fluentemente, hoje em dia me limito ao bom e velho inglês, e ocasionalmente o francês, todas as línguas dos lugares onde iria competir futuramente.

Ganhei a primeira da série sem problemas, garotas vinham apertar minha mão e elogiar minha dança, algumas até diziam que se inspiravam em mim, mas não podia deixar a fama me dominar.

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