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— Jason, como está? – Indaguei enquanto o ajudava a caminhar até o acampamento e pressionava minha cintura ao mesmo tempo.

— Digamos... Que não... É... A melhor sensação... Do mundo. – Falar parecia uma tarefa quase impossível, ao passo que o grave ferimento em sua perna parecia piorar. – Estou com medo, Mila. - As lágrimas invadiram seu rosto, comovendo-me. – Não quero morrer e me tornar uma daquelas coisas que sugam a vida de outras pessoas.

— Não vou deixar que isso aconteça, J. Prometo.

Ele apenas assentiu desolado, enquanto eu reprimia a garganta para conter o choro.

— Mila, ela não quer ir com ninguém além de você. – Wes disse atrás de mim, enquanto nos aproximávamos do pequeno aclive que se encontrava no caminho para chegar ao topo onde o acampamento era localizado. – Ninguém mais consegue chegar perto dela.

— Você e Mike levem J. no colo. Quanto menos esforço fizer melhor será, pois, o veneno não se espalhará tão rapidamente. Onde ela está? - Indaguei deixando J. nos braços de Mike, enquanto Wes agarrava-o pelas pernas. Ele apenas acenou com a cabeça para a parte de trás do grupo.

Lentamente desci, até ver a pequena garota de braços e pernas finas, olhos de um castanho caramelo e os cabelos ruivos, que se encolhia ao fim da fila, com o medo ainda presente.

— Sophie? – Chamei-a. – Sou eu. – Ela apenas levantou o olhar quando reconheceu minha voz e correu até conseguir se agarrar em minhas pernas. Abaixei um pouco para abraçá-la. – Está tudo bem, calma. Só mais alguns metros e chegaremos ao topo onde fica o acampamento, está bem?

E assim, agarrada ao meu braço esquerdo, subimos lentamente a pequena encosta.

Todos já haviam terminado a subida e agora descarregavam os poucos suprimentos que conseguimos. Isso desencadeava em mim uma preocupação horrenda: ou teríamos que começar a ir mais longe por suprimentos ou teríamos que mudar o acampamento de localização, pois não conseguíamos encontrar muita coisa nos últimos dias.

— Hei! Camila! – Pude ouvir a doce voz por entre as de meus amigos e vi Lauren caminhando em minha direção. Sua aparência estava melhor, apesar de ainda estar com algumas gazes pelo corpo. O sorriso lhe habitou os lábios e senti Sophie agarrar-se mais forte em meu braço.

— Oi, Lauren.

— Como foram durante a busca? Soube que conseguiram poucos suprimentos e... Quem é essa? – Indagou notando a pequena atrás de mim.

— O nome dela é Sophie. - Respondeu Alejandro, juntando-se a nós. - A encontramos sã e apenas com alguns resquícios de sujeira, escondida por entre as prateleiras de um supermercado. Como sobreviveu ainda é um mistério, porém não tem nenhum sinal de mordida. – Ele pegou meu armamento e senti minhas pernas estremecerem. O sangue seco coloria minha mão, pude sentir Lauren me segurar.

— O que houve? – Indagou preocupada, apenas ouvi alguém lhe dando a ordem de me levar para nossa tenda. Vi os braços de Max tentando conter Sophie, para que não nos seguisse. Apenas tive forças para sinalizar em um pedido mudo para que obedecesse, em breve voltaria.

Pude sentir Lauren me colocando com cuidado no colchão, preocupada. Podia sentir as pulsadas do sangue em meu ferimento. Gemi com a dor.

— Camila o que houve com a lateral de sua cintura? – Não conseguia responder, apenas sinalizei com os dedos para que ela pegasse a tesoura. Assim o fez, cortando minha camisa preta por completo. Seus olhos vagavam preocupados por meu corpo, parando em meu profundo ferimento.

— Al... Álcool. – Sussurrei próxima a seu ouvido. – Gaze... Linha e pinça.

Rapidamente ela estava revirando a tenda atrás dos materiais requisitados. A vi pegar uma garrafa de água, juntamente.

Com o tecido rasgado da camiseta, fez um pequeno travesseiro colocando-o em minha nuca. Entregando a água, o que me fez ingerir o líquido avidamente.

— Eu... Não sei nada sobre enfermagem e isso está parecendo muito feio. Vou chamar o Max ou qualquer outra pessoa e...

