18. A fantasma que invadia sonhos

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Bom, agora era a hora.

Adora começou a encostar simultaneamente em mais partes do corpo da mais baixa, praticamente deitando por cima dela. Não tinha toque, mas, a morena visivelmente estremeceu como se uma onda de frio repentinamente a atingisse sem fazê-la acordar.

Depois disso Adora não viu muita coisa, já que fora sugada para dentro da mente da outra.

Em milésimos de segundos, lá estava ela no parque que sempre costumavam ir para as caminhadas matinais perto de casa. Não o do passado, o do presente. Não demorou muito para a fantasma perceber que tinha conseguido o feito de, finalmente, entrar no sonho. Ou pelo menos assumira que aquele era o sonho de Catra. O que mais poderia ser?

Cautelosa, foi caminhando na mesma trilha que sempre fizeram até chegar no banco de concreto onde eventualmente a mulher viva gostava de pegar um pouco de Sol.

Foi lá que a encontrou. Ainda em uma boa distância, parou para observá-la. A morena estava deitada de olhos fechados e bem tranquila. Os raios a iluminavam e tudo ao redor parecia bem mais vivo, uma claridade anormal. Típica de sonhos, presumiu.

Decidiu, então, caminhar até ela.

Os pés de Adora pareciam mais firmes no chão, sentia mais o ambiente, podia sentir o cheiro de mato e também a brisa batendo em seu rosto. Tinha recuperado os sentidos nesse universo!

Assim que diminuiu a distância, sua presença foi logo notada, principalmente porque seu corpo fez sombra sob a outra mulher, algo que não acontecia devido sua condição de fantasma.

Catra abriu os olhos na mesma hora e os focou no rosto da loira. Estava incrédula.

– Como isso é possível, Gasparzinha? – A morena questionou já sentando no banco para melhor avaliar a situação.

Estava acontecendo mesmo? Quer dizer, não estava acontecendo por ser um sonho, mas, conseguiu entrar?

Adora não conseguia nem formular uma resposta. Estava ansiosa demais para testar suas capacidades de ser vivo temporariamente. Com medo de se decepcionar rápido demais, apostou baixo na primeira tentativa de usar o tato.

Decidiu primeiro tentar sentar no banco. Se ela não passasse direto, já era um sinal de que podia encostar em coisas.

Um passo bem próximo de poder encostar em pessoas. Ou melhor, na pessoa, na dona do sonho e de seu coração.

Assim que o fez, sua própria expressão era de espanto. Sentou-se e não ultrapassou o objeto. Estava lá, sentada, exatamente como a amiga do lado.

Como...? – Catra também estava espantada. Ao observar a cena, sua voz mal saiu.

Estava tudo indo tão bem que a loira tinha até receio de falar e acabar "acordando" do sonho compartilhado. Seu ato, portanto, não foi responder por voz. Ela apenas sorriu. Sorriu de ponta a ponta e jamais desviou os olhos dos da outra.

Aos poucos foi chegando mais perto e mais perto, deixando que sua mão esbarrasse levemente na de Catra, ambas apoiadas no banco.

O dedo mindinho da fantasma encostou nas costas da mão da morena. Depois, foi deixando cada um dos outros dedos fazerem a mesma coisa, até que sua mão inteira ficasse por cima da dela.

Aquele toque, aquela possibilidade... Foi a melhor sensação do mundo.

A muda da vez era Catra, que arregalava ainda mais os olhos heterocromáticos e só sabia olhar para as duas mãos sobrepostas boquiaberta.

– E aí? – A loira finalmente criou coragem e quase cochichou. – Consegue me sentir agora?

Depois de uns segundos em pane e congelamento, Catra voltou a funcionar. Da inércia nos movimentos até mesmo para respirar, foi para a euforia e um ato repentino de se jogar em seus braços para abraçá-la bem apertado.

Eu e o seu fantasmaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora