Capítulo 18 - Perseguição

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Não tinha tempo para ver quem tinha atirado a faca, eu apenas corri, pressionando meu braço contra meu corpo com tanta força que eu acabei me causando mais dor. Cerrei os dentes. Comecei a ouvir o som de novo, vários assobios de lâminas voando ao vento outonal da floresta. Algumas cravavam nas árvores ao meu lado com tanta força que eu comecei a me perguntar se o que estava as arremessando era humano. Um pavor imenso me reprimia por dentro e o medo de morrer dominava minha garganta.

Enquanto eu corria, notei a fada vermelha me perseguindo entre as árvores. Ela voava em alta velocidade entre os galhos das árvores até eu perdê-la de vista. Parei por um momento e me escondi atrás de uma árvore. Eu não aguentava mais correr, estava chegando ao meu limite. Meu coração batia tão forte que eu achava que a qualquer momento eu pudesse ter um ataque cardíaco.

— Você tem que continuar correndo ou eles vão achar você — disse a voz de Priam ao meu lado. Virei meu rosto rapidamente, mas vi que era só a voz da fada de novo.

— Eu p-preciso achar o Bosque da Corredeira — balbuciei.

— É para lá que eu estou levando você — agora a voz que ela emitia era a minha. — Siga-me ou será tarde demais.

Recuperei o fôlego e logo voltei a correr, seguindo a fada pela trilha mais próxima. Comecei a perceber que a cor alaranjada das folhas das árvores era desbotada naquela região, transformando-se vagarosamente em um verde opaco enquanto eu seguia em frente.

Notei um Ceifador em cima de uma árvore analisando-me e escrevendo algo em uma prancheta. Até me passou pela cabeça querer fazer algo para impressioná-lo, mas na situação em que eu estava presente, a prioridade era me manter vida.

Estava quase sem fôlego quando ouvi o som abafado de uma esperançosa cachoeira. Eu soube então que o Bosque não estava muito longe e comecei a ficar um pouco mais calma, pois aquele lugar poderia ser minha única salvação. Tentei ignorar a dor que ocupava meu braço e o medo que insistia em voltar a me dominar e segui a fada vermelha rumo ao som de quedas-d'água que invadiam meus ouvidos.

Ela fez um pequeno gesto com seus minúsculos bracinhos e assim permitiu que eu visse o majestoso mundo novo que existia além daquela floresta que quase havia custado minha vida, e eu não hesitei em conhecê-lo. Voltei a correr com minha mente abrandada, ansiosa.

Serpenteei por entre as árvores verdes e inclinadas do local até afundar meu corpo na poça de água escura e barrenta. Eu estava tão cansada que nem notei que havia adentrado o lago no nível de meu pescoço. Era alimentado por uma nascente, que caía borbulhando de uma fenda em algumas pedras, que formavam uma pequena e graciosa cachoeira; a água era agradavelmente gelada.

Por alguns segundos, esqueci da faca cravada em meu braço, até a dor me fazer lembrá-la novamente. Eu a puxei sem hesitar. Fui amedrontada por uma dor causticante que me invadiu bruscamente — não só o meu braço, mas todo meu corpo. Eu mergulhei rapidamente e gritei o quanto pude. O som quase não saía, pois era abafado pela água, formando bolhas ao meu redor.

Voltei a respirar.

Levei meus olhos rumo ao lugar por onde eu havia entrado. Vi a fada sobrevoando o local, parecia que estava tentando fazê-lo desaparecer novamente, mas estava frustrada. Foi então que ela parou e olhou para mim e disse:

— Meu nome é Kaladriel — a voz que ela usava agora era de Bonnie, semelhante à de uma criança. — Você sabe o que...

Aconteceu em uma fração de segundo: a fada estava voando em minha direção quando outro assobio chegou ao meu ouvido. Ouvi algo como "Rápido, antes que ela feche o portal" e depois vi a lâmina de uma adaga amarela atravessar seu corpo pequeno contra o tronco de uma árvore. Ela soltou um urro alto e algumas palavras que eu não compreendia e minutos depois os galhos de todas as árvores ao meu redor começaram a balançar e uma nuvem de fadas surgiu sobrevoando a cachoeira. Elas soltavam um grito sinistro e melancólico.

Mesmo em meio a tanto barulho, meus ouvidos conseguiram ouvir múrmuros distantes, mas que se aproximavam rapidamente.

— Onde está aquela idiota? — Indagou alguém.

— Ela conseguiu escapar... — disse outro.

Quando notei que os múrmuros se tornaram claramente diálogos, não pensei duas vezes e enchi meus pulmões de ar e submergi novamente no lago.

Podia ver, apenas como um mero borrão, dois garotos na margem do lago onde eu estava. E eu achava que um deles eu conhecia.

— Droga, Path! Você a perdeu de vista — vociferou o garoto ao seu lado.

— Tanto faz, Jason. — Path deu de ombros. — O que importa é que já conseguimos o que queríamos.

Por um momento, notei que nenhum dos meus braços aparentava estar mais apertado...

— Rá, rá, rá. A idiota o deixou cair... — ridicularizou o garoto.

— Sim, a faca que você arremessou e que acertou o braço, acabou arrebentando seu Bracelete e ela o deixou cair sem perceber — explicou Path. — Agora vamos, não aguento mais toda essa gritaria. Temos de ir atrás do seu, porque esse aqui é meu, sabe disso — ele estava brincando com algo dourado nas mãos.

...e que eu deixei cair meu Bracelete Celestial da Água.

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