— Shhh. - Sussurrei colocando o dedo indicador sobre seus lábios que agora estavam secos e rachados. – Confio em você e irei te guiar. Lauren, preciso de você, agora. - Pude ver seus olhos temerosos encontrarem os meus. Esbocei um sorriso e a mesma ganhou um pouco de confiança, soltando meus braços e procurando pelo álcool.

Lentamente derrubou um pouco do líquido incolor sobre a gaze. Pegando o pequeno tecido com a pinça, pressionou o ferimento esterilizando-o, arrancando de mim um gemido de dor.

— Desculpe.

— Mãozinha pesada. – Comentei tentando sorrir. – Lauren, terá de fazer pontos em meu machucado. É como costurar um rasgo em um tecido jeans. – Respirei pesadamente, sentindo o álcool fazer efeito, esterilizando o ferimento. – Pegue a agulha, passe a linha e seja o que o universo quiser.

— Não lhe dei nenhuma anestesia, acabará desmaiando devido à dor, não era eu quem costurava as roupas rasgadas da Melany. – Explicou-se, pegando a agulha.

— Já aguentei dores piores nesta vida, senhorita Jauregui. Vamos, sei que irá conseguir, preciso de você agora.

Ponto por ponto, o ferimento foi fechando-se gradualmente. Finalmente depois de alguns minutos, que mais pareceram horas, terminou o curativo, me liberando de sua prova prática de medicina sem que tivesse feito qualquer curso.

— Obrigada doutora. - Caçoei de sua cara de preocupação.

— Nunca, nunca mais me peça para fazer isso, ouviu bem?! – Ela suplicou rindo aliviada. - Espero que não infeccione, jamais vou pegar em um bisturi, todas as temporadas de Grey's Anatomy não serviram para muita coisa.

— Droga, o J. Preciso saber se está bem. - Estava colocando meu casaco, prestes a sair da cama improvisada quando Lauren segurou meu antebraço.

— Está louca? Se não quer ver esses pontos se rompendo e perder outra camisa, precisa descansar.

— Foi um ferimento leve, três pontos não irão se romper com facilidade. - Sentenciei puxei meu braço com relutância, fechando a jaqueta para que meus seios não ficassem a mostra, depois pegaria outra camiseta. - Jason foi mordido por um andante, precisamos vê-lo, agora! – Sai em disparada para a tenda de Max, deixando Lauren sozinha.

O pano branco cobria J. do pescoço aos pés, Max limpava as mãos. Todos estavam guardando os instrumentos utilizados e o avental de Mike estava totalmente sujo de sangue. Jason, parecia dormir como um bebê, já que seu peito subia e descia lentamente.

— Não tivemos escolha, teve de ser amputada. – Comentou Mike, retirando o avental e o colocando em um dos sacos de lixo para ser incinerado.

— Essa não... Como iremos arrumar uma perna para ele? – Desesperei-me.

— Posso fabricar uma com algumas engrenagens que sobraram. Não será grande coisa, mas pode quebrar um galho até acharmos uma mecânica durante as incursões. – Max propôs, secando as mãos.

— Pelo menos não está morto, um demônio a menos para matarmos. – Lembrei-me de sua súplica quando chegávamos aqui e o acordo que fizemos dias antes. – Onde está Sophie?

— Cher deu um banho nela e a colocou para dormir, mas não disse nada desde que chegou.

— Na verdade, desde que a achamos. Ela apenas se agarrou a mim e ficou em silêncio. – Quando a encontramos entre as prateleiras sucateadas do supermercado, suja e com os olhos brilhando de puro medo, a convenci de vir até mim com um urso de pelúcia. – Deve ter no máximo seis ou sete anos. Não pode ajudar muito por enquanto, mas não podemos deixa-la a própria sorte, Max.

— Não seria tão desumano a este ponto, Camila. Sei como se apegou a menina com apenas algumas horas juntas. Ela poderá ficar sem problema algum, mas será responsável por ela, assim como se incumbiu de ficar pela Jauregui até que melhorasse.

Senti alívio ao imaginar aqueles fios vermelhos correndo por entre as tendas do acampamento.

— Parece que alguém será uma bela mãe. – Comentou Mike, rindo.

— Por que achas isso, amigo?

— Porque a esposa você já tem, agora chegou a filha para completar a família.

NEXT TO YOUWhere stories live. Discover now