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— Você... precisa... diminuir o passo... – Jason dizia ofegante. - Por favor.

— Você é quem precisa se exercitar mais, J. Foi apenas um pequeno morro, imagine se fosse para escapar dos nossos amigos ali. – Gesticulei com a cabeça para a cidade repleta de andantes abaixo de nós.

Jason estava com as mãos apoiadas nos joelhos e com a cabeça baixa, tentando recuperar o ar que fugia dos pulmões. Começava a cogitar a ideia de colocá-lo para correr de volta para nossa casa. Com as mãos na cintura ele levantou a cabeça rindo, limpando o suor da testa com a camisa. Deixando meu armamento no chão, o chamei para perto de mim com o dedo indicador.

— Sim?

— Estenda as mãos. – Solicitei com os braços cruzados sob o peito.

— Por quê?

— Estou mandando, não pedindo! Estenda as mãos, viradas para baixo.

Estendendo as mãos em seguida pude notar uma leve agitação que as faziam tremer enquanto ainda tentava respirar normalmente. Sorrindo, andei até a mochila e retirei de lá uma pequena garrafa escura, rosqueando a tampa e entregando-lhe.

— Beba um pouco, irá te fazer bem.

— O que é isso? – Indagou receoso. Teria que me lembrar de reclamar com Mike por tê-lo mandado nesta incursão junto a mim.

— Por que questiona tanto? Beba, antes que mude de ideia.

Entornando a garrafa levemente, um grunhido saiu de sua garganta ao sentir o líquido quente rasga-la.

— Droga, Camila! O que é isso?

— Vodca. – Comentei sem muita preocupação. - No velho mundo isso era um remédio para coragem.

— E como espera que consiga atirar bêbado, Karla?! – Jogou as mãos para cima, como quem está no controle e acaba de ser desobedecido.

— Ei! Primeiro: não me chame de Karla. Segundo: eu quem está no comando, então diminua essa marra. Terceiro: lhe dei vodca para acalmar o coração, assim levará menos tempo e esforço para recuperar o folego. Se não percebeu, estava trêmulo quando terminamos de subir, isso acontece porque seu coração está acelerado demais, exigindo mais oxigênio para circulação. Na hora de atirar, provavelmente, erraria muitos tiros e não sei se percebeu, mas não é como se tivesse uma loja de armas a cada quarteirão. Não há de que, foi um prazer te ajudar.

Ao terminar de falar, fitei seu olhar incrédulo para mim após perceber que as mãos já não tremiam mais. Sorri convencida, às vezes amava estar certa.

— Nunca para de sorrir... Por quê? – Ele indagou armando seu rifle sniper em um ponto estratégico.

— O mundo já tirou muitas coisas de mim, mas nunca poderá me tirar o sorriso. Ele é a prova mais concreta de que continuo viva, independente do que esteja acontecendo ao meu redor. – Disse já deitando sobre minha arma que estava sobre o apoio. – Todavia, isso é conversa para outra hora. Venha, temos que acabar logo, em poucas horas o céu começará a escurecer.

Limpei o suor da testa e posicionei o olho na mira da arma, apertando o gatilho em seguida.

— Camila um, Jason zero. – Exclamei. Era uma brincadeira interna em meio ao mundo catastrófico que sobrevivíamos, quem mais matasse andantes no dia, dava uma lata de comida em conserva para o outro. - Não quero feijão dessa vez.

— Ervilhas então? - Assenti, era isso ou batatas. - O mercado parece estar intacto e temos que repor suprimentos, se não estiver sucateado por dentro, talvez ainda tenha comida em bom estado.

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