1.5 - Biscuit au Gingembre 🍪

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"Me diga, por que tenho essa sensação

De que você quer me fazer sua?"

🍪

Park Jimin

Lar é onde o coração está.

Eu, melhor do que ninguém, sei disso.

Até os meus seis anos de idade morei em um lar abusivo com um homem alcoólatra que me agredia, verbal, física e psicologicamente, todos os dias e uma mãe que não queria ter me dado a luz.

Quando aquele homem morreu, ela não pensou duas vezes antes de me jogar no primeiro beco escuro, como se fosse lixo, e sumir da minha vida.

Fui acolhido por um orfanato religioso, onde morei por um mês antes de ser adotado pelos Park. Meus pais, Park Eunji e Park Jongsu, já tinham um filho naquela época, Park Daniel, de três anos, por isso eram sempre questionados do porquê terem optado por adoção ao invés de simplesmente ter outro "filho de verdade".

Eu era muito pequeno, mas entendia o peso daquelas palavras.

Não existia diferença de tratamento entre meu irmão e eu, o carinho, os cuidados, as broncas, os presentes... era tudo igual, para ele e para mim. Mesmo assim, as pessoas de fora não me viam como filho de verdade.

Era sempre "o filho adotivo", "a criança que os Park pegaram para criar".

De algum jeito, esse problema parou de me incomodar com o passar do tempo e o resto da minha infância foi pacífica e muito feliz.

Mas, em uma noite gelada, em um final de semana fora do internato, quando eu estava para completar meus dezesseis anos, Daniel e eu saímos escondidos de nossos pais para jogar bola com uns amigos de longa data em um terreno baldio atrás de uma obra da prefeitura.

Nós jogamos até bem tarde da noite e, quando estávamos prontos para ir embora, um guarda apareceu. Não deveríamos estar ali, então a melhor solução foi sair correndo, meu irmão e eu nos separamos dos outros meninos em uma bifurcação e fomos em direção a avenida, rindo muito alto.

Nem eu, nem ele, vimos aquele carro se aproximar.

Um grupo de adultos alcoolizados voltava de uma festa, eles também não viram a gente.

Mesmo que todo mundo me diga que foi um acidente terrível, há apenas uma coisa que eu consigo me lembrar com clareza.

Segundos antes de sermos acertados, eu senti as mãos de Daniel nas minhas costas, me empurrando, em uma brincadeira.

Ele salvou a minha vida.

Muito mais que isso, na verdade.

De acordo com os médicos, se eu estivesse um único centímetro a mais embaixo daquele carro, teria sorte se tivesse perdido completamente o movimento das pernas.

E foi o que aconteceu com ele.

Meu irmão ficou paraplégico. Por minha culpa.

Passei um mês e meio internado e quando voltei para casa, meus pais me trataram normalmente, com o mesmo carinho e afeto de sempre, mas eu não conseguia agir como se nada tivesse acontecido. A culpa daquilo tudo era minha, eu devia ter sido mais responsável.

Meu irmão voltou para casa três meses depois, em uma cadeira de rodas.

Eu tentei pedir desculpas, ele disse que me odiava.

E eu nunca mais passei um final de semana em casa.

Por volta de três meses depois, eu comecei a receber ligações de Daniel, eu nunca atendi, nenhuma sequer. No começo, eu imaginei que ele eventualmente só desistiria e me esqueceria.

Pallete - As cores da almaWhere stories live. Discover